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Rock in Rio Lisboa 2024: Evanescence, Uma Montanha Russa de Emoções à Flor da Pele

Rock in Rio Lisboa 2024: Evanescence, Uma Montanha Russa de Emoções à Flor da Pele

2024-06-15, Rock in Rio, Lisboa
Rodrigo Baptista
John Batista
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De regresso a um festival onde já tinham sido felizes em 2004 e 2012, os Evanescence foram o nome mais pesado de um primeiro dia assente, maioritariamente, em bandas de hard rock.

Apresentando-se como uma espécie de co-headliner, a banda de Amy Lee moveu uma multidão para o Parque Tejo e presenteou-nos com uma performance bem encadeada com os grandes hinos do nu metal e as baladas ao piano a criarem uma dinâmica interessante entre momentos de maior explosão sonora e momentos profundamente intimistas e delicados.

Os Evanescence chegaram ao Rock in Rio Lisboa 2024 ainda com “The Bitter Thruth” na bagagem. O álbum editado em 2021 foi muito bem recebido pelos fãs e já gerou alguns semi-clássicos como “Wasted On You”, “Better Without You” e “Use My Voice”. Sem fugir à sua sonoridade tradicional assente numa fusão de nu metal, metal alternativo e metal gótico, a banda recrutou o produtor Nick Raskulinecz (Ghost, Halestorm e Stone Sour) para lhe conferir uma moldura sonora moderna, robusta e dinâmica. Ao vivo, as músicas de “The Bitter Truth” encadeiam na perfeição com os temas mais rodados dos álbuns “Fallen” (2003), “The Open Door” (2006) e “Evanescence” (2011) e demonstraram receber o selo de aprovação por parte dos fãs ocasionais que aguardavam pacientemente pelos maiores clássicos.

A Negritude Gótica à Luz do Dia 

Pouco passava das 20:00 quando, ainda com o céu azul e o sol a brilhar, os Evanescence subiram ao palco. Rapidamente fomos levados num misto de emoções. Com um repertório tão melancólico, com influências do gótico e apoiado numa estética negra, torna-se difícil não idealizar um concerto de Evanescence à noite, ou então, como deveria ter acontecido, ao pôr do sol, para apanhar essa transição entre o claro e o escuro. Ainda assim, tudo isto não passam de caprichos nossos, pois, independentemente das condições de luminosidade natural, os Evanescence apresentaram-se sem falhas. Aliás, à apenas apontar as condições meteorológicas adversas associadas ao vento intenso que, à semelhança daquilo que já se tinha passado no concerto dos Extreme, também boicotou a performance da banda de Amy Lee.

Após os primeiros versos entoados por Amy Lee eram muitos os que estavam rendidos ao seu encanto vocal.

Com uma setlist bastante semelhante à que já tínhamos ouvido no Campo Pequeno, em 2022, os Evanescence arrancaram com o concerto ao som da semi-novidade “Broken Pieces Shine”. Após os primeiros versos entoados por Amy Lee eram muitos os que estavam rendidos ao seu encanto vocal. O registo mezzo-soprano, o timbre e o controlo dinâmico são as grandes armas de Amy e por isso, não é de estranhar que surja sempre ao lado de nomes como Tarja Turunen, Simone Simons e Sharon den Adel aquando de uma discussão sobre as grandes vozes femininas do metal gótico/sinfónico. Seguiram-se “Made of Stone” e “Sweet Sacrifice”. «Muito obrigada» foram as poucas palavras que Amy soltou em português, mas isso não impediu a artista de passar a sua mensagem de empoderamento. Ainda extasiada com a quantidade de público que a banda arrasta para os seus concertos, Amy mostra-se grata e humilde na forma como interage com todos os fãs que têm acompanhado a carreira da banda ao longo dos últimos 21 anos.

Em “Taking Over Me”, a vocalista surgiu a dedilhar um Roland RD-700sx. Apoiada por uma banda de excelência, não há como não destacar o suporte harmónico e rítmico que Tim McCord, Troy McLawhorn, Emma Anzai e Will Hunt dão a Amy. Se no concerto do Campo Pequeno tínhamos destacado a energia jovial de Hunt, desta vez temos que enaltecer toda a secção das cordas. Tim McCord com as suas LTD Viper, Eclipse e Bill Kelliher Signature, Troy McLawhorn com as suas PRS Single e Doublecut e Gibson Les Paul Custom e Emma Anzai com o seu Ernie Ball Music Man Stingray dão robustez, peso e coesão à música dos Evanescence e, apesar de não terem estado presentes na banda quando os dois primeiros álbuns foram editados, respeitam as composições e interpretam-nas na perfeição.

“My Heart Is Broken You” e “Wasted On You”, dois temas que estão ali na fronteira do emo, foram entoados de forma catártica. Com o sol já a descer para o horizonte, o jogo de luzes que os Evanescence tinham ao seu dispor foi sobressaindo, deixando ainda espaço para a reta final do concerto contar com este embelezamento cénico. Mais à frente surgiram os hinos “Going Under” e “Call Me When You’re Sober”, que se entranharam no nosso coração e levaram-nos ao frisson, mais uma vez motivado pelo controlo vocal de Amy e pela sua capacidade de criar um ambiente intimista perante uma multidão de cerca de 80 000 pessoas.

Antes de “Use My Voice” houve ainda tempo para um discurso motivacional alongado. Num incentivo à liberdade, paz e erradicação do ódio, Amy apelou para que os fãs usassem a sua voz de forma consciente e autónoma. «Vocês são poderosos, usem esse poder para o bem e contra o ódio», disse a vocalista.

“My Immortal”, com um coro de vozes monumental e luzes ao alto, e “Bring Me To Life” encerraram a atuação já com a lua a espreitar no céu e a dar o seu sinal de aprovação. Ainda meio enfeitiçados, fomos andando e olhando para os rostos à nossa volta repletos de satisfação e apercebemo-nos que os Evanescence já não só a banda dos miúdos, agora graúdos, góticos e alternativos dos princípios dos 2000s, são uma banda que conseguiu passar o teste do tempo e alcançar um público multigeracional que, mais do que nunca, está agora desperto para lidar com todas as emoções que as músicas e letras de Amy Lee despertam.

SETLIST

  • Broken Pieces Shine
  • Made of Stone
  • Sweet Sacrifice
  • Yeah Right
  • Taking Over Me
  • The Game Is Over
  • My Heart Is Broken
  • Wasted on You
  • The Change
  • End of the Dream
  • Going Under
  • Better Without You
  • Call Me When You’re Sober
  • Imaginary
  • Use My Voice
  • My Immortal
  • Bring Me to Life