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Paredes de Coura: Unknown Mortal Orchestra, Minor Victories e a Virtude da Inovação

Paredes de Coura: Unknown Mortal Orchestra, Minor Victories e a Virtude da Inovação

2016-08-17, Vodafone Paredes de Coura
Pedro Miranda
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O quarteto em vertiginosa ascensão e o supergrupo de nomes de peso abriram o festival com pompa e poderio a mãos cheias.

O dia 17 de Agosto marcou, para muitos, o retorno do sonho (embora, para muitos outros, este já tivesse começado bastante antes): abria, oficialmente, o autodenominado habitat natural da música, e a Praia Fluvial do Taboão preparava-se para receber, por mais um ano, as grandes virtudes da música alternativa nacional e internacional.

Dia esse que, reconhecidamente pautado por se fazer a meio gás, com uma oferta algures entre o cartaz completo e a recepção ao campista de outros eventos, era ainda assim munido de nomes que dificilmente passariam despercebidos aos festivaleiros de Coura. E os primeiros a deixar uma marca definitiva, após as enérgicas mas pouco memoráveis actuações de We Trust e Best Youth, seriam os vistosos Minor Victories, cujo alinhamento não deixaria margem para dúvidas do seu potencial.

Afinal, foi da união de membros dos Editors (Justin Lockey), Mogwai (Stuart Braithwaite) e Slowdive (Rachel Goswell) que se formou o à partida tão apelativo supergrupo, e por entre a estranheza das concomitâncias que permeiam o seu álbum de estreia, a sua performance evidenciou muitos dos pontos-chave que retiram de cada um dos seus projectos de origem: de Editors, a doçura das canções em si, eloquentemente interpretadas pela imaculada voz de Goswell; de Mogwai, a experimentação que tem vindo a surgir nos seus últimos discos, unindo o digital ao analógico e desdobrando as canções em padrões intensamente labirínticos; e de Slowdive (a feição que, ao fim de contas, melhor lhes serviu) os profundamente emocionais e explosivos clímaxes que tão bem resultaram com a banda de Goswell neste mesmo festival, há um ano, e que viam as guitarras em primeiro plano emanando as características paredes de ruído emprestadas do shoegaze. Uma muito charmosa adição ao alinhamento do festival, que deu bons frutos neste primeiro dia.

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Restava a Unknown Mortal Orchestra, o trio-feito-quarteto oriundo da Nova Zelândia, a tarefa de preencher o posto principal deste primeiro dia de Paredes de Coura. Tarefa essa que, à semelhança de outros nomes destacados no cartaz, parecia mal atribuída, já que, até para alguns dos seus mais dedicados fãs, a banda afigurava-se demasiado pequena para ocupar o lugar dado, por exemplo, a TV on the Radio no ano anterior.

Apesar de tudo isto, não restariam dúvidas de que a garra de Unknown Mortal Orchestra lhes valeria, fossem outras as circunstâncias, essa mesma posição, até porque a sua fórmula para o sucesso era relativamente directa: quem procurasse a versatilidade do art rock, o apelo instintivo da pop, algum do swing do jazz (uma influente referência para o frontman Ruban Nielson nos últimos tempos) e nenhuma da acidez que pautou os seus primeiros trabalhos encontraria vibrante resposta do quarteto em palco, que se movimentava em uníssono perante as divagações em que se imiscuía o seu líder e principal força-motriz.

E embora continue a ser algo lamentável que Nielson tenha deixado de parte muito do trabalho de guitarra e da influência lo-fi que o acompanharam no seu primeiro disco, a mudança de registo permitiu à banda trabalhar outras modalidades de som, e aperfeiçoar a sua própria identidade pelo caminho, como sejam a dualidade ruído/silêncio (“Swim and Sleep (Like a Shark)”), a utilização dos sons mais naturais do piano clássico (“Ffunny Ffrends”) ou até de diferentes timbres de guitarra (“Multi-Love”). Um caminho, convém dizer, percorrido sempre com impecável execução instrumental, som claro e equilibrado e inúmeras e celebradas incursões pelo mundo da improvisação.

O final com “Can’t Keep Checking My Phone”, algo seco e sem grande acrescento à versão de estúdio, deixou saudades do tempo em que não resistiam a fechar cada actuação com a mais estonteante “Boy Witch” (que entretanto abandonaram por completo), mas também pouco a provar no que respeita ao seu sentido de espectáculo, comando de palco e, mais prementemente, cabeça de cartaz de festival de verão. Uma das mais belas e melhor conseguidas performances de todo o festival por uma banda que, tendo retornado a Paredes de Coura depois de lá terem estado há 3 anos, não tardará a marcar nova data de visita, a depender da organização e do público que com tanto afinco os aplaudiu.

Fotos: Pedro Mendonça