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Queen, Lágrimas & Glória

Queen, Lágrimas & Glória

2018-06-07, Altice Arena, Lisboa
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Em Janeiro de 1930 foi publicada pela primeira vez a “Astounding Stories Of Super-Science”. Até aos nossos dias, a publicação teve várias designações. Em Outubro de 1953 o título era “Astounding Science Fiction” e foi para a edição de Outubro desse ano que Frank Kelly Freas desenhou, como capa, um robot gigante (de olhos humanos) a segurar o corpo de um humano morto. Os Queen contactaram Freas, perguntando se o artista poderia alterar o desenho para a capa de “News Of The World”.

É esse robot, numa projecção 3D, que rebenta com a ilusória parede no palco da Altice Arena, embalado pela batida bélica de “Tear It Up” e pelo rasgar dos acordes de Brian May. O titã de metal detém-se sobre a banda, enquanto ouvimos de rajada a icónica “Seven Seas Of Rhye”, tema que, ao invés de suceder para a segunda parte, explode em “Tie Your Mother Down”. Aí ouvimos o primeiro solo da Red Special. O som do concerto ainda “não está lá”, mas a assinatura sonora da guitarra é inevitável e Brian May está em forma.

As emoções só são refreadas através de “Play The Game” e da sua síncope intrincada, mas o fôlego é recuperado por pouco tempo… Um improviso de guitarra com volume em crescendo faz ponte para a divertida “Fat Bottomed Girls”, essas miúdas que fazem o mundo do rock ‘n’ roll girar. Quem nunca?

O som de guitarra está qualquer coisa. A parede de Vox AC30 (seis unidades) oferece aquilo que, entre outras coisas, EVH “fanou” aos Queen e a Brian May, o conceito chamado brown sound. Um crunch, como o chocolate, estaladiço e doce! A primeira homenagem directa a Freddie Mercury surge através da interpretação da quintessencial “Killer Queen”, em que Adam Lambert adopta mais os maneirismos de Freddie, fazendo recordar um comentário no YouTube, sobre a sua actuação com a banda no RiR Lisboa em 2016: «O pai deixou-nos. E, embora deteste o novo padrasto, lá no fundo sei que é a melhor opção para a mãe». Sentimentalão? Sim. Acertado? Sem dúvida!

Nunca ninguém esquecerá Freddie Mercury e cada concerto dos Queen é um vibrante testemunho da imortalidade da música. Brian May, Roger Taylor e Adam Lambert ofereceram mais uma noite inesquecível a Lisboa.

Adam Lambert, no final desse tema presta ainda homenagem a Brian May e Roger Taylor, as lendas que o acompanham e admite que, com eles em palco, nunca sabe o que está a viver, fazendo o trocadilho: «Is this the real life? Is this just fantasy?» O vocalista, através de uma evidência, continua a recordar Mercury, afirmando que Freddie há só um e pedindo que Lisboa celebre o famigerado músico e as suas canções durante o concerto. Então entra “Don’t Stop Me Now” e a Altice Arena vem abaixo! Os decibéis do público, acompanhando todo o tema, ameaçam ultrapassar aqueles debitados pela banda. Um dos momentos altos da noite. Inesquecível!

LOVE OF MY LIFE

“Bicycle Race”, outro momento Vaudeville, género a que Freddie era tão apegado, antecede a mais sinfónica “I’m In Love With My Car”, cantada por Taylor. E surge outra explosão de intensidade, com “Another One Bites The Dust”. Baixo staccato, hammer on e pull off e leaks funky na guitarra. Nós sabemos o que fizeste Eddie! Malhão que nos ajuda a esquecer o que acontece a seguir. Um original de Adam Lambert que destoa da excelência de composições que temos estado a ouvir, tal como o azeiteiro solo em duelo de voz e guitarra. Tanta música épica dos Queen por onde escolher (assim de repente, “One Vision”, “It’s A Kind Of Magic” e “Innuendo” não têm lugar na setlist), não devia dar espaço a este momento de ego de Lambert. “I Want It All” passa rapidamente um pano sobre tudo isto. E então chega outro dos grandes momentos da noite.

Brian May percorre o corredor do palco, que não é nada menos que uma esquematização da sua Red Special, e senta-se no “headstock”, sozinho com uma Guild F-512, uma acústica de doze cordas, para tocar “Love Of My Life”. A canção é cantada a plenos pulmões por uma Altice Arena lotada. Arrepiante. No final, sabemos que vai surgir a projecção de Freddie Mercury, com a sua voz a ouvir-se sincronizada com May, por cima da guitarra, mas é impossível não ficar com os olhos em lágrimas. Que saudades, Freddie

SOM TREMENDO

Quando a banda regressa toda, em “Somebody To Love”, o som está perfeito. Houve-se nitidamente cada nuance de percussão de Tyler Warren, das sintetizações do histórico Spike Edney (que acompanha os Queen, em digressão, desde 1984) e do groove do baixo de Neil Fairclough. A loucura torna a instalar-se no público durante “Crazy Little Thing Called Love”, a guitarrada final de Brian May é sublime. Está como o vinho, o guitarrista! A partir daqui, há mais quebras dinâmicas no concerto. Como o trovejante duelo de baterias ou a improvisação de delays de Brian May. Um momento clássico nos concertos da banda, mas que terá sido demasiado longo… Pelo meio ouvem-se as duas maiores pérolas da setlist: “Under Pressure”, evocando também o sempre omnipresente espectro de Bowie; “I Want To Break Free”, mais um tema berrado por cada garganta presente no concerto; e a arrepiante “Who Wants To Live Forever”, talvez o tema onde Lambert fique, realmente, aquém de Mercury.

O longo concerto, que tem passado a correr, aproxima-se do final, com mais um bloco de hinos: “The Show Must Go On”, “Radio Ga Ga” e, claro, “Bohemian Rhapsody”. Os guitarristas presentes no concerto terão ficado a salivar com as harmonizações cristalinas de Brian May em “The Show Must Go On”. É certo que o músico usa um harmonizer de rack da Eventide há largos anos, mas o mais provável, tendo as harmonizações soado tão vivas e correctas, é ter recorrido a outro método que celebrizou, usando duas unidades de delay para criar as sobreposições. É uma discussão que dura há alguns anos (se souberem a resposta definitiva… Digam-nos).

FINAL FELIZ

Surge a projecção de Freddie a desafiar vocalmente o público presente no mítico concerto de Wembley, em 1986. Mais emoção, mais saudade. “We Will Rock You” e “We Are The Champions” são os últimos temas, antes de soar o triunfal arranjo de guitarras de Brian May à composição clássica “God Save The Queen”. Freas, o artista da capa de “News Of The World” era um fã de música clássica e não ouvia música rock, nem conhecia os Queen. Apenas ouviu a banda depois de terminar a capa, pois «tinha receio de odiar a sua música, o que iria arruinar o meu trabalho», mas tornou-se fã da música dos Queen. Como todos nós.

SETLIST

  • Tear It Up
    Seven Seas of Rhye
    Tie Your Mother Down
    Play the Game
    Fat Bottomed Girls
    Killer Queen
    Don’t Stop Me Now
    Bicycle Race
    I’m in Love With My Car
    Another One Bites the Dust
    Lucy
    I Want It All
    Love of My Life
    Somebody to Love
    Crazy Little Thing Called Love
    Under Pressure
    I Want to Break Free
    Who Wants to Live Forever
    Last Horizon
    The Show Must Go On
    Radio Ga Ga
    Bohemian Rhapsody
  • We Will Rock You
    We Are the Champions
    God Save the Queen