O Magnetismo do R&B de Fusão de Masego em Lisboa
2024-02-08, Campo Pequeno, LisboaMasego regressou a Portugal para apresentar o seu álbum homónimo. Ao Sagres Campo Pequeno o artista jamaicano-americano trouxe a sua particular fusão sonora de trap-house-jazz com elementos de R&B e reggae e deslumbrou os presentes com os seus solos de saxofone repletos de feeling.
Nascido Micah Davis, em Kingston, Jamaica, em 1993, Masego teve uma infância rodeada de música. As suas origens jamaicanas levaram-no a descobrir desde muito cedo o reggae, mas também o soul, devido à sua assiduidade nas igrejas evangélicas onde tanto a mãe, como o pai, eram pastores. Ainda assim, só aos sete anos, quando a família se deslocou para a Virginia, EUA, é que Masego começou a explorar e a aprender diferentes instrumentos musicais, tendo começado no piano e depois seguido pelo saxofone, trompete e bateria.
Se por um lado foram as suas origens jamaicanas e religiosas que lhe abriram as portas para a descoberta da sua identidade musical, por outro, foram as suas raízes sul-africanas que lhe deram o seu nome artístico de Masego, palavra em Tswana para “benção”.
Autodidata, foi através do Youtube que Masego aprendeu a dominar os seus instrumentos. A descoberta de um vídeo sobre um pedal de loop permitiu-lhe começar com as suas experimentações, e foi já na faculdade, que Masego começou a apresentar-se em noites de open mic para mostrar o seu talento. Porém, sentia que faltava algo – a voz. Tímido, o artista sentiu-se mais confortável ao combinar as suas linhas vocais com melodias de saxofone e beats e ao aperceber-se da sonoridade distinta que estava a criar cunhou um novo género musical: trap-house-jazz.
“Girls That Dance”, um freestyle publicado no Soundcloud, que mais tarde foi lançado no EP colaborativo com Medasin, “The Pink Polo EP” (2015) despontou um primeiro burburinho sobre o músico. A faixa chamou a atenção de DJ Jazzy Jeff, um dos reis do scratch, que, ao reconhecer o potencial de Masego, tornou-se numa espécie de padrinho, e apresentou-lhe à sua vasta lista de contactos onde constam nomes como Young Guru, Jill Scott e Will Smith.
Desde então, Masego já lançou mais dois EPs, “Loose Thoughts” (2016) e “Studying Abroad” (2020) e dois álbuns, “Lady Lady” (2018) e “Masego” (2023). O seu crescimento tem sido exponencial, desde logo com a nomeação para um Grammy em 2022 na categoria de Melhor Álbum de R&B Progressivo por “Studying Abroad: Extended Stay” e com as tours que têm levado o seu trap-house-jazz a várias arenas de todo o mundo.
A primeira parte do concerto ficou a cargo da sensualidade de Tanerélle.
O Saxofone Encantado
Foi ao som dos samples de “Navajo” que Masego e a sua banda, composta por Cedric Mitchell na bateria e Jonathan Curry no baixo e teclados, entraram em palco. Seguiu-se “Queen Things”, a primeira visita a “Lady Lady”, e também o primeiro vislumbre auditivo do som quente e reconfortante do saxofone de Masego. Com uma produção acompanhada por várias projeções, algumas de cariz cinematográfico, outras apenas com o intuito de estabelecer uma ligação entre a música e a temática das letras, Masego procurou apresentar para cada faixa um espectáculo visual rico em animações e repleto de cor.
A primeira interacção entre músicas com o público foi feita em bom português do Brasil, algo que o músico repetiu ao longo de todo o concerto. Masego justificou-se ao referir que falava um pouco de português, mas o que é certo é que, tirando algumas palavras mal pronunciadas, quase que podia passar por um cidadão luso-jamaicano.
“Sweet Love” trouxe um dos momentos mais interessantes da noite, com Masego a agarrar-se ao saxofone para arrancar uma cover do mega-êxito de Anitta Baker.
“Sweet Love” trouxe um dos momentos mais interessantes da noite, com Masego a agarrar-se ao saxofone para arrancar uma cover do mega-êxito de Anitta Baker. Com rosas e, ao que pareciam notas, a voar do palco, e passos de dança icónicos, como o moonwalk, Masego estava a conseguir proporcionar um concerto dinâmico, enérgico e sem momentos mortos. Ainda assistimos a um vai e vem de roadies a tentar solucionar um problema técnico com os teclados, mas nem isso foi capaz de afetar o desenrolar da actuação.
“Two Sides (I’m So Gemini)” foi a primeira visita ao mais recente “Masego”, mas ainda soou algo “verdinha” quando comparada com a sensualidade de “Yamz” e o groove avassalador de “Prone”. Sem qualquer postura de estrela, Masego referenciou várias vezes os músicos que o acompanharam em palco e ainda deu espaço para que o baterista Cedric Mitchell mostrasse toda a sua destreza técnica nas peles. No fim, sob uma enorme chuva de aplausos e assobios, foi cumprimentado pelo seu colega Jonathan Curry, que lhe ofereceu um bafo do seu charro. Escusado será dizer qual foi a reação do público.
Na segunda metade do concerto, “Sides of Me” trouxe um melodia em leitmotiv extremamente pegajosa que Masego replicou no saxofone. “You Never Visit Me” mostrou-nos de uma forma mais vincada as influências reggae que o músico traz no sangue. E “Silver Tongue Devil” levou-nos pelos ritmos da música de raiz africana.
“Eternal Sunshine” foi a música escolhida para anteceder o encore, Já com Masego fora do palco chegou-nos uma mensagem gerada por IA com o músico a agradecer ao público. Mas a festa ainda não estava terminada. Faltava ouvir “Tadow”, a colaboração com FKJ que levou o nome de Masego para as bocas do mundo. Sem despedidas demoradas, o músico ausentou-se do palco, com o instrumental ainda a ser tocado por Cedric Mitchell e Jonathan Curry.
Depois do temporal vivido ao longo do dia, não poderíamos pedir nada melhor do que a música aconchegante de Masego para nos confortar nesta noite de inverno.
SETLIST
- Navajo
Queen Tings
Old Age
Lady Lady
Sweet Love
Mystery Lady
Two Sides (I’m So Gemini)
Mullah’s Dream
Veg Out (Wasting Thyme)
Yamz
What’s Your Flavor
Prone
Sides of Me
You Never Visit Me
Good & Plenty
Shallow
Silver Tongue Devil
Yebo/Sema
Mystery Lady – Sego’s Remix
Well Travelled
Flight 99/ Wet The Bed /
King’s Rant
Interlude
Eternal Sunshine
Tadow