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NOS Alive 2022: O Tradicionalismo Contemporâneo do Expresso Transatlântico

NOS Alive 2022: O Tradicionalismo Contemporâneo do Expresso Transatlântico

2022-07-07, NOS Alive, Lisboa
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
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Perante um público à descoberta, o Expresso Transatlântico brindou o palco WTF Clubbing com uma atuação carismática e plena de intenção.

Formados em 2019, o grupo instrumental Expresso Transatlântico, composto por Gaspar Varela na guitarra portuguesa, Sebastião Varela na guitarra elétrica e Rafael Matos na bateria, tem se revelado um dos projetos mais interessantes a emergir da cena musical lisboeta. Aliando tradição à modernidade, o Expresso Transatlântico apresenta-se como incatalogável do ponto de vista estílico, podendo-se afirmar que a sua música é caracterizada por uma miscelânea sonora que abrange elementos que vão desde o fado ao rock, passando pela música brasileira, africana e ainda pelas bandas sonoras western, ou não fossem eles os grandes herdeiros do legado dos Dead Combo.

A enigmática “Primeira Rodada” deu o pontapé de saída, contudo o primeiro momento de destaque apenas surgiu em “As Ladras” quando Gaspar Varela, em jeito de rockstar, ou melhor, fadostar, decidiu desafiar todas as normas relativas à arte de tocar guitarra portuguesa

Pouco passava das 18:40 quando o Expresso Transatlântico, juntamente com Zé Cruz no trompete e teclados e Tiago Martins no baixo, subiu ao palco. Apesar da tenda do WTF Clubbing apresentar uma considerável capacidade, o clima vivido foi de alguma intimidade, justificado pela proximidade e informalidade com que o grupo nos apresentou a sua sonoridade algo exótica. Ao NOS Alive, o Expresso Transatlântico trouxe o seu primeiro trabalho de estúdio, o EP homónimo, que foi tocado na integra. A enigmática “Primeira Rodada” deu o pontapé de saída, contudo o primeiro momento de destaque apenas surgiu em “As Ladras” quando Gaspar Varela, em jeito de rockstar, ou melhor, fadostar, decidiu desafiar todas as normas relativas à arte de tocar guitarra portuguesa ao partir para um extasiante solo de slide guitar no chão do palco, transformando assim a sua guitarra portuguesa numa espécie de lap steel.

Seguiram-se outros momentos de relevo, como foi o caso do tema “Azul Celeste”, certamente dedicado à avó de Gaspar e Sebastião, Celeste Rodrigues, e que surgiu aqui anexado a uma interessante introdução baseada na peça “Mudar de Vida” de Carlos Paredes ou ainda uma versão algo ousada da “Canção de Embalar” de Zeca Afonso que permitiu ao trompete de Zé Cruz ecoar de forma hipnótica e cristalina. Para o fim ficou guardado o fado western “Alfama,Texas”, um tema que combina a música popular e bairrista de Lisboa com composições inspiradas no imaginário do faroeste americano.

Ao todo foram cerca de 40minutos de concerto que souberam a pouco. No entanto, e a julgar pela reação do público, parecem ter sido suficientes para demonstrar toda a qualidade e autenticidade do Expresso Transatlântico. Para nós, que já testemunhávamos o potencial do grupo há já alguns meses resta-nos dizer: Venha de lá esse primeiro álbum!

SETLIST

  • Primeira Rodada
    Anda ao Mar
    As Ladras
    Azul Celeste (Intro. Mudar de Vida)
    Malha Nova Sem Nome
    Quando Neptuno deu à Costa
    Canção de Embalar (Cover Zeca Afonso)
    Solo Gaspar Varela
    Alfama, Texas