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MEO Kalorama 2022: Um Pôr do Sol Melancólico com James Blake

MEO Kalorama 2022: Um Pôr do Sol Melancólico com James Blake

2022-09-01, MEO Kalorama, Lisboa
Miguel Grazina Barros
Inês Barrau
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Na primeira edição do festival lisboeta MEO Kalorama, James Blake actuou no palco principal e proporcionou adequadamente a banda sonora a um belo pôr do sol.

Pelas 19h uma vasta multidão aprontou-se perante o colossal palco MEO, o palco principal do Kalorama. Subiria ao palco o cantor, multi-instrumentista e produtor britânico James Blake. Com cinco álbuns a preencher a plenitude da sua discografia – sendo o mais recente “Friends That Break Your Heart” editado em 2021 – o músico ofereceu um espectáculo intimista, sincero e comovente, que ora oscilou entre sublimes baladas acompanhadas ao piano ou sintetizadores perfurantes, e batidas electrónicas dub e sincopadas num crescendo climáctico.

Do mais recente álbum, apenas uma canção “Say What You Will” integrou a setlist – momento alto do concerto em que o músico encorajou o público a harmonizar o refrão enquanto acompanhava ao piano, culminando numa longa nota em falsete que (as)segurou todo o seu poder vocal. No palco, dois músicos assumiram a sua posição: um baterista com uma bateria híbrida “acústica e electrónica” – uma Roland SPD ficou encarregue que disparar samples rítmicas, como é o caso de uma tarola carregada de delay que se fez ouvir em várias canções. Do lado esquerdo do palco, Rob McAndrews, aka Airhead, um multi-instrumentista que muitas das vezes esteve encarregue de transições, prelúdios e de construir uma “cama” textural electrónica que elevou o som a um patamar glorioso e imponente – para isso usou um setup com sintetizadores modulares com vários osciladores digitais e analógicos, módulos de reverb, delay e processamento granular, como é o caso do módulo de síntese granular da InstruoArbhar” visivelmente presente na sua rack. Um Mellotron também fez parte do material usado pelo mesmo músico. James Blake, por sua vez, esteve rodeado de um piano, um sintetizador Prophet 08 e um Prophet X, ambos sintetizadores da Sequential.

O décor do palco foi sóbrio, apenas uma faixa de luz led cujas cores mudavam sincronizadamente com as canções. Visivelmente comovido pela vasta multidão que marcou presença para o ver e ouvir (fez questão de agradecer e elogiar), James Blake entregou um alinhamento com alguns dos seus maiores êxitos – “Retrograde” e “Mile High” (canção que conta com a colaboração de Travis Scott, cujos versos foram disparados em playback). Ainda fizeram parte a versão mais icónica de Blake, “The Limit to Your Love”, original de Feist que catapultou o músico para a fama em 2010, e “Godspeed”, hino de Frank Ocean que também foi popularizado pelo cantar britânico.

Amo-vos muito a todos, obrigado

A voz doce e sensível, “arejada” mas capaz de fortes e longos falsetes (de notar o uso de vocoder à la Bon Iver) fizeram-se acompanhar por batidas dançantes, sintetizadores epopeicos e graves sublimes – talvez por vezes um pouco demasiado “despido” de instrumentação, enquanto a “cama” sonora do sintetizador modular não ocupava todo o espectro das frequências sonoras. Apesar do tamanho monumental do palco, James Blake conseguiu criar um ambiente intimista que agarrou a atenção dos espectadores durante uma hora de concerto.

Já sozinho no palco, Blake repara numa fã da fila da frente que segurava um cartaz a pedir a setlist: «Se vierem com um cartaz, recebem a setlist!», afirmou ao entregar a mesma, despedindo-se com um verdadeiro e sentido: «Amo-vos muito a todos, obrigado.»

SETLIST

  • Life Round Here
    Before
    The Limit to Your Love
    Say What You Will
    Love Me in Whatever Way
    Mile High
    You’re Too Precious
    CMYK
    Voyeur
    Retrograde
    Godspeed