NOS Alive 2023: Machine Gun Kelly & Chapada de Luva Branca do Novo Astro do Pop Punk
2023-07-08, Nos Alive, LisboaContra todos os haters, Machine Gun Kelly estreou-se finalmente em Portugal no NOS Alive perante um público dividido e demonstrou que tem pergaminhos para figurar e ser respeitado dentro da cena rock. Com ele trouxe grandes hinos do pop punk contemporâneo, temas que remetem para o início da sua carreira enquanto rapper e uma banda com boas competências.
Estávamos em 2018 quando Machine Gun Kelly (MGK) lançou “Rap Devil”, um recado em forma de música (diss song) a Eminem como resposta à música “Not Alike”, onde Kelly já tinha sido referenciado pelo Slim Shady. Nesta faixa MGK acusa Eminem de tentar acabar com a sua carreira, depois de ter tomado conhecimento de um comentário que Kelly fez em 2012 sobre a sua filha. A guerrilha continuaria com mais uma resposta de Eminem, desta vez na forma de “Killshot”, um single cuja capa mostra a cara de MGK enquadrada numa mira.
Dada a relevância e o estatuto que Eminem apresenta na cena hip hop internacional foram muitos os que ficaram do seu lado, e não tardou para que MGK começasse a ser colocado à margem por grande parte da indústria da música. Com muitas portas fechadas e sem o apoio dos meios de comunicação, que nunca foram muito à bola com a postura e estética musical do rapper, MGK teve que ir em busca de novos caminhos para salvar a sua carreira. O primeiro vislumbre de uma possível nova vida musical surgiu em 2019, quando lançou o seu quarto álbum “El Diablo”, que continha entre as várias faixas a música “I Think I’m OKAY”, uma malha pop punk que conta coma participação do cantor alternativo Yungblud e do “Padrinho do Pop Punk” Travis Barker, baterista dos Blink 182.
MGK rapidamente percebeu que existia ali algum potencial que poderia ser explorado mais a fundo, mas a ideia acabou por ficar em aberto. Até que em 2020, após a chegada da pandemia e do confinamento, MGK se fechou em casa e começou a passar o tempo a redescobrir o seu gosto pela guitarra. Seguiram-se as “Lockdown Sessions”, onde surpreendeu tudo e todos com uma cover de “Misery Business” dos Paramore, mais uma vez com a participação de Travis Barker. Os fãs apreciaram a sua performance e instigaram MGK a explorar mais este estilo. “Bloody Valentine” foi a primeira música a surgir e Barker foi rapidamente contactado para entrar em estúdio para gravá-la com MGK.
As sessões de “Bloody Valentine” foram tão proveitosas que MGK decidiu convidar Barker para tocar e produzir um álbum completo. Durante dois meses, os dois músicos fecharam-se no estúdio para compor e gravar o álbum que acordou todo um género musical há muito adormecido, o pop punk.
“Tickets To My Downfall”, foi então editado em Setembro de 2020. Desta vez a crítica teve pouco por onde pegar, pois estávamos perante um álbum de pop punk que aliava as convenções tradicionais do género a uma produção moderna e contemporânea. MGK estava a ver o seu trabalho a ser reconhecido pela indústria e pelo público que adquiriu o álbum em força, fazendo com que este se tornasse no seu primeiro disco de platina. Seguiu-se uma pequena tour de promoção, mas MGK estava mais interessado em continuar com o momento. Recrutou novamente Travis Barker e começou a trabalhar em “Mainstream Sellout, editado em Março de 2022. Pelo caminho recebeu elogios de alguns grandes nomes do rock, como Mick Jagger dos Rolling Stones a dizer que Machine Gun Kelly dava vida ao Rock: «Temos Yungblud e Machine Gun Kelly. Essa vibe pós-punk faz-me acreditar que ainda há um pouco de vida no rock.»
