Paredes de Coura: Portugal. The Man e CHVRCHES
2016-08-20, Vodafone Paredes de CouraEnquanto que o grupo do Alasca trouxe novos e refrescantes ares à Praia Fluvial do Taboão, o trio britânico desenterrou memórias que estariam melhor soterradas.
A saudade já se fazia sentir pelas intermitências dos concertos do último dia de Vodafone Paredes de Coura: LCD Soundsystem haviam cumprido a função de cabeça-de-evento, o festival já proporcionara a sua boa quota de descobertas aliciantes entre os nomes de menor expressão (não há louvor que chegue para concertos vespertinos como os de Whitney, Bed Legs, First Breath After Coma, Filho da Mãe e Ricardo Martins ou Motorama), e o tímido desaparecimento de algumas tendas já anunciava a despedida de mais uma edição do acarinhado evento. Restava apreciar com especial afinco os grandes espectáculos que restavam e que, depois de uma sólida actuação de The Tallest Man On Earth, concretizar-se-iam pela mão do pop rock colorido de Portugal. The Man e da electrónica jovial de CHVRCHES.
Para uma banda com um nome tão familiar quanto este, não seria de estranhar que se sentissem em casa às margens do rio lusitano. Tocavam, afinal, para “Portugal. The Country” (alcunha carinhosa pela qual fizeram questão de chamar o público sempre que a ele se dirigiam), e não houve ponta por onde não pegassem para que a plateia sentisse a energia que tanto merecia a horas do final. Não trouxeram nada de novo – o último disco de originais, “Evil Friends”, já data de 2013 – mas do homem para o país, de tudo o resto se viu: sucessos antigos, canções menos conhecidas e ainda assim celebradas, improvisos alongados bem executados, e até covers – uns mais discretos, como a passagem que invocaram de “I Want You (She’s So Heavy)”, emprestada dos Beatles, e outros menos, tal foi a entrada abrupta em “Don’t Look Back in Anger”, de Oasis. O destaque vai para os mais sonantes singles (“Atomic Man”, “Evil Friends”, “People Say”), e ainda que Portugal. The Man pudessem ter exibido mais orgulhosamente a sua inclinação para a diversidade textural e sónica, é de grandiosos refrões que gostam e deles fizeram o seu espectáculo de proporções raramente vistas.
É com algum pesar que se conclui que o mesmo não se poderá dizer da actuação de CHVRCHES, o trio escocês de synthpop que, por razões ainda por compreender, repete a passagem por Paredes de Coura depois de, em 2014, terem dado um concerto igualmente monótono. Retire-se os méritos ou deméritos das composições da equação, e ainda assim a paisagem era desoladora: um dos públicos menos compostos de qualquer cabeça-de-cartaz do festival, apatia generalizada durante a maior parte do espectáculo e manifesta falta de carisma vinda do palco. O som, que até demonstra alguma dinâmica e vivacidade dentro do estúdio, rendia-se flácido e semi-adormecido em palco, limitado pelo formato totalmente electrónico e, consequentemente, dolorosamente mirrado, e nem a voz límpida e sempre afinada de Lauren Mayberry (de longe a melhor componente do acto) pôde compensar a insuficiente prestação de uma banda tão pouco antecipada quanto apreciada. Não havendo nada que impeça a repetição de grupos num mesmo festival, alguns deles podem e devem ser reconhecidos como apostas perdidas – e o não haver terceira vez já é redenção suficiente para Paredes de Coura.