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Nick Cave & The Bad Seeds

Dig, Lazarus, Dig!!!

Parlophone, 2008-03-03

Nero

Ao segundo álbum sem Blixa Bargeld os Bad Seeds surgem absolutamente recompostos da saída do criativo músico alemão. O álbum surgia num contexto de pouco pretensiosismo ao ser anunciado como um simples retorno ao som e estética do inicío de carreira, em que era regido por uma vibração quase punk, mas isso era um bluff de Nick Cave – este não é um trabalho de regresso ao som de garagem dos primeiros trabalhos do músico, é antes um álbum de rock cheio de exuberância, inovador uma vez mais e ainda com muitas incursões na estética psicótica e suja de álbuns como “Murder Ballads”, ou mesmo a banda sonora que Nick Cave criou com Warren Ellis para o western “The Proposition”.

“Dig Lazarus Dig” será um regresso a esses primeiros tempos da carreira, mas apenas na dinâmica directa e marginal das músicas, mas essas foram sempre características dos registos de Nick Cave & The Bad Seeds, pelo menos a última. A questão é diptíca, como quase sempre sucede também, marginalidade com o charme de temas como a faixa título ou “We Call Upon The Author” ou então, a marginalidade obscura de temas como “Night Of The Lotus Eaters”. A vibração mais pacífica de trabalhos como “The Boatman’s Call” é neste trabalho conjugada com a agitação emocional de “Nocturama” por exemplo.

Como sempre, a impressionante escrita de Nick Cave cria conceitos de violência, de redenção, de perda e de uma esperança obscura, condenada, em personagens endurecidos envolvidos por essa atmosfera única que a música de Nick Cave consegue criar: o paradoxo de que a violência ou as sombras também transportam beleza. É isso que distingue os trabalhos do australiano no prevísivel, e consequentemente chato, meio mainstream que antingiu. “Dig Lazarus Dig” continua com o que surpreende sempre em Nick Cave & The Bad Seeds, essa criatividade que apresentam álbum após álbum e que, no entanto, surge sempre sustentada por bases alicerçadas numa simplicidade blues e jazz e mesmo folk – de facto, ao partir destes pressupostos os músicos conseguiram criar uma identidade sonora que permite explorar-se a si própria sem nunca ser abalada, por mais camadas que lhe sejam auto-incutidas.