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Samuel Úria percorre O Caminho Ferroviário Estreito

Samuel Úria percorre O Caminho Ferroviário Estreito

2014-02-28, Zé dos Bois
Timóteo Azevedo
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Do rock de barba rala à canção pastiche johnny-cashiana, Samuel Úria, num concerto singular, revisitou “O Caminho Ferroviário Estreito”, celebrando 11 anos desde que foi editado.

Saber que Úria iria fazer a proeza de remexer nas canções do seu primeiro álbum e tocá-las ao vivo, era uma notícia que deixaria qualquer fã mais antigo entusiasmadíssimo. Comprovou-se com uma sala praticamente cheia para ouvir, daquele que é um dos mais aclamados cantautores nacionais, as composições primogénitas e embrionárias, de estética, e, diria até, ética lo-fi, precursoras das canções mais badaladas do artista que se conhecem actualmente.

De guitarra ao peito, cantando solitariamente, ou acompanhado pelos seus “maltrapilhos”, expressão que o próprio carinhosamente usou para chamar os seus companheiros ao palco, Úria mostrou mais uma vez ser um espécime singular na música portuguesa. Nem todos se podem dar ao luxo disto. Depois de passar de gravações caseiras no quarto de banho para gravações num estúdio de topo, depois de romper o underground e tocar em grandes salas, depois de vários anos a solidificar-se como baladeiro e autor de canções mais radio friendly, tocar sem pudor as suas coisas primordiais é algo que nem todos se podem dar ao luxo. É preciso ter a fibra e a integridade que Samuel Úria tem.

A cada canção, Úria conta uma pequena história explicativa sobre a mesma, muitas vezes desconstruindo o próprio momento de inspiração criadora. “Senhor Feijão” escrita para uma aula, da altura em que leccionava Educação Visual, “Hora de Ir Para o Lar” inspirada em Johnny Cash ou “Violência na Televisão” de onde os Hands on Approach se inspiraram para o seu hit, ironiza Úria. A ironia, ou a auto-ironia, é algo que está muito presente na sua prestação ao vivo, tocando quase o stand-up, em alguns momentos. Úria sabe estar em palco, e consegue entreter o seu público mesmo quando não está a cantar.

Para além de trazer consigo os seus amigos e colegas de estrada da editora Flor Caveira, Lipe, Jónatas e Silas dos Pontos Negros, Ricardo, Cavaco, Guel e Ramos, entram em palco Manuel Fúria, Márcia e Gonçalo Gonçalves para o acompanhar em algumas músicas. Após as canções de O Caminho Ferroviário Estreito, conta-se ainda com um encore que serve de segunda parte, ouvindo-se composições recentes: “Teimoso”, “Espalha-Brasas, “Essa Voz”, “Seguro”, onde Márcia entra em palco para cumprir a sua participação, “Forasteiro”, “Em caso de fogo” com Gonçalo Gonçalves, e termina com a belíssima “Barba Rala e Barbarella”.