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8

Ozzy Osbourne

ØRD†NARY MAN

Epic Records, 2020-02-21

EM LOOP
  • All My Life
  • Goodbye
  • Under The Graveyard
  • Eat Me
Nero

O auto-proclamado melhor álbum de Ozzy. “Ordinary Man” é, de facto, um disco moderno e cheio de surpresas. Andrew Watt é o protagonista, tendo surgido à altura da responsabilidade de renovar Ozzy Osbourne.

Ainda em Setembro de 2019, em entrevista com o The Sun, Ozzy Osbourne revelava alguns detalhes sobre o seu novo trabalho, o seu 12º registo a solo. O frontman dos Black Sabbath foi arrojado nas declarações sobre o novo disco, afirmando que trabalhar na sua composição o ajudou a recuperar da lesão que o forçou a ser hospitalizado, interrompendo a No More Tours 2, digressão que passou em Portugal em 2018. «Fiz um novo álbum que me ajudou a entrar nos eixos. Estive afundado em auto-comiseração durante meses. É o melhor álbum que já fiz».

É “Ordinary Man” o melhor disco na discografia de Ozzy Osbourne? Não é. Mas é bastante bom e prova que Ozzy fez bem em correr tantos riscos como colaborar com um produtor “fora” do universo rock e optar por reciclar os músicos que convidou e com quem formou banda nestas sessões.

Muitos fãs de heavy metal e do Prince of Darkness poderão ter ficado reticentes ao saber que Andrew Watt era o produtor escolhido, afinal a sua carreira surgia associada a Justin Bieber, Selena Gomez, Camila Cabello, Rita Ora ou Post Malone (este também presente como convidado neste álbum). Mas Watt que também assumiu a hercúlea tarefa como guitarrista de Ozzy, realizou um trabalho bastante uniforme, capaz de revestir o corpo do álbum com um som moderno e ao mesmo tempo tributar o som clássico de Ozzy na era Randy Rhoads ou a estridência da era Zakk Wylde.

De resto, Duff McKagan surge como baixista, tal como faz nos Guns N’ Roses, com enorme sobriedade, com alguns daqueles apontamento de harmonização melódica às linhas de guitarra. Além disso empresta o seu talento como compositor a alguns dos temas mais pesados do álbum, casos de “Straight To Hell” e “Eat Me”. O seu colega de banda, Slash, assume vários solos de guitarra, como no idiossincrático trabalho no tema título, canção escrita por Ozzy e Elton john. O exótico cavaleiro britânico assume a condução ao piano da balada.

Uma das pechas que se podem apontar ao disco é o facto de a maioria dos temas ser demasiado mid tempo. É certo que acaba por soar épico, mas fica demasiado preso a esse formato. Não deixando de se estar diante de canções que conseguem surpreender e talvez permitir a muitos limparem os “macaquinhos do sótão”, afinal uma das principais compositoras do álbum é Ali Tamposi, autora de vários singles de Kelly Clarkson, Beyoncé, Demi Lovato, Camila Cabello, Shaw Mendes, entre outros, numa impressionante lista de estrelas pop…

Mas, continuando a falar nos músicos, Chad Smith é fenomenal nas baterias. Claro que não surpreende ninguém a tremenda capacidade técnica do baterista dos Red Hot Chili Peppers, mas a forma explosiva e propulsiva como é capaz de surgir num álbum que, afinal, é de hard rock, sem espaço para a minúcia e detalhes rítmicos meio funky, não deixa de causar espanto. Andrew Watt nas guitarras é a grande surpresa.

Rockers mais atentos saberiam que o músico e produtor tinha atributos sólidos, conhecendo o seu trabalho com Glenn Hughes e Jason Bonham, nos California Breed. A questão é que passar a figurar numa galeria que conta com Randy Rhoads, Zakk Wylde, Jake E. Lee e Gus G. (para não falar de Iommi nos Sabbath) não seria para qualquer um e Watt não só ali entra sem assombro como até, com este disco, suplanta o trabalho de Gus G. O grego era mais virtuoso, sim, mas nunca emprestou verdadeiramente alma a Ozzy.

“Scary Little Green Man”, com o esforço de Tom Morello (responsável pelas guitarras neste tema), é junto a “Under The Graveyard” e “It’s a Raid” (com Post Malone), um dos temas em que mais se nota o trabalho de produção de Watt, notável a fazer a ponte entre o som clássico de Ozzy e uma sonoridade actual, pós pop, pós hip hop, pós tudo. São canções cuja sonoridade, como aquele arpeggio de guitarra, quase kizomba, de “Under The Graveyard”, primeiro se estranha e depois se entranha.