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NOS Alive 2022: Anáfora Em Forma de Alt-J

NOS Alive 2022: Anáfora Em Forma de Alt-J

2022-07-14, NOS Alive, Lisboa
Miguel Grazina Barros
Inês Barrau
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Pela quarta vez no festival em Algés, os Alt-J provaram a sua relevância e arrecadaram uns quantos novos admiradores.

Em 2018, o trio britânico Alt-J subia ao palco da Altice Arena para apresentar o seu álbum “Relaxer”. Em pleno 2022, a banda desvendou o mais recente projeto “The Dream“, que conta histórias inspiradas em crimes reais de Hollywood e do Chateau Marmont que convivem com alguns momentos pessoais vividos pela banda. Depois de um épico concerto de Florence + The Machine, a maioria da plateia do palco principal do NOS Alive ainda recuperava o fôlego de tanto dançar. Seguiram-se os veteranos Alt-J – especialmente veteranos no público português – mas terão sido a escolha acertada para fechar a noite?

Joe Newman na guitarra e na voz (a distinta voz), Thom Sonny Green na bateria acústica e Gus Unger-Hamilton nos teclados e na voz. É esta a formação infalível que, apesar dos escassos membros em palco, não se deixa intimidar por plateias gigantes e consegue sempre superar sonicamente as expectativas.

“Every Other Freckle” conseguiu definitivamente quebrar o gelo, um clássico da banda que levou o público à euforia.

“The Actor”, canção do mais recente álbum lançado em 2022 abriu o concerto de duraria uma hora. A canção não gerou grande reação por parte do público, talvez por se tratar de um tema muito recente. “Every Other Freckle” conseguiu definitivamente quebrar o gelo, um clássico da banda que levou o público à euforia. Com uma Fender Telecaster na mão, Joe Newman demonstra uma sensibilidade incrível na voz, que preenche com a guitarra como se se tratassem do mesmo instrumento, por vezes trocando a guitarra por um baixo, como em “Tesselate”.  Gus Unger-Hamilton acompanha na voz, normalmente nos refrões (mas nem sempre) ou num registo mais controlado. Utiliza também o fiel companheiro de palco Nord Lead e um teclado Arturia Keylab 61 para tocar os soft-synths, com recurso aos pads para disparar samples ao vivo – embora a banda tivesse a ganhar com o uso de sintetizadores reais (talvez se tivessem mais um membro em palco). “Obrigado!” exclama Gus, com um sotaque digno de quem já conhece Portugal bastante bem. “In Cold Blood” introduz um rock alternativo com um teclado semelhante a um Vox Continental, popularizado por Ray Manzarek, cujo riff arpegiado é acompanhado em uníssono pelo público.

“Tesselate”, “Matilda”, “Something Good”, a canção que ganhou nova vida no TikTok “Fitzpleasure” arrancam as maiores reações do público. Os Alt-J conseguem alternar entre o acústico, a electrónica, as pausas a cappella e o electro-acústico como ninguém, e fazem-no com a maior elegância possível. Três pessoas em palco são a prova que a simplicidade e a escrita genial de canções conseguem ser suficientes (e mais!) para o palco principal do NOS Alive. Ainda assim, seria interessante vê-los em ambiente mais orquestral, substituindo as samples disparadas por músicos em palco – certamente as canções teriam a ganhar com mais instrumentação.

Ainda assim, seria interessante vê-los em ambiente mais orquestral, substituindo as samples disparadas por músicos em palco.

“Chicago”, também do novo álbum, apresenta uma batida 4/4 sustentada por falsetes e guitarras hipnóticas que conseguem pôr o público a dançar, mas foi com “Breezeblocks” – o maior sucesso entre sucessos – que o concerto chegou ao fim em clímax. Foi um concerto que não falhou em nada, mas teriam a ganhar se tivessem actuado mais cedo no alinhamento.