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MIL’18: Boogarins, Ermo, Sampladélicos, Iguana Garcia, Nerve, Phoenician Drive

MIL’18: Boogarins, Ermo, Sampladélicos, Iguana Garcia, Nerve, Phoenician Drive

2018-04-05, Vários locais, Cais do Sodré
Pedro Miranda
MabilleTamala | MIL 2018
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A segunda edição do festival lisboeta de networking musical apresentou-se com visíveis melhorias para festivaleiros e profissionais, ainda que alguns problemas tenham persistido.

A aposta em tudo o que possui a música de inovador e a fuga ao consensual são, já se tornou claro, noções que estão na génese daquilo que é o MIL – International Music Network, festival que celebrou este mês a sua segunda edição em Lisboa. Em parceria com diversas salas de concertos da baixa capital e tantas outras marcas internacionais de promoção e divulgação musical, este ano o MIL apresentou-se novamente como um espaço de networking para profissionais e de descoberta musical para fãs casuais. De momento, parece óbvio que há tantos motivos para celebrar o seu sucesso quanto para pedir melhorias num eventual futuro, mas as razões parecem suficientes para torcer por esse retorno atempado.

Se este tipo de festivais fosse perfeito, haveria bons motivos para crer que uma série de artistas deste primeiro dia de MIL estaria encaminhada para uma volta de sucesso nos festivais internacionais. Falamos, por exemplo, de Boogarins (Musicbox), a grande atracção desta edição, ou de Ermo (Rive Rouge) (foto de destaque), dois artistas que, a seu passo e desprovidos de grandes campanhas de marketing, foram sedimentando nos últimos anos o seu nome como sinónimo de competência e exploração musical e que, não por acaso, apresentaram dois dos melhores espetáculos ao abrigo do nome do MIL. Cientes, como estamos, de que é esse mesmo o papel proposto pelo evento (o de proporcionar visibilidade a pequenos artistas e, no processo, grandes negócios a quem por eles procura), resistimos a reconhecer evidências de que isso esteja, na prática, a suceder em função deste networking e em benefício dos músicos e da música.

Boogarins

Mas talvez possa vir a ser esta, no futuro, uma das grandes marcas de assinatura do festival: a união entre os olheiros do grande poder comercial na esfera musical e os talentos em bruto que esperam pela oportunidade de serem abraçados por essa esfera. Conseguimos mesmo pensar em alguns nomes menos óbvios do que os supracitados que cairiam facilmente nas boas graças de um qualquer festival de nicho: o rock instrumental com raízes no post-rock e no afrobeat dos belgas Phoenician Drive, uma digna exibição no B.Leza, ou o obtuso e inovador espetáculo de Sampladélicos, que musicam a paisagem rural portuguesa e fazem dela música, apoiados em samples de conversas, melodias e sons de objectos cujo correspondente visual vai sendo projectado em simultâneo. Esta perspectiva, próxima do ideal, parece-nos, de momento, infelizmente algo distante para estes músicos de pequeno porte e edição independente.

Phoenician Drive

Sampladélicos

Mas talvez possa vir a ser esta, no futuro, uma das grandes marcas de assinatura do festival: a união entre os olheiros do grande poder comercial na esfera musical e os talentos em bruto que esperam pela oportunidade de serem abraçados por essa esfera.

Ainda assim, em termos puramente estéticos, não se pode dizer que a curadoria deste primeiro dia tenha sido menos do que bem calibrada, não obstante o facto inevitável de alguns nomes terem causado melhor impressão que outros. O kraut mesmerizante de Iguana Garcia parece não ter sido potenciado ao máximo pelo potencial do pequeno espaço do Viking, assim como a distinta estirpe de hip-hop de Nerve, que apesar de mal aproveitada em termos sonoros confirmou o elogio preconizado por António Brito Guterres numa conferência dedicada ao hip-hop, no dia anterior: pode não vender muitos discos ou ter muitas visualizações, mas canta sempre para casa cheia, com outros tantos a ficar à porta. Esta valorização do underdog, ainda que momentânea, conta-se para já como uma das maiores vitórias do MIL até ao momento.

Iguana Garcia

Nerve

Se há algo que encarecidamente se pede à organização deste festival que, já o dissemos, é acolhido como louvável adição ao panorama musical lisboeta, é que se defina por uma das suas vertentes (profissional/comercial), ou que de alguma forma as concatene de maneira mais eficaz. O complexo sistema hierárquico de pulseiras do MIL pode ser vantajoso a quem dele participe em trabalho ou com Pro Ticket, mas em última análise o prejudicado é o comum mortal que, entre as deslocações, salas cheias e filas de espera é, regra geral, o mais prejudicado. Que o festival se paute pelo trabalho de networking não constitui nenhum pecado, mas o facto de ser simultaneamente vendido para o exterior como um festival-como-qualquer-outro para que depois o seu usufruto seja comprometido é uma questão manifestamente diferente.