Queen & Adam Lambert, Sebastianismo
2016-05-20, Parque da Bela Vista, LisboaFreddie vive através das suas canções que, com um grande som e um grande concerto, emocionaram e fizeram vibrar mais de 70 mil pessoas no Rock In Rio Lisboa.
Após um grande reinado, há sempre um enorme vazio provocado pela sucessão. E não haverá jamais outro monarca como Freddie Mercury. Mas se Freddie está para a voz e os Queen como Afonso Henriques para os portugueses, a actuação de Adam Lambert revestiu-se de algum sebastianismo.
Há em Adam Lambert excessos barrocos nos vocalizos – ímpetos de juventude, pressão para estar a altura da situação ou apenas feitio – que destituem canções como “Tie Your Mother Down”, “Another One Bites The Dust”, “I Want It All” ou “Hammer To Fall” da sua agressividade, mas a sua teatralidade consegue dar uma expressividade digna da tradição de “Fat Bottomed Girls” ou “Killer Queen” e suficientemente potente para dar o tamanho necessário a canções como “Under Pressure”, “Who Wants To Live Forever”, “The Show Must Go On” ou “Radio Ga Ga”. No final, o jovem cantor mostrou arrojo, homenageando Freddie – como homenageou, George Michael visual e expressivamente em “Somebody To Love”, o ídolo Elvis em “Crazy Little Thing Called Love” e até Axl Rose, evocando aquele cabedal branco que este usou no histórico concerto de homenagem a Freddie, em Wembley. E foi capaz de revitalizar os próprios Brian May e Roger Taylor.
Os Queen originais pareceram nervosos em Lisboa, algo mais notório em Brian May. Visivelmente emocionado durante o concerto, o seu timbre único de guitarra e a electricidade das réplicas da icónica Red Special saíram majestosos como sempre, mas com algum nervosismo. Sendo snob, talvez tudo seja melodrama, sendo “azeiteiro”, não deu para não sentir um aperto quando Brian, comovido, apresentou uma canção de um Freddie «muito jovem, era um miúdo quando a escreveu», e cantou a solo “Love Of My Life”. Tal como depois Roger cantaria “These Are the Days of Our Lives”, mostrando imagens da juventude da banda, de dias felizes. E Brian e Roger estavam ambos felizes, emocionados e merecem esta digressão, caramba!
Contudo, a idade cobra um tributo pesado. A setlist revela alguma protecção aos velhos monarcas e estes são poupados à exuberância técnica e veloz de clássicos como “One Vision”, “It’s A Kind Of Magic” ou “Innuendo”, ou com o solo de bateria partilhado entre Roger e o seu filho Rufus Taylor, que ocupa também o lugar do pai para rebentar “Tie Your Mother Down”.
Com um som de enorme qualidade e amplitude, com bastante minúcia de performance, a única maneira de poder coordenar o concerto com os samples áudio e vídeo de Freddie que foram pontuando o concerto e ao qual acrescentaram pujança emocional, os Queen deram um concerto vibrante e digno com a herança de Freddie, cujas canções provaram estar vivas e cujo legado histórico estará longe de desaparecer. Sendo justo e salientando o óbvio, só teria sido melhor se Freddie ainda fosse vivo.
God Save The Queen!
SETLIST
- Intro/Flash
- The Hero
Hammer to Fall
Seven Seas of Rhye
Stone Cold Crazy
Fat Bottomed Girls
Play the Game
Killer Queen
I Want to Break Free
Somebody to Love
Love of My Life
These Are the Days of Our Lives
Under Pressure
Crazy Little Thing Called Love
Don’t Stop Me Now
Another One Bites the Dust
I Want It All
Who Wants to Live Forever
Last Horizon (canção de Brian May)
Tie Your Mother Down
The Show Must Go On
Bohemian Rhapsody - Radio Ga Ga
We Will Rock You
We Are the Champions - God Save the Queen