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MEO Kalorama 2022: A Histeria Arctic Monkeys em Portugal

MEO Kalorama 2022: A Histeria Arctic Monkeys em Portugal

2022-09-09, MEO Kalorama, Lisboa
Miguel Grazina Barros
Inês Barrau
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A banda liderada por Alex Turner regressou pela nona vez a Portugal para marcar presença no segundo dia do novo festival lisboeta, o MEO Kalorama.

O segundo dia do MEO Kalorama ficou marcado pela grande multidão que marcou presença no parque da Bela Vista – multidão essa muito superior à do primeiro dia de festival. Afinal, trata-se do único dia que esgotou da primeira edição do festival, e os responsáveis foram certamente os Arctic Monkeys. Desde a sua formação na cidade inglesa de Sheffield em 2002, a banda conta com 6 álbuns de estúdio – todos eles bem representados no alinhamento desta noite. Desde o rock de garagem e a atitude irreverente punk que marcou “Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not” até ao mais recente “Tranquility Base Hotel & Casino” de 2018 cujas influências glam-rock e lounge pop motivam um arco narrativo digno de uma banda que não tem medo de evoluir e “crescer”, os Arctic Monkeys já provaram há bastante tempo que não estão aqui para agradar a toda a gente, aproveitando a viagem da sua carreira sem ficarem presos no passado. Quer se goste ou não da direção em que a banda caminha por estes dias, é inegável o sentido de progresso e maturação sonora e estética.

Pelas 22h30 – ainda a meia hora do concerto mais esperado da noite – já uma enchente impressionante marcava o seu lugar no anfiteatro natural da Bela Vista. Meia hora mais tarde, as luzes do palco MEO apagam-se e os gritos ensurdecedores de 40 mil espectadores ecoam enquanto Alex Turner, Jamie Cook, Nick O’Malley, Matt Helders e um outro membro de apoio nos teclados sobem ao palco. A banda estava pronta para iniciar um concerto repleto de êxitos do passado, algumas canções do álbum mais recente e ainda um breve vislumbre do futuro – “The Car” será o próximo álbum da banda com data de lançamento prevista a 21 de Outubro. O ritmo quaternário imposto pela bateria de Matt é sobreposto pelo poderoso riff de guitarra tocado por Alex Turner numa belíssima Vox Starstream de 12 cordas – “Do I Wanna Know?” é a escolha segura mas acertada para começar o concerto, cativando o público desde o começo com o sucesso mais radiofónico da sua discografia.

Alex Turner apresenta-se em palco com um visual bastante diferente do que no último concerto da banda em Portugal, no NOS Alive 2018 – o cabelo à la “Grease” e o fato diretamente de um filme policial dos anos 70 foram substituídos por uma postura mais relaxada – mas nunca desleixada – com um casaco verde de trabalho largo e um cabelo despenteado. O frontman nunca foi conhecido por ser excessivamente comunicativo com o público, mas a sua postura em palco demonstra confiança e uma seguridade de quem sabe exatamente o que está a fazer – de recordar uma das primeiras aparições da banda na televisão, onde tocaram “I Bet You Look Good On The Dancefloor” em 2006 e Alex se dirigiu à plateia com a icónica frase “Não acreditem no hype“.

O público reage de maneira eufórica a quase todas as canções, mas existe um efeito etático notável em relação às faixas pré-2010 e pós-2010

“Brianstorm” é a segunda canção a ser disparada, uma explosão rock diretamente de 2007 que juntamente com a frenética “Teddy Picker”, “The View From The Afternoon”, “From The Ritz to the Rubble”, “Library Pictures” e finalmente “I Bet You Look Good on the Dancefloor” asseguraram um alinhamento que seguramente satisfez quem não gosta da postura contemporânea da banda e prefere a crueza do rock indie de garagem que marcou o início de carreira dos Arctic Monkeys. Se a banda admitiu que tocar algumas das suas canções antigas é realmente difícil devido à sua natureza altamente energética e riffs rápidos, durante a actuação no Kalorama essa dificuldade não foi aparente – os Arctic Monkeys são uma banda verdadeiramente profissional no que toca a dar concertos. Apesar disso, as canções mais antigas foram tocadas mais lentamente do que nos discos, uma escolha deliberada que já não é novidade nos seus concertos.

O público reage de maneira eufórica a quase todas as canções, mas existe um efeito etático notável em relação às faixas pré-2010 e pós-2010 – o famoso álbum de 2013 “AM” foi o responsável por catapultar a banda ao mainstream e as canções que integram o disco são recebidas ainda com mais entusiasmo. “Cornerstone” foi um marco na música indie para a sua geração, e a balada não podia faltar no alinhamento – a voz de Alex Turner está consideravelmente bem preservada e demonstra uma evolução e controlo extraordinário, especialmente nos graves com o vibrato distinto. «Obrigado»,  exclamou Alex por entre canções, com uma pronúncia digna de quem já conhece bem Portugal. “Tranquility Base Hotel + Casino” e “One Point Perspective” encerraram o catálogo do álbum de 2018, canções entregues com uma estética lounge que caracteriza todo esse disco. Ainda houve tempo para estrear “I Ain’t Quite Where I Think I Am”, canção funky promissora do próximo álbum que o público abertamente recebeu com entusiasmo.

“Knee Socks” teve direito a um momento épico e climático com um outro à la “Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not”, onde o herói Matt Helders na bateria conseguiu brilhar e impressionar mais uma vez – o baterista é sem dúvida um dos elementos que mais impressiona na banda, enquanto toca energeticamente e proporciona backing vocals em falsete ao mesmo tempo com uma descontração admirável.

Cerca de uma hora de concerto foi o necessário para outro êxito ser tocado – “505”, a canção que apenas com dois acordes tocados num Rhodes consegue levar a multidão à loucura. A banda abandona momentaneamente o palco, mas o público não os deixaria abandonar o concerto tão cedo. Seguiram-se três canções que completaram o encore, incluindo “Arabella” e o hit que não podia faltar “R U Mine?”, que encerrou um dos melhores concertos que passou no palco principal da primeira edição do novo festival.

SETLIST

  • Do I Wanna Know?
    Brianstorm
    Snap Out of It
    Crying Lightning
    Teddy Picker (não tocada ontem, em Espanha)
    Potion Approaching
    The View From the Afternoon
    Cornerstone
    That’s Where You’re Wrong
    Library Pictures (não tocada ontem, em Espanha)
    Tranquility Base Hotel + Casino
    Why’d You Only Call Me When You’re High?
    I Ain’t Quite Where I Think I Am
    Do Me a Favour
    From the Ritz to the Rubble
    I Bet You Look Good on the Dancefloor
    Knee Socks
    505
  • Encore:
  • One Point Perspective
    Arabella
    R U Mine?