Foi ainda há boleia deste segundo trabalho que MGK se estreou em Portugal. Criticado por muitos aquando do anúncio do seu nome para o cartaz da edição de 2023 do NOS Alive, o músico apresentou-se no palco NOS com a missão de provar que merecia o destaque dado. Com uma cenografia muito própria de um concerto de rock, MGK surgiu em palco em cima de uma estrutura piramidal, formada por vários cubos luminosos, para dar início à atuação com “papercuts” e com a sua Schecter Machine Gun Kelly PT a tiracolo para arranhar uma melodia solística. Sabemos que as seis cordas não são o seu forte, mas para segurar uns power chords serve perfeitamente esse propósito. O alinhamento prosseguiu de forma equilibrada ao alternar temas da sua fase rap com os da fase pop punk, por isso não é de estranhar que “El Diablo” tenha surgido de seguida.
Não é segredo nenhum que MGK é extremamente espontâneo no que diz respeito às suas intervenções. Se vê alguma coisa do palco que lhe chama a atenção, vai dizer algo sobre isso num tom cómico e sarcástico. Talvez seja por isso que muitos não o suportam, mas é certo que também é isso que faz com que os seus concertos sejam muito mais divertidos e dinâmicos. No NOS Alive esses devaneios não foram excepção antes de partir para as bem esgalhadas “maybe” e “concert for aliens”.
Com um público maioritariamente jovem à sua frente, MGK procura também espelhar a sua vulnerabilidade, e por vezes imaturidade, nas suas letras e “drunk face” não poderia ter demonstrado melhor essa faceta. Já “I Think I’m Okay”, precedida por “Bitter Sweet Symphony” dos The Verve, demonstrou que por detrás de um grande músico está uma grande banda. Aqui o destaque vai para os dois guitarristas, Sophie Lloyd e Justin Lyons, que partiram para um duelo solístico de tremenda inspiração. Lloyd com a sua Kiesel de assinatura com Direct-Mount Passive Kiesel Lithium Humbuckers e Lyons com uma Schecter Solo II Blackjack. Ainda assim não há como não dar uma palavra mais aprofundada sobre Sophie Lloyd. A shredder britânica vem na linha de sucessão de nomes como Orianthi e Nita Strauss e começa agora, finalmente, a ser notada. Para os fãs das guitarras mais rápidas vale a pena darem uma passagem pelo seu “Shred Vol.1”, que conta com várias versões instrumentais de clássicos do cancioneiro heavy metal e hard rock. O resto da banda que acompanha MGK na estrada é composta por Rook na bateria,Baze no baixo e Big Slim nos sintetizadores, todos eles extremamente dotados.
“emo girl” e “jawbreaker” manteve a mesma toada de muitas outras canções do repertório de MGK ao abordar as temáticas clichés do amor platónico e dos desgostos amorosos. Já “Bloody Valentine” colocou os fãs mais dedicados a acompanhar MGK a capella nos primeiros versos e refrão da música, enquanto em “Forget Me Too” vimos MGK a dedilhar uma Schecter Corsair Sunburst com um Bigsby.
Até à conclusão do concerto ainda houve tempo para passar mais uma vez pelo repertório de hip hop com “Floor 13”, onde foi exigida a abertura de um moshpit. A descarga final chegou com “5150”, “title track”, make up sex” e “my ex’s best friend”, esta última com MGK a passear por entre o público. Tínhamos acabado de ultrapassar a uma hora de concerto e o público clamava por mais uma música. MGK disse que não tinha tempo para mais e apenas se dirigiu ao microfone para agradecer a euforia do público que acabou por transformar um mau dia para ele num dia mais suportável.
No fim foram muitos os céticos que acabaram por se vergar à capacidade inata de MGK enquanto frontman e performer. Não há como negar que estas músicas estão desenhadas para serem tocadas perante grandes plateias, afinal de contas está lá tudo o que encapsula o rock ‘n’roll: power chords, solos e grandes refrões. Se é azeiteiro, infantil ou provocador, isso já é outra história.
SETLIST
- papercuts
El Diablo
maybe
concert for aliens
F*CK YOU GOODBYE (The Kid LAROI Cover)
drunk face
nothing inside
kiss kiss
I Think I’m OKAY (Bitter Sweet Symphony Intro)
emo girl
jawbreaker
Candy
bloody valentine
forget me too
Floor 13
5150
title track
make up sex
my ex’s best friend