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NOS Alive 2023: A Classe Minimalista dos Arctic Monkeys

NOS Alive 2023: A Classe Minimalista dos Arctic Monkeys

2023-07-07, Nos Alive, Lisboa
Rodrigo Baptista
Arlindo Camacho | EIN
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Sem sequer ter passado um ano da sua última passagem por Portugal, os Arctic Monkeys regressaram a Lisboa para apresentar o novo “The Car”. Cada vez mais experientes e requintados, a banda de Alex Turner faz agora parte de uma liga onde poucos conseguem chegar, a liga das “bandas de estádio” que arrastam dezenas de milhares de pessoas. Serão os Arctic Monkeys uma das maiores bandas de rock do mundo nascidas no séc. XXI?

[não foi permitido à Arte Sonora a habitual captação de imagens]

A génese dos Arctic Monkeys deu-se em meados de 2002 na cidade de Sheffield, no Reino Unido, quando o guitarrista e vocalista Alex Turner , o baterista Matt Helders e o baixista Andy Nicholson , vizinhos e colegas de escola com 17 anos, se juntaram para formar uma banda. Pouco se sabe sobre estes primeiros meses da banda, sabe-se sim que reuniram mais um guitarrista, Jamie Cook, de 18 anos, e que o nome Arctic Monkeys surgiu através de Cook, como uma brincadeira e trocadilho com as palavras “northern monkey”, um termo depreciativo para alguém do norte de Inglaterra.

Na altura os intensos ensaios da banda decorreram durante seis meses nos Yellow Arch Studios, em Neepsend até chegar a data do primeiro concerto de sempre da banda, que decorreu a 13 de Junho de 2003 no The Grapes, em Sheffield, a abrir para os The Sound.

Ao relembrar o momento, Alex Turner disse ao Telegraph em 2013: «Tínhamos praticado muito, e para nós foi muito importante tocar em algum lugar. Eu nunca tinha estado num palco na minha vida antes disso. Acho que não abri os olhos durante todo o set. Mas aqueles 25 minutos – uau.»

Passados vinte anos, os Arctic Monkeys cresceram, estão maiores do que nunca, e os concertos em pubs para 60 pessoas transformaram-se em concertos de estádio para 60 000 pessoas. Prova disso, são, por exemplo, os três concertos que a banda deu recentemente no Estádio Emirates em Londres e os dois que deu no Estádio Old Trafford em Manchester. Em Portugal, a banda ainda não conseguiu ter a oportunidade de se apresentar nestes moldes, mas as passagens como cabeça de cartaz pelo MEO Kalorama em 2022 e agora pelo NOS Alive vislumbram que esse concerto em nome próprio em Portugal pode estar para breve.

Ao Alive, os Arctic Monkeys trouxeram “The Car”, o seu sétimo disco de estúdio editado em Outubro de 2022, desta forma não é de estranhar que depois de “AM” (2013) este tenha sido o mais representado na setlist.

Contudo, a jarda que esperávamos veio de seguida com “Brainstorm”, já com Alex Turner a empunhar a sua Epiphone Coronet e a partir para um dos riffs mais icónicos e eletrizantes do indie rock.

Foi com um cenário minimalista, e até a remeter para um ambiente algo retro, que Alex Turner e Co. fizeram-se ao palco para dar-nos as boas-vindas com “Sculptures of Anything Goes”, uma escolha arrojada, pois trata-se de uma faixa lenta e mais contemplativa. Mas os fãs dos Arctic Monkeys, ao contrário dos de outros, não precisavam de ser acordados, pois a expectativa já estava em alta desde a abertura das portas do festival, e qualquer tema que banda tocasse a abrir serviria para ganhar o público. Contudo, a jarda que esperávamos veio de seguida com “Brainstorm”, já com Alex Turner a empunhar a sua Epiphone Coronet e a partir para um dos riffs mais icónicos e eletrizantes do indie rock.

Homem de poucas palavras, Turner prefere que seja a música a falar por si e malhas como “Snap Out Of It” de “AM”, “Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair” de “Suck It and See” (2011) ou “The View From the Afternoon” do álbum de estreia “Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not” (2006) fizeram-no tão bem. Alex vai também alternando ao longo do concerto entre dois registos que nos remetem esteticamente para a década 50, primeiro quando se apresenta só ao microfone, como acontece nas faixas “Four Out Of Five” ou “Cornerstone”, onde invoca uma postura estilo crooner do rock ‘n’ roll , depois em faixas mais elétricas e onde recorre à sua guitarra, como é o caso de “Fluorescent Adolescent” ou “505”, onde parece invocar o seu inner Elvis.

Com a chegada de “Do I Wanna Know?” limitámo-nos a ficar hipnotizados por aquele riff tocado por Alex Tuner na sua Vox Starstream XII. O riff, sem dúvida um dos melhores da história do rock, consegue ser tão simples, mas ao mesmo tempo tão sublime. Numa articulação perfeita entre melodia, groove e tone, o tema vai buscar todos os elementos que fizeram de uma “Seven Nation Army”, dos The White Stripes, um hino à escala mundial. Este é daqueles temas que Alex nem sequer precisa de cantar, pois até o simples festivaleiro curioso, que anda apenas a passear e a tirar selfies, reconhece e debita a letra por completo. Alguns fãs mais acérrimos dizem que a faixa já se tornou tão grande e tão popular entre as massas ao ponto de se tornar algo cansativa e banal. Ao fim e ao cabo é a “Nothing Else Matters” dos Arctic Monkeys, e se a banda não a tocar em todos os concertos serão mais as vozes que ripostarão do que propriamente aquelas que não se importarão de não a ouvir pela enésima vez.

A contemplativa “Body Paint” fechou o set principal do concerto na mesma toada em que este tinha começado, ou seja, com um tema de “The Car” num registo pausado e melancólico. Seguiu-se uma pequena pausa antes da banda regressar a palco para a romântica “I Wanna Be Yours”, a cover de John Cooper Clarke que os Arctic Monkeys lançaram em “AM”. Já “I Bet You Look Good on the Dancefloor” colocou todos a gingar antes de “R U Mine?” fechar a noite de forma apoteótica como uma questão retórica. É claro que Alex Turner sabe que todos os que estão presentes são seus, e há de ser assim sempre que os Arctic Monkeys pisarem um palco português.

SETLIST

  • Scupltures Of Anything Goes
    Brianstorm
    Snap Out Of It
    Don´t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair
    Crying Lightning
    The View From The Afternoon
    Four Out Of Five
    Cornerstone
    Why’d You Only Call Me When You’re High?
    Arabella
    I Ain´t Quite Where I Think I Am
    Pretty Visitors
    Knee Socks
    Do I Wanna Know?
    There’d Better Be A Mirrorball
    505
    Body Paint
    I Wanna Be Yours
    I Bet You Look Good On The Dance Floor
    R U Mine?