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Mark Lanegan @ TMN ao Vivo [01.04.12]

2012-04-01, TMN ao Vivo, Lisboa
Inês Barrau

Eram 22h00, em ponto, e a banda de Mark Lanegan subia ao palco do TMN ao Vivo. Uma sala cheia, pronta para receber esta voz tão inconfundível, quanto intensa. Uma personalidade pacata, discreta, que veio a Portugal pela primeira vez mostrar que a música ao vivo é mais do que uma boa performance – é respeitar a musicalidade que vem de dentro.

Mark Lanegan abre a noite, passando pela sombria “Gravedigger’s Song”, do seu mais recente trabalho, “Blues Funeral”. Um início perfeito, que iria dar lugar a um repertório também perfeito, visitando temas emocionantes como “Sleep with Me”, “Wedding Dress” e “One Way Street” – sendo este tema um dos momentos mais emocionantes da noite.

A banda que acompanhou Mark Lanegan, desenrolou um tapete fundamental para a interpretação vocal deste artista com ‘A’ grande. Aparte o terrível som saído da bateria, todos os defeitos foram abafados pela química entre Mark e o seu guitarrista, que ia trocando entre a Telecaster e uma Black Beauty (Les Paul)  – e que outras guitarras encaixariam com a voz de Lanegan?

Cerca de 40 minutos passam, e chegara a hora de explorar o novo álbum apresentando temas geniais, tais como “Quiver Syndrome”, “Gray goes Black” e “Ode to Sad Disco”. Uma fase da noite que encantou quem desconhecia até então o seu novo trabalho.

Ainda houve tempo para visitar um tema de Screaming Trees, para tocar um cover de Leaving Trains, e de repente durante aquele limbo entre o transe musical e a realidade, hora e meia de concerto havia passado… mas sabia a pouco.

Um senhor discreto, de raras palavras, com um semblante pensativo, e uma alma entregue à música, em fusão com músicos perfeitos, numa alquimia musical invulgar nos dias de hoje. O que se passou ontem no TMN ao Vivo foi pura música – onde a voz quente, intensa e por vezes perturbadora de Mark Lanegan ganha um protagonismo como que um John Wayne num western, repleto de dramas e duelos.  Este misto de rock e blues, 100% americano, consegue levar-nos em viagem a paisagens desertas, onde a solidão encaixa como que um pré-requisito para alcançar a perfeição, que só artistas como Tom Waits, Nick Cave e Mark Lanegan, parecem conseguir.

O fim aproxima-se. Depois do encore, Lanegan volta com “Pendulum” e “Methamphetamine Blues”. Os aplausos são intensos, e o respeito pelo que se passou naquele palco é impressionante. Não houve quem não saísse daquela sala com a alma cheia de música.

Mark Lanegan – o homem de negro, de voz intensa, que pisa o palco para fazer música, apenas. Obrigado!