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MEO Kalorama 2023: Siouxsie, Para Sempre a Rainha do Rock Gótico

MEO Kalorama 2023: Siouxsie, Para Sempre a Rainha do Rock Gótico

2023-09-02, MEO Kalorama, Lisboa
Rodrigo Baptista
Ana Rocha Nene
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Sob uma claridade deveras incompatível com a sua música de cariz notívago, Siouxsie regressou a Portugal, passados 28 anos, para demonstrar que o legado musical, e a postura irreverente, que construiu nas décadas de 70 e 80 ainda estão bem conservados.

[Não foi dado acesso para habitual reportagem fotográfica]

Quando o MEO Kalorama anunciou os horários para a edição de 2023 foram muitos os que prontamente acorreram às redes sociais para criticar a nomeação de um horário diurno para a atuação de Siouxsie. Com isto várias questões se levantaram: Será que dado o seu estatuto e legado, Siouxsie não merecia uma posição no alinhamento mais tardia, mesmo que esta implicasse mover a artista para o Palco San Miguel?;  Como é que a sua música post punk/ rock gótico com uma estética a puxar para uma certa soturnidade iria resultar num concerto em plena tarde e com um sol radiante?; Será que o público iria saber receber Siouxsie, tendo em conta que esta é uma artista de legado e que nunca se compatibilizou com as convenções mainstream?

Todas estas questões acabariam por ser respondidas ao longo de uma atuação que durou cerca de 1h e que teve inicio ao som de “Aquário”, o sétimo movimento da obra ” O Carnaval dos Animais” do compositor francês Camille Saint-Saëns. Com uma setlist maioritariamente composta por temas do período dos Banshees, onde apenas foram tocados dois temas do primeiro e único álbum a solo de Siouxsie, “Mantaray” (2007), foi com “Night Shift” de “Juju” (1981) que a banda deu início à atuação. Logo às primeiras notas instrumentais repletas de melancolia e breu percebemos que iria ser difícil experienciar aquele concerto como ele certamente teria sido pensado. À componente musical juntaram-se várias projeções de auroras boreais que apenas intensificaram essa conclusão.

A resposta à primeira, e segunda, questão não nos surgiu logo após o concerto de Siouxise, mas sim no fim do festival, depois de termos visto outros artistas nos outros palcos. Chegámos assim à conclusão que teria sido eventualmente mais proveitoso para Siouxsie se tivesse trocado o horário e a localização da sua atuação com os suecos The Hives, que subiram ao palco San Miguel por volta das 21:30. Desta forma, a artista britânica teria tido a oportunidade de apresentar-se à noite e perante uma assistência mais conhecedora e dedicada, já os The Hives beneficiavam ao levar o seu rock ‘n’ roll enérgico para o Palco MEO, isto porque no San Miguel a afluência foi tanta que muitos não conseguiram ver o concerto nas melhores condições.

Desta forma, a artista britânica teria tido a oportunidade de apresentar-se à noite e perante uma assistência mais conhecedora e dedicada, já os The Hives beneficiavam ao levar o seu rock ‘n’ roll enérgico para o Palco MEO

Mas regressemos ao concerto de Siouxsie. Com o seu macacão prateado num estilo sci-fi meets gothic a cantora atirou-se de seguida a “Arabian Knights”. Com os seus movimentos corporais muito próprios demonstrou que apesar dos seus, já avançados, 66 anos continua a apresentar um espírito jovem e uma vivacidade que se traduzem numa atuação dinâmica. Vocalmente, é certo que Siouxsie já não tem a mesma capacidade de outros tempos, mas as suas limitações nesse aspeto não comprometem de todo a sua performance.

O groove noir de “Here Comes That Day” foi a primeira visita a “Mantaray”, um trabalho muito interessante, a puxar para uma estética mais pop, e que ao longo dos anos ficou algo ofuscado pela discografia dos Banshees. Já “Kiss Them for Me” de “Supersition”(1991), o penúltimo álbum com os Banshees antecipou “Dear Prudence”, a faixa do “White Album”( 1968) que já é tanto de Siouxsie como é dos The Beatles.

Por esta altura já íamos sensivelmente a meio do concerto e a reação que provinha do público, apresentava-se pouco calorosa, a exceção prendia-se com as primeiras filas junto ao palco onde estavam presentes os fãs mais conhecedores e dedicados. Porém, muitos deles tiveram uma visibilidade algo reduzida, fruto de uma plataforma montada para este dia junto à boca de palco e que reduzia em muito o ângulo de visão daqueles que estavam precisamente ao centro. Siouxsie com o seu sentido humor britânico ripostou contra aquela estrutura e pediu desculpa aqueles fãs por uma situação que não era de todo da sua responsabilidade.

“Face to Face” invocou o lado felino de Siouxsie com dois grandes olhos de um gato vigilante a surgirem na tela de fundo. Já “Land’s End” antecipou o maior clássico dos Siouxsie and The Banshees, “Spellboud”, este sim reconhecido pela maioria e cantado por uma falange considerável do público. O concerto prosseguiu já na sua reta final com “Sin in My Heart” onde Siouxise dedilhou uma Vox Mark III aka Vox Teardrop e com “Happy House”, com a cantora num ato de rebeldia a mandar o tripé do microfone para o fosso e quase a acertar num segurança. “Cities Dust” e “Into a Swan” foram as escolhidas para encerrar o curto ritual que certamente foi de iniciação para muitos e possivelmente de despedida para todos os que no MEO Kalorama testemunharam essa lenda vida da música alternativa que é Siouxsie.

SETLIST

  • Night Shift
    Arabian Knights
    Here Comes That Day
    Kiss Them For Me
    Dear Prudence (The Beatles Cover)
    Face To Face
    Land’s End
    Spellbound
    Sin in My Heart
    Happy House
    Cities in Dust
    Into a Swan