Santa Maria Summer Fest
2013-06-07, BejaNos passados dias 7, 8 e 9 de Junho realizou-se em Beja a 4ª edição do festival Santa Maria Summer Fest<i>, </i>um festival dedicado às sonoridades mais pesadas.
Organizado pela Junta de Freguesia de Santa Maria da Feira, o Santa Maria Summer Fest distingue-se dos demais eventos e festivais nacionais por ter entrada livre durante os 3 dias de espetáculos e estadia gratuita no parque de campismo municipal para os visitantes.
Apostando num cartaz forte e variado de bandas portuguesas, este ano recebeu também dois nomes internacionais, os austríacos VxPxOxAxAxWxAxMxC e os britânicos Doom, banda de culto de crust/punk. Esta iniciativa única a nível nacional transformou durante 3 dias o coração do Alentejo na Capital da Cultura, onde decorria também paralelamente o IX Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja.
Como recinto para os concertos foi escolhido o anfiteatro ao ar livre da Casa da Cultura, um espaço central da cidade com fácil e rápido acesso a cafés, restaurantes, ao parque de campismo, e até à piscina municipal, para os mais corajosos, já que nesse fim de semana as condições atmosféricas não estiveram muito propícias para a prática banhista. Estavam assim criadas as condições para três dias de festa e convívio nesta acolhedora terra Alentejana.
Dentro do recinto podíamos encontrar um Metal Market, com merchandise do festival e oficial das bandas, outras bancas com CD’s, roupa e acessórios variados. Várias barraquinhas de comes e bebes, e uma tenda After Party para os DJs convidados poderem animar os resistentes após o término dos concertos.
Durante a duração do festival, a organização demonstrou um interesse e atenção especial à componente social, tendo organizado uma campanha de doação de bens alimentares e não alimentares para a Cruz Vermelha Portuguesa e a Loja Social de Beja.
Destaque também para a iniciativa de criação de um booklet oficial, com textos de apresentação do festival e da cidade, os horários dos concertos e entrevistas a todas as bandas, realizadas conjuntamente pela Metal Horde e Morde Essa Bolacha Zine.
O primeiro dia foi marcado por alguma chuva, inesperada mas que não demoveu o público que acorreu em grande número para apoiar este evento, estando o recinto bastante composto. Não foi possível à Arte Sonora presenciar os primeiros concertos da noite, conseguindo testemunhar ainda à destruição dos Grog, que fecharam a noite, num ajustamento de horário devido a terem dado um concerto horas antes na vizinha Setúbal e terem existido atrasos imprevistos. Pedro Pedra apresentou no final do concerto as desculpas explicando a situação e agradeceu à organização e às bandas a disponibilidade e flexibilização. Num concerto poderoso e demolidor, a banda afugentou o frio que se fazia sentir no recinto e colocou o público a mexer, criando um enorme moshpit, incitado pelo sempre enérgico e comunicativo vocalista.
Os concertos nos três dias tiveram início marcado para as 20 horas, o que dava muito tempo para poder desfrutar da cidade ou do convívio entre amigos.
Para o início das hostilidades estiveram os Revengeance, com uma dupla de vocalistas e o seu Powerviolence extremo, seguidos pelos Morte Incandescente a apresentar o seu Black Skull Crushing Metal.
Os Gwydion foram presenteados no início da sua actuação com alguma chuva, rapidamente dissipada ao som de Fara I Viking do seu último registo “Horn Triskelion”. Continuaram a mostrar temas deste seu último registo de originais, destaque para Triskelion Horde Is Nigh onde conseguiram incitar o público a fazer um Wall of Death. Para finalizar Odhinn’s Cult e Six Trials to Become a Beerzerker. A banda teve sempre muita energia durante todo o concerto e conseguiu cativar o público com o seu Viking Metal.
De seguida e num registo diferente entraram em cena os Crise Total, que se encontram a celebrar os 30 anos de existência. Polícia de Intervenção e Santa Inocência alguns dos temas que levaram ao rubro o público presente, com muito movimento na plateia, invasões de palco e cantar de refrões a plenos pulmões, preparando o terreno para a dose seguinte de Crust/Punk, os Doom.
Notava-se a expectativa no ar, no checksound de bateria já dava para perceber a potência sonora que se iria desenrolar de seguida. Recinto bem composto e ansioso para ver esta mítica banda. Logo aos primeiros acordes começaram as características movimentações que deixaram a assistência “ao rubro” até ao final do concerto. Antisocial, Police Bastard e Nazi Die alguns dos clássicos tocados, tendo sido várias as invasões de palco para cantar junto com Denis e/ou cumprimentar os elementos da banda, algo que pareceu não agradar aos mesmos. Tivemos ainda direito a uma cover de Black Sabbath com Symptom of the Universe num concerto que agradou aos presentes e não desiludiu.
Os Midnight Priest, com o seu característico Heavy Metal cantado em Português, debitaram a sua Magia Negra e fecharam assim esta noite com bastante garra e energia.
No terceiro dia de festival o céu ainda continuava cinzento, mas a chuva não se fez sentir. Foi pena o sol não ter dado ar da sua graça e permitido usufruir da piscina municipal. Mas não foi esse pormenor que afastou os visitantes das esplanadas e cafés locais.
Os Irae deram início ao seu ritual um pouco depois da hora marcada, e cativaram os presentes com um Black Metal Necro.
Os Holocausto Canibal, com o seu Death/Grind sangrento, estiveram muito coesos e debitando uma energia impressionante. Visitaram todos os seus álbuns, dando especial destaque ao último registo lançado em 2012 “Gorefilia”, com temas como Mutilada em 10 Segundos, Supremacia Carnívora ou Gore & Gajas. Algumas mais antigas como as clássicas Violada pela Motosserra e Empalamento, e para fechar Putrescência Necromântica e Amizade Fálica.
Os Sacred Sin iniciaram o concerto com “The Shades Behind” do seu 1º EP com o mesmo nome lançado em 1992, tocando ainda mais algumas músicas desse registo, recentemente reeditado em Vinyl. Marcaram presença neste concerto alguns convidados para interpretar com a banda músicas que influenciaram e marcaram a mesma no seu percurso de mais de 20 anos.
Luís Simões (Blasted Mechanism, The Firstborn, Shrine) acompanhou a banda na guitarra em The Chapel of Lost Souls da sua “Promo Tape ’91” e uma excelente rendição da música The Masonry da sua extinta banda Shrine, que também cantou.
Muffy de Karbonsoul canta Arise dos Sepultura, num registo gutural e Rafael Maia dos V12 entra em palco para interpretar Comandos, sem antes José Costa referir que foi precisamente o nome da música Sacred Sin dos V12 que deu origem ao nome da banda. Continua de seguida a cantar Ace of Spades dos lendários Motörhead, reentrando no palco Luís Simões na guitarra, levando o público ao auge.
O último convidado da noite foi José Carlos (Neoplasmah, Nephtys, Martelo Negro) tocando com a banda outras das músicas e banda que os marcaram, Zombie Ritual dos Death. Para o fim guardaram a excelente dupla Darkside e Eye M God.
Os Ibéria vieram a Beja apresentar o seu novo vocalista Hugo Soares, referindo que estiveram parados durante seis meses devido à alteração de line-up e que este era o concerto de estreia do mesmo. Iniciaram com Revolution do seu último álbum e recuaram de seguida 25 anos com Warriors, do seu primeiro registo homónimo. Mostraram ao longo do concerto grande segurança no seu Hard Rock, com especial destaque para o vocalista, sempre comunicativo com o público, adaptando-se muito bem a interpretar os temas da banda. Tivemos ainda direito a um solo de bateria e de seguida um dos momentos de maior interação com o público em Fuck The Teacher, onde Hugo conseguiu incitar o público a uma mini-batalha dos sexos a cantar o refrão. Um set equilibrado, onde foram alternando músicas do seu último álbum como Angel e dos registos mais antigos como No Pride. Tocaram também Night Train, dos Guns N’ Roses, finalizando com o seu tema clássico Hollywood.
Os Process of Guilt entraram em palco com a sua imagem já característica, pouca luz no palco, muito fumo, sombras e ambiência sinistra de tons avermelhados. Muitos fãs da banda presentes para esta celebração, cantando as letras e deixando-se “levar” pelos sons carregados que se entranham no corpo e na mente. Com temas longos e arrastados, riffs repetitivos e hipnóticos, a banda acabou por tocar na totalidade o seu último álbum “Faemin” de 2012. Excelente prestação e coesão do quarteto de Évora.
Alcoholocaust, demonstraram toda a fúria do seu Satanic Thrash Alcoholic Metal, fechando assim em grande a noite e o festival.
O som de todas as bandas esteve sempre bom durante toda a duração do festival, todas as bandas agradeceram a oportunidade, o convite feito pela organização e as condições oferecidas, um evento com saldo positivo em todos os aspectos.
Aguardamos a próxima edição com expectativa.
ESCRITO POR: Pedro Raimundo
FOTOS: Joana Cardoso