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SBSR – DIA 1 [05.07.12]

Inês Barrau

SALTO: Nome anunciado à última da hora. Surpreendeu quando entrou em palco. Não é o primeiro festival, é certo, mas foi a primeira vez num palco principal. Animados do início ao fim, souberam muito bem agarrar o público, ainda pouco familiarizado com as músicas da banda. A grandeza do palco não os intimidou, foram ganhando confiança e deram um verdadeiro concerto.

THE HAPPY MESS: Foi visível o prazer da banda no que estava a fazer, apesar de um público amorfo. Só terem um EP é razão provável para ainda não terem alcançado a curiosidade do público e muita gente manteve-se no palco principal. É pena, a performance da banda foi boa, tendo até preparado dois temas para o festival que não fazem parte de “October Sessions”, o registo de estreia.

CAPITÃO FAUSTO: Mantiveram os trunfos nacionais na mesa, num concerto em crescendo. A banda tratou o público como “amigos” e foi isso que pareceu. Houve uma certa intimidade entre ambos. Um bom público é sempre meio caminho andado para um bom concerto, mas isso não chega para definir o que os capitães fizeram em palco. Estiveram ao mais alto nível. Mas sempre humildes, lembrando que o ano passado estavam do lado de cá e que nem todos têm a sorte de subir a um palco assim. Os miúdos têm uma boa onda que atravessa e invade o público, com solidez na suas bases musicais que integram influências com o swing de uns Já Fumega, cuja latinidade chega a tocar Santana (houve ali um riff muito “Black Magic Woman” – kudos por isso), isto admitindo que a banda eventualmente não se reconheça nestas referências. Um som cruzado entre o vintage e a modernidade nas guitarras (com um par de Telecaster e um sempre visto baixo Hofner, ao estilo Paul McCartney), com um backline colorido pela Orange, só se embrulharam um nadinha no final do segundo tema, quando o overdrive nos teclados criou alguma confusão.

ALABAMA SHAKES: No palco secundário, viajamos até Atenas, Alabama. O espaço começa a compor-se. Esta banda nada tem de secundária, mas funcionou lindamente num espaço mais familiar. “Hold On” foi o Ás usado, logo na segunda posição do alinhamento para agarrar o público. Que de resto não teria outra solução diante da soul poderosa que a voz de Brittany Howard emana. Um verdadeiro exemplo de força feminina, esta lead singer é o Power, sem precisar de acessórios ou quaisquer tipos de produção. É uma Diva! Em torno da soul que transborda a banda moveu-se desde um rythm n’ blues ao swing, pincelado pelo sentido folk de Dylan e o urbanismo de Bob Seger. Outra das figuras da banda é o baixista Zac Cockrell, surgiu munido de um Fender Precision Bass amplificado por um Ampeg SVT, as guitarras amplificadas por um combo Orange AD30 e um Fender (cujo modelo não foi possível discernir). Tudo na banda procura um sentido vintage, desde as canções ao backline, no qual brilhava o Hammond XB3, que o músico de tour, Bem Tanner, usava em parceria com um Nord. A banda a soar com um colossal controlo dinâmico, na fusão dos crescendos de guitarra com o acréscimo de intensidade no piano – e depois a forma como usavam o silêncio como elemento musical, sem quebras. Lutam com Battles no destaque do primeiro dia do SBSR. Foi um concerto memorável!

DÂM FUNK: Stevie Wonder do novo milénio?! Bom groove, electro funk cativante e o boogie que impede a paralisação de qualquer corpo. A electrónica só disfarça o estilo 70’s, de forma a conquistar um público que de outra maneira não teria o privilégio de apreciar tão boa música. Muitos sintetizadores que serviam, principalmente, como som introdutório. A alma de Dâm Funk é a soul e o rock, traduzidos em funk, funk electrónico que levou o palco @Meco a uma experiência por demais agradável.

Fotos Conceição Pires

BLOC PARTY: Abaixo das expectativas. Kele sem a sua energia habitual, principalmente lembrando um concerto o ano passado no Optimus Alive quando o grosso do público se encontrava a ver Foo Fighters e o músico fez a festa com menos de 100 espectadores. “Banquet” não levantou poeira como era de esperar. Apatia era o que se presenciava do lado de cá do palco. Mas como que sedentos de assistirem a algo melhor, ainda assim foi o público a puxar pela banda. Talvez o problema tenha sido não ter estado uma banda a tocar mas simplesmente um conjunto de músicos a executar o seu instrumento. Melhoraram no final, mas já não foram a tempo. Este acabou por ser um problema que pareceu instalar-se entre os headliners.

BAT FOR LASHES: Num estilo de música tão intimista, Bat for Lashes teve um início algo prejudicado pelo facto de se ouvir as músicas dos outros palcos. Mas a Música é senhora de si e foi-se impondo. O público continua reticente, mas deixando-se levar aos poucos. O espaço compõe-se mais e mesmo os mais faladores vão-se rendendo à beleza da voz, da melancolia… como se hipnotizados, a balançar ao ritmo imposto. Quer se goste, quer se não goste, todos ficam rendidos a esta beleza doce de voz. É a sua fragilidade que a torna forte. Apesar de tudo, não foi suficiente para o festival ou então foi o festival que não foi suficiente. Houve esforços de interação mas o público não esteve fácil.

INCUBUS: Poderia usar-se o texto sobre Bloc Party para descrever este concerto. Apesar de ter sido a banda que reuniu mais pessoas diante do palco principal, os Incubus pareceram desiludidos com o pouco público – talvez tendo na memória a enchente que provocaram na última visita ao nosso país. É difícil de explicar esta banda, todos os músicos tocam bem, mas as músicas, somadas as partes… os arranjos e estruturações harmónicas soam displicentes, e as partes, mais as individualidades dos músicos, não soam unas. Naturalmente o público reagiu entusiasmático a “Drive”. Alguma pena de não ouvir um favorito pessoal como “Dig”.

APPARAT: Empenho na execução, envolvência de excelência. Prazer no que se faz, fechados em sim mas ao mesmo tempo a passagem desse prazer para a audiência. Curiosamente, um misto de distância mas ao mesmo tempo de comunhão com o público. Quando a entrega é tão verdadeira e sentida, é impossível não ser apreciada. Levaram-nos para outra dimensão, num alinhamento muito bem pensado nessa perspectiva. “Vive cada dia como se fosse o último!”, Apparat tocaram como se fosse a sua última vez. O público não deu conta da qualidade a que estava a assistir, até à última parte em que o ritmo acelerou e entrou mais na onda que a assistência daquele palco mais prefere.

FLYING LOTUS: Drum&Bass de excelência, dubstep actual e tudo num set bastante homogéneo. O dj esteve imparável e incasável, a curtir mais do que ninguém. Toda a gente, que era pouca, entrou na onda e dançou hyper contