Melvins: Há 40 anos a celebrar o metal mais abrasivo
2023-07-08, Capitólio, LisboaVinte anos após a sua estreia em Portugal, no festival de Vilar de Mouros, os Melvins regressaram ao nosso país para comemorar os quarenta anos de carreira. Ao Hard Club e Capitólio levaram o seu mais recente “Bad Mood Rising” e vários clássicos bem representativos do legado da banda de Buzz Osborne.
Em Fevereiro de 2020, a Rare Bird Books editou livro “Doomed to Fail: The Incredibly Loud History of Doom, Sludge, and Post-Metal”, do autor e músico J.J. Anselmi. Como o título indica, o livro debruçou-se sobre as origens, história e evolução dos sub-géneros musicais mais atmosféricos e opressivos em termos de peso sonoro. Naturalmente que um livro sobre este assunto não estaria completo sem um capítulo dedicado aos Melvins.
“Doomed To Fail” possui esse capítulo, com o pitoresco título “Sniffing Glue on Your Cousin’s Porch” e está repleto de citações do guru da banda, Buzz Osborne. «Bandas como os Flipper e os Black Flag andavam a namorar com a redução da velocidade de riffs hardcore quando os Melvins surgiram, mas isso não se compara, nem de perto, com os Melvins no que diz respeito ao peso», refere o autor Anselmi. «Ao mesmo tempo, os Melvins não eram uma banda doom. Ouvir “Gluey Porch Treatments” a par dos Trouble ou Candlemass, tornava bem clara a diferença entre o sludge e o doom. Os Melvins possuíam um intenso e definido espírito punk, o que tornou aquilo que faziam mais visceral e agressivo. Da mesma forma que se pode apontar “Black Sabbath” como o primeiro álbum doom, pode apontar-se “Gluey Porch Treatments” como o primeiro álbum sludge. É impossível imaginar o que seria esse género se esse álbum nunca tivesse existido. Dos Eyehategod aos Kylesa e tantos outros, os Melvins inspiraram inúmeras bandas e músicos a fazerem música inesquecivelmente pesada».
«Quando falei com o Buzz sobre “Gluey Porch Treatments”, fiquei pasmado por saber quão hostis eram as audiências para com esse álbum lendário. Também ouvi alguns fãs falarem sobre os Melvins a tocar para públicos bastante antagónicos ao longo dos anos. Tendo em conta essa banda e a sua música, isso significa que estavam a fazer algo como deve ser. “Gluey Porch Treatments” e muito outro material dos Melvins é pugilístico. É natural que as pessoas queiram ripostar».
Passados vinte anos da estreia dos Melvins em Portugal, e até ao passado dia 8 de Julho, certamente que eram poucos aqueles que ainda tinham esperança de voltar a ver, ou de ver pela primeira vez, a banda mítica de Buzz Osborne em terras nacionais. Mas com ajuda da Prime Artists, que tirou um autêntico coelho da cartola, a espera finalmente terminou. Vénia!
Mas com ajuda da Prime Artists, que tirou um autêntico coelho da cartola, a espera finalmente terminou. Vénia!
O mote da sua vinda prendeu-se com a celebração dos quarenta anos de carreira da banda, que muitos consideram ser a pioneira do sludge metal. Para tal, a celebração fez-se em dose dupla com o Porto a juntar-se a Lisboa na recepção aos Melvins.
Na bagagem trouxeram “Bad Moon Rising”, o mais recente trabalho editado em 2022. Contudo, este não foi o protagonista da noite, pois a comemoração das quatro décadas de carreira da banda pedia que se fizesse uma passagem pelos álbuns mais emblemáticos do grupo.
Aos portugueses Vircator coube-lhes a tarefa de entreter quem chegou cedo e ofereceram o seu post-rock. “Boostrap Paradox” é o mais recente registo de estúdio dos vianenses e foi editado no passado dia 31 de Março, através da Raging Planet. Um bom início de serão.
A divertida entrada em palco dos Melvins foi feita ao som de “Take on Me” dos a-ha e o alinhamento seguiu por momentos uma ordem cronológica com “Snake Appeal” de “Melvins” (1983) a abrir o concerto, seguida de “Zodiac” e “Copache” de “Bullhead” (1991) e “Houdini” (1993) respectivamente.
Antes de despachar as novas “Hammering” e “Never Say You’re Sorry” para daí até ao final apenas se focarem nos clássicos, houve ainda tempo para a cover dos Beatles “I Want to Hold Your Hand”. “Evil New War God” de “The Bride Screamed Murder” (2010) e “Let It All Be” de “The Bootlicker” (1999), representaram a sonoridade mais comercial dos Melvins. Enquanto “Your Blessened”, “Honey Bucket”, “Night Boat” e “Revolve” demonstraram que a época dourada dos Melvins é mesmo os anos 90. “Boris”, esse malhão sludge de oito minutos foi a escolhida para encerrar a festa que se fez curta, mas intensa.
Em termos de gear Osborne fez-se acompanhar das suas Electric Guitar Company King Buzzo Standard em dourado e acrílico, com um design algo semelhante a uma Travis Bean. Quanto à amplificação Buzz não inventa muito, são dois half stacks Marshall JCM 900 com duas colunas JCM 800 Lead – 1960. Em termos de pedais, o som abrasivo de Osborne é fruto da conjugação de um Boss DD-3 Digital Delay, um Hilbish Designs Melvins Pessimiser, um MXR M102 Dyna Comp e um Cry Baby Wah Wah. Já o baixista Steven Shane McDonald usou um Epiphone Vintage Pro Thunderbird em vermelho conectado a dois Darkglass Microtubes, um 500 V2 e um 900 V2 com uma coluna estilo Ampeg SVT-810E 8×10. Na sua pedaleira Shane apresentou um Xotix BB PreAmp, um Boss PH-2 Super Phaser, um EarthQuaker Devices Hizumitas e um Electro-Harmonix Pitch Fork.
«Não sei porque é que só agora é que viemos cá, ao fim de 40 anos. Vocês são altamente!» Nós também não sabemos Dale, mas é caso para dizer mais vale tarde do que nunca! Que bailarico. Voltem rápido.
SETLIST
- Snake Appeal
Zodiac
Copache
I Want to Hold Your Hand
Hammering
Never Say You’re Sorry
Evil New War God
Let It All Be
Blood Witch
Your Blessened
A History of Bad Men
Honey Bucket
Revolve
Night Goat
Encore:
Boris