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NOS Primavera Sound 2022: A Golden Hour ao Som dos Slowdive

NOS Primavera Sound 2022: A Golden Hour ao Som dos Slowdive

2022-06-11, NOS Primavera Sound Porto
Miguel Grazina Barros
Teresa Mesquita
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A banda britânica pioneira da sonoridade shoegaze voltou a Portugal para pisar pela segunda vez o palco principal do NOS Primavera Sound, onde já tinham atuado em 2014.

No segundo dia do Primavera Sound, festival portuense que registou o maior número de visitantes em 2022, a banda de Reading, Reino Unido, atuou no palco Nos onde Beck e Pavement foram cabeça de cartaz. Com um concerto marcado às 20h10, o relvado do Parque da Cidade viu uma plateia ansiosa dividida pelos fãs que fizeram questão de marcar o seu lugar na frontline, e os fãs que assumiram que o melhor sítio para verem e ouvirem a parede sonora distorcida e cheia de camadas dos Slowdive, seria sentados na relva – longe do palco. O sol demorou a esconder-se, iluminando o céu e a plateia de tons laranja que estabeleceram imediatamente o ambiente certo para o espetáculo carregado de riffs embrenhados em reverb e delays.

Com a sua génese ainda nos anos 80, os Slowdive marcaram consistentemente o género do shoegaze, o dream pop, ethereal wave, e tornaram-se ícones da música rock alternativa. A 2 de setembro de 1991, a banda lançava o seu primeiro disco “Just for a day”, em 1993 “Souvlaki”, e dois anos mais tarde “Pygmalion”. Se na altura não tiveram a devida importância que hoje afirmam, a carreira dos shoegazers disparou drasticamente desde então – afinal, ficaram para a história como uma bandas mais impressionantes no que toca à sensibilidade vocal onírica combinada com camadas e camadas de guitarras que lutam entre si, provocando uma verdadeira explosão sónica com uma força extraordinária.

Pontuais até ao minuto – Nick Chaplin, Rachel Goswell, Neil Halstead, Christian Savill e Simon Scott – pisaram o palco ao som de uma plateia que parecia tentar imitar a potência do som da banda, e que já esperava um bom espetáculo. Rachel Goswell assume a liderança do palco, acompanhada de um sintetizador Roland com um flamingo a decorar, e oscilando entre músicas com uma guitarra Fender Telecaster e uma pandeireta. “Slomo”, tema do mais recente álbum lançado em 2017 intitulado devidamente “Slowdive”, arrancou o espetáculo que durou sensivelmente uma hora. As primeira impressões não foram as melhores – embora o instrumental estivesse bem audível, a voz nem sempre estava à altura (especialmente a de Rachel Goswell). A suave brisa que se sentia no recinto também não ajudou ao efeito, pois sentia-se precisamente quando o som se deixava afastar pelo mesmo vento, criando uma espécie de queda em decibéis que rapidamente recuperava.

Thank you so much, you’re being absolutely brilliant!

Com uma setlist especialmente eclética, os músicos que “olham para os sapatos” conseguiram encaixar dez canções que cobriram as clássicas “Alison”, “When the sun hits” e “Souvlaki Space Station” (os temas que suscitaram claramente mais euforia na plateia), mas também canções mais recentes como “Star Roving” e “Sugar for the Pill”. Etéreo, onírico, com camadas de guitarras distorcidas, flangeadas ou cheias de delay, os Slowdive fizeram o que sabem fazer melhor – criar uma paisagem de som onde nenhum instrumento é distinguível do outro. Se por vezes o género musical é assumidamente sujo e distorcido, com cascatas de feedback reverberadas, o palco principal do Nos Primavera Sound pareceu um pouco “exagerado” no que poderia ser um concerto mais intimista e pessoal.

Apesar de tudo, algumas músicas soaram especialmente “abafadas” pela grandiosidade instrumental, interrompendo a voz sublime de Rachel que deveria caminhar sobre a densa parede sónica. Foi em “When the sun hits” que Rachel teceu um elogio à plateia fiel – “Thank you so much, you’re being absolutely brilliant!”. Se por um lado conseguiram cobrir grande parte da sua discografia, faltou a obrigatória “Dagger” (talvez para a próxima!). A banda despediu-se do público, já com o sol posto, ao som de “Golden Hair”, música originalmente de Syd Barrett e que consta no álbum “Just for a day”. O som das guitarras envolvidas de efeitos ecoou sobre a Invicta, e assim desapareceram os Slowdive.

SETLIST

  • 1. Slomo
    2. Catch the Breeze
    3. Avalyn
    4. Crazy for You
    5. Star Roving
    6. Souvlaki Space Station
    7. Sugar for the Pill
    8. Alison
    9. When the Sun Hits
    10. Golden Hair