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Linda Martini

Linda Martini

2013-10-12, Sala Tejo, Lisboa
Nero
8

Fala-se muitas vezes na serenidade que se instala nas fileiras antes das batalhas, das certezas do espírito bélico. Talvez fosse esse o estado em que estava mergulhada a Sala Tejo, repleta de gente com a certeza de que não iria ver uma banda lutar por nada, apenas revelar-se triunfal. E talvez os Linda Martini comungassem desta sensação quando, às 22h30, subiu ao palco.

“Ninguém Tropeça Nos Dias”, a introdução do novo álbum, “Turbo Lento”, é usada para equilibrar o som de palco e da própria sala, o crescendo instrumental serve perfeitamente este propósito. Então surge a brutalidade rítmica de “Juarez” que, no novo álbum, é um dos temas que assegura familiaridade na osmose que a banda tem sofrido na sua sonoridade, hoje mais dona de idiossincrasias próprias do que na altura de “Olhos de Mongol”, em que temas como “O Amor É Não Haver Polícia” são demasiado policiados pela devoção a Sonic Youth. Essa questão é mais desenvolvida também na nova “Panteão” e em “Nós Os Outros”, temas em que a voz de André Henriques faz prova de um ADN com descendência bastarda do sentido pop melódico de Carlos Paião e a tensão eléctrica dos ícones que dão nome ao tema seguinte, “Juventude Sónica”.

Repetindo uma ideia, importada da actuação no mainstage do Alive’13, a banda está cada vez mais “Linda”, a soar mais junta e menos protagonizada pelo óptimo baterista Hélio Morais, que também surgiu mais violento e menos disperso, ou seja, melhor e mais “colado” com a baixista Claúdia Guerreiro. É também notória a confiança nas linhas de guitarra de André Henriques e Pedro Geraldes, ainda que fique a ideia que o VOX AC30 deste não tenha, ontem, sido capaz de estar sempre à frente do som.

“Estuque” permite um abrandamento para redecoração, e então surge a sublime “Pirâmica” que, possivelmente, nunca virá a ter a popularidade de um single como “Ratos”, mas é um dos momentos de “Turbo Lento” que mais se exponencia ao vivo. Entre ambos os temas  calçamos os “Sapatos Bravos” e ficamos num estado “Febril” que nos coloca no ringue com “Belarmino”, combate ao qual se segue o “Tremor Essencial” – um tema único na discografia da banda, esta canção do novo álbum, percorrido por ventos de desert rock e algumas cores de psicadelismo. Foi também no bloco central da setlist que “Cem Metros Sereia” permitiu uma comunhão arrepiante com o público que bradou, durante longos momentos e a capella a intrigante exortação do tema: “Fo*** é perto de te amar se eu não ficar perto”.

Após o “Aparato” surge a “Mulher A Dias”. “Volta” termina a apresentação de “Turbo Lento” – um álbum que, como tantos outros, foi difícil de fazer e demorou tempo, nas palavras de André Henriques. Diz o ditado que “depressa e bem não há quem”, portanto mais vale esperar por um bom disco.

 

FOTOS: Catarina Torres