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Reverence Valada: Damned da Velha Guarda e o Desvaire de Mécanosphère

Reverence Valada: Damned da Velha Guarda e o Desvaire de Mécanosphère

2016-09-10, Parque de Merendas Valada do Ribatejo
Pedro Miranda
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O último dia de Reverence Valada proporcionou alguns dos melhores cabeças de cartaz do evento.

Fora as confusões de horários (fruto de uma combinação de inexperiência e infortúnios imprevisíveis e inevitáveis), o último dia de Reverence foi o mais composto e diversificado, talvez de todas as edições do evento: houve o kraut psicadélico de Papir, o doom de With the Dead, as viagens interestelares de Oresund Space Collective (liderados pelo caricato Doctor Space, figura de eleição deste Reverence), e o prog e space rock de Nik Turner’s New Space Ritual, ex-membros dos idolatrados Hawkwind. O dia do ecletismo, se bem que mutilado pela muito sentida falta de Killing Joke, seria ainda completado por dois pólos opostos do universo do festival: a personificação da velha-guarda do punk e do goth, de um lado, e alguma da música mais experimental à disposição do público, do outro.

Com este outro lado falamos, é claro, de Mécanosphère que, depois de terem sido (mal) colocados no Palco Rio, foram devidamente reposicionados ao Sontronics onde, fazendo-se justiça, mereciam estar. Mas que não se confunda esta posição com a acessibilidade da música: exibindo um misto anárquico do spoken word possante de Adolfo Luxúria Canibal com um instrumental de jazz industrial comandado por Benjamin Brejon, a sonoridade do grupo era desafiante até para o geralmente bem equipado público do Reverence. Não foi isso, no entanto, que os impediu de serem magnânimos do seu próprio jeito no comando do palco principal. Luxúria, numa exibição vistosa de performance artdançava e envolvia-se promiscuamente com uma lanterna enquanto recitava ciclicamente versos – “o ferro é o seu sangue, a chama o seu cérebro”; “eu adorava o hábil povo das máquinas” – pintando paisagens pesadamente industriais e pós-apocalípticos com crescente intensidade. A secção instrumental, por sua vez, acompanhava a par e passo essa intensidade, desdobrando-se em distorcidas combinações de baixo, bateria(s) e componentes electrónicas que se congregavam num ressonante sucesso. Raras como são as performances de Mécanosphère, não poderiam ter deixado mais duradoura marca naqueles que a presenciaram.

Boa figura fizeram também The Damned, um dos mais antecipados grupos deste Reverence Valada, feitos cabeças-de-cartaz desde o cancelamento de Killing Joke. Não desapontaram nessa posição: acusando pouco ou nada dos anos que já levam às costas como banda dos primeiros (primeira single e álbum punk no Reino Unido, primeira banda britânica punk em digressão nos EUA), mostraram mais jovialidade que muitos dos seus júniores e contemporâneos (The Brian Jonestown Massacre poderiam ter usado um pouco dessa energia), dando um espectáculo tudo menos poupado em furor e vivacidade. Entre os destaques, contam-se a sua canção de assinatura, “Smash it Up”, deixada para o final, e “Neat Neat Neat”, um dos recortes do seu disco de estreia, “Damned Damned Damned”. Num espectáculo que, de resto e de forma bastante surpreendente, fez mostrar mais da ala punk  da sonoridade de The Damned que da sua era mais gótica, não faltaram sorrisos, aplausos e danças vindas do público a honrar os sexagenários que tanto deixavam em palco.

Fotos: Paulo Maninha