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NOS Alive 2024 | Dua Lipa, É Uma Espécie de Magia

NOS Alive 2024 | Dua Lipa, É Uma Espécie de Magia

2024-07-12, Nos Alive, Lisboa
Rodrigo Baptista
Rita Seixas
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Empoderada, carismática e magnética, foi assim que Dua Lipa se apresentou no NOS Alive 2024. A cantora anglo-albanesa serviu-nos um banquete de hinos dance-pop e mostrou que não precisa de grandes produções cenográficas, nem de trocas de roupa, para entregar um espetáculo dinâmico e cativante.

[Não foi permitido à Arte Sonora, fazer a habitual reportagem fotográfica]

Quando Dua Lipa revelou que o seu novo álbum, “Radical Optimism”, teria uma sonoridade mais virada para a neo-psychedelia, fruto da sua colaboração com Kevin Parker dos Tame Impala, muitos fãs receberam a revelação com algum ceticismo. Receosos de que a cantora anglo-albanesa fosse entrar numa fase mais experimental e descurasse por completo a sua sonoridade de marca, o dance-pop, os fãs começaram a especular sobre o impacto que esta mudança radical teria na carreira de Dua.

Mas, entretanto saiu “Houdini”, um single nu-disco explosivo com apenas alguns pozinhos de psychedelic pop, e que, ao cair tão bem nas graças dos fãs, já recebeu honras de encerramento dos concertos da tour de “Radical Optimism”. Depois seguiram-se “Training Season” e “Illusion”, esta última com influências de french house, e consequentemente o álbum completo. Os fãs podiam finalmente respirar de alívio, Dua Lipa afinal não tinha abandonado o pop dançável que a levou até ao estrelato. Jogada de marketing ou não, Dua soube criar uma expectativa gigante em torno do seu novo trabalho, algo que compensou com a sua estreia no primeiro lugar nas tabelas do Reino Unido e com a sua posição mais alta, um segundo lugar, na Billboard 200. No diz respeito aos espetáculos ao vivo, Dua também está a alcançar novos patamares ao esgotar num ápice duas datas no estádio de Wembley.

Por sua vez, esta também é a primeira vez que Dua Lipa actua como cabeça de cartaz nos grandes festivais europeus – Glastonbury, Rock Werchter, Mad Cool e NOS Alive – um feito cobiçado por qualquer artista que ambiciona chegar ao topo.

Sem uma produção exacerbada, como apresentou na MEO Arena, e assente em tons pouco exuberantes, como o preto e branco, Dua subiu ao Palco NOS para dar uma lição de como se faz um espetáculo pop sem a parafernália cenográfica e as constantes trocas de roupa a que assistimos no concerto de Taylor Swift. Com banda ao vivo e bons músicos, todas as músicas agigantam-se e em vez de nos oferecer apenas um espectáculo de dança, Dua Lipa proporcionou-nos um bom concerto de música.

É certo que ainda estávamos algo insaciados do festim de dança dos Parcels, mas Dua, não se fez rogada, e resolveu o nosso apetite ao deixar-nos completamente enfartados com uma setlist repleta de temas desenhados para as pistas de dança.

Ciente da popularidade que os novos single já têm entre os fãs, foi precisamente com a novidade “Training Season” que Dua iniciou a sua atuação. Seguindo o mesmo alinhamento que já tinha sido apresentado no Mad Cool, Dua mostra que um espetáculo pop é sempre uma máquina pré formatada, onde tudo é pensado e realizado ao pormenor. Aqui a espontaneidade não tem grande espaço, mas os fãs também não parecem importar-se. Seguimos para “One Kiss”, a colaboração com Calvin Harris. Polivalente, este é um tema que tanto encaixa num festival de verão, como numa discoteca ou até mesmo num desfile de moda.

Aqui a espontaneidade não tem grande espaço, mas os fãs também não parecem importar-se. Seguimos para “One Kiss”, a colaboração com Calvin Harris. Polivalente, este é um tema que tanto encaixa num festival de verão, como numa discoteca ou até mesmo num desfile de moda.

“Illusion” fez a ponte para a primeira passagem por “Future Nostalgia” (2020), um álbum que já podemos considerar um clássico dentro do espectro da pop. Primeiro surgiu “Break My Heart” com um arranjo diferente, a puxar mais para o electrónico. A versão original, gravada para o álbum, conta com a participação de luxo do baterista dos Red Hot Chilli Peppers, Chad Smith, que imprimiu ao tema o seu groove característico. Depois ouvimos “Levitating”. Dua pode perfeitamente cantar sobre levitar, mas sabemos que, apesar do seu estrelato, é uma artista com os pés bem assentes na terra e com uma vertente humanista profunda. Aliás, essa faceta ficou provada quando a cantora dirigiu-se a uma falange do público em linguagem gestual, explicando depois que oito fãs surdos estavam a assistir ao concerto com recurso ao Colete das Emoções, um colete que graças à rede 5G da NOS permite uma experiência multissensorial através de vibrações. Pensado em conjunto com a Acess Lab, este é um sistema de inclusão social e cultural que já tinha sido testado noutros concertos em Portugal, como foi o caso dos concertos dos D’ZRT na MEO Arena.

Aproveitando bem todo espaço do palco, desde a passadeira aos andaimes que ladeavam a banda, Dua foi desfilando alguns “fillers” que, verdade seja dita, na discografia de outro artista pop menos cotado seriam sucessos autênticos. De “These Walls” a “New Rules”, passando “Be The One”, “Love Again”, “Pretty Please” e “Hallucinate”, Dua mostra a máquina bem oleada que está por detrás da sua performance. Desde a sua banda aos dançarinos, todos executam a sua função com rigor e uma coordenação exemplar.

“Electricity”, a colaboração de Dua com Silk City deu espaço a “Cold Heart”, um dos melhores medleys de sempre que combina numa única faixa quatro músicas de Elton John. A ideia, que foi levada a cabo pelo grupo australiano de música de dança Pnau, consiste num remix interpolado dos temas “Rocket Man”, “Kiss the Bride”, “Sacrifice” e “Where’s the Shoorah”. Confettis arco íris, ilustraram não só a amizade que Dua tem com Elton, mas também o seu respeito e admiração pela comunidade LGBTQ+.

“Happy For You” encerrou o set principal. A cantora acabou por sair do palco para um encore onde sacou da cartola “Physical”, “Don´t Start Now” e “Houdini”. Magia ou não, Dua Lipa tem esse poder magnético de nos deixar vidrados ao seu (en)canto, assim como um ilusionista também o tem quando apresenta os seus números perante uma plateia repleta de crianças e adultos. Bravo!

SETLIST

  • Training Season
  • One Kiss
  • Illusion
  • Break My Heart
  • Levitating
  • These Walls
  • Be the One
  • Love Again
  • Pretty Please
  • Hallucinate
  • New Rules
  • Electricity
  • Cold Heart
  • Happy for You
  • Physical
  • Don’t Start Now
  • Houdini