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O fuzz de Gary Clark Jr.

O fuzz de Gary Clark Jr.

2014-05-29, Rock In Rio, Lisboa
Timóteo Azevedo
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Há muitas formas de avaliar a prestação de um guitarrista. Podemos contar a quantidade de notas que são capazes de tocar por segundo, ao estilo daquele virtuosismo chato e fastidioso de alguns guitarristas que até causam tédio só de citar, por isso não o vou fazer. Podemos avaliar pelo feeling e entrega do guitarrista apesar da pouca técnica, casos destes germinaram com saudável distância entre uns e outros no solo do rock mais forasteiro e sujo. Podemos ainda avaliar pela técnica e pelo feeling em igual peso e medida, quando se toca como Gary Clark Jr.

Gary Clark além de tocar com destreza, toca com um feeling que poucos conseguem. À cabeça vem-nos Hendrix, Stevie Ray Vaughan e até BB King, mas não é nada disto em concreto. Gary Clark Jr. é Gary Clark Jr: uma mistura de influências, que vão do blues rock ao hiphop, e uma autenticidade no resultado. Gary toca a guitarra como quem canta fado. O tom dela (em muitas músicas é uma Epiphone Casino) é às vezes melosa, calma e espaçada. Mas noutras, é mais fuzzy e rockeira. Por cima disso, Clark coloca a sua voz suave, naquela entoação bluesy, e de repente, o sul norte-americano instala-se em Chelas.

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O concerto abre com o clássico “Catfish Blues”, originalmente gravado por Robert Petway, que Jimi Hendrix também gravou, e mostra-nos logo à partida qual é a escola de Gary. Mais para a frente ainda toca mais um clássico, a “3 O’clock Blues”, gravada em 1946 por Lowell Fulson, e posteriormente por BB King, tendo sido o seu primeiro grande sucesso, embora com Clark o tema receba uma reinterpretação. “When my Train Pulls in”, “Don’t Owe You a Thang” , “Numb” são alguns dos temas mais conhecidos que fazem parte do alinhamento, que termina com a groovy “Bright Lights”.

Clark estreou-se em 2012 com o álbum “Blak and Blu”, e, apesar da sua ainda curta carreira, já partilhou palco com grandes nomes, desde Eric Clapton e Jimmy Page a Paul McCartney. Ontem, sem ninguém prever, depois do seu concerto, ainda voltou a palco para tocar a “Respectable” com os Stones. Todas estas participações dizem muito acerca do respeito que recolheu nos seus congéneres mais velhos. Não esquecer que Clark tem apenas 30 anos. Creio que o futuro ainda lhe reserva muito pela frente.

Fotos Catarina Torres

SETLIST

  • Catfish Blues 
  • Next Door
  • Neighbor Blues Ain’t Messin ‘Round 
  • If Trouble Was Money 
  • Travis County 
  • When My Train Pulls In Please
  • Come Home 
  • Don’t Owe You a Thang  
  • Numb  
  • 3 O’Clock
  • BluesBlak and Blu 
  • Bright Lights