Ritek Paredes de Coura: reportagem e fotos dos dois primeiros dias
ABERTURA DO RITEK PAREDES DE COURA
Crystal Castles e Wild Beasts aumentaram expectativas para restante festival.
A Arte Sonora chegou ao deslumbrante local onde se realiza o festival Ritek Paredes de Coura já Omar Soleyman fazia o seu excêntrico cruzamento entre escalas norte-africanas e beats electrónicos agitar o público. Um bom concerto de acolhimento, ainda assim algo longo considerando a sensação de alguma repetição das estruturas musicais apresentadas.Os Wild Beasts surgiram com um backline composto e a prometer força, com um Roland Jazzchorus (é sempre surpreendente a beleza do som deste amp – por mais que se ouça), um Fender Twin Reverb e ainda um Vox, com uma rack Ampeg a sair directamente para a mesa e ainda uma Gretsch em jeito híbrido (acústico/electrónico) com dois timbalões da E-Pro da Pearl. Seria fácil esperar que o som surgisse rico em médios, bonito e brilhante, como aconteceu. Há logo outra coisa a dizer do público do Paredes de Coura – o seu entusiasmo e compromisso com as bandas é real e os Wild Beasts sentiram isso, maravilhando-se com o público, sendo embalados para uma actuação “solta” e bem musical – poderá parecer que estou a usar redundâncias, mas são mesmo intencionais – nem sempre as bandas soam assim, por inexperiência ou incapacidade próprias. O final do concerto foi mesmo deslumbrante.Num registo poderoso, iniciaram os Crystal Castles o seu set de perfeito terrorismo electrónico, experimental e psicadélico – o único senão eram as carradas de fumo despejado pelas máquinas que impediam uma boa visão dos músicos. Depois a banda também entrou noutra zona do seu catálogo, com uma estética que pessoalmente penso ser menos arrojada, mais dentro de paradigmas da dance music e por isso com um som mais quadrado, contudo o público não partilha minha visão e reagiu sempre entusiasticamente a cada momento do set da banda.
PRIMEIRO DIA DE PALCO 1 EM PAREDES DE COURA
Pulp e Delorean headliners a sério em cada um dos palcos no Paredes de Coura.
É doloroso abandonar o excelente ambiente junto à praia fluvial, onde se escuta ao longe o pequeno palco do Jazz na Relva, mas os concertos chamam, ainda assim os Murdering Tripping Blues foram assistindo ao preenchimento de público à sua frente, com o calor que se faz sentir cá por cima essa é uma luta inglória, mesmo para um bom concerto como os portugueses deram. Uma das maiores expectativas prendia-se com a actuação de We Trust, cujo single tem corrido todos os meios de comunicação e redes sociais, com muito entusiasmo da parte do público e mesmo de nós aqui na Arte Sonora; mas a banda não desiludindo acabou por transparecer alguma falta de rodagem que, de resto, é natural considerando o estágio actual do projecto. Espera-se por outra oportunidade para uma avaliação mais profunda.
Curioso o facto de o vocalista de Twin Shadow ter usado uma Jackson para grande parte do seu set. Sinceramente, desde os anos 80 que não via um guitarrista pop munido de uma das armas preferidas dos guitarristas de sonoridades mais extremas; e como se portou bem a guitarra – com uma enorme definição nos médios e um grande ataque, a dar uma dimensão seca e directa ao som dos Twin Shadow, suportada por um Fender Jazz Bass, que está a ser o modelo dominante dos baixos neste festival(estaremos perante uma tendência?), num concerto que elevou padrões de exigência e que as Warpaint mostraram dimensão à altura da herança que a banda promove do revivalismo dos anos 70, com vocais muito aproximados a Jefferson Airplane, embora musicados com uma atitude mais dentro da escola de U2, embora com uma proximidade com a pop celta duns Cranberries. Ainda assim, não pareceram conseguir soltar-se da concentração de execução e pareceram estar com uma postura um pouco distante do público. O mesmo se passou com Blonde Redhead, sem dúvida que há uma profundidade feérica na sonoridade, e uma simplicidade aparente nas estruturas sólidas e bem construídas, mas curiosamente a banda parecia não conseguir “encher” o palco e parecia desconfortável com o tamanho da assistência. Os Radiohead continuam os senhores desta estética minimalista, experimental e melancólica. Obviamente poderá haver quem não concorde, mas se pensarmos em comparação com o que foi o concerto dos Pulp. Foi gigante a banda, com um frontman como Jarvis Cocker que é um animal de palco e a comunicar com o público, criando uma empatia imediata e genuína entre a banda e quem assistia ao concerto. Foi um concerto arrasador, uma lição de como headliners se devem comportar, assumindo precisamente esse estatuto. Até agora (numa altura em que já se ouve a força sónica do baixo carregado de fuzz dos The Joy Formidable) são o concerto a superar.Os Delorean tiveram precisamente a mesma capacidade, mas no palco secundário. Dominaram emocionalmente quem os esteve a ver sem se ressentirem da debandada de público a seguir ao concerto dos Pulp. Uma banda com uma “agilidade” enorme, na capacidade de gestão dos vários momentos e elementos que integram na sua sonoridade.Amanhã há mais Paredes de Coura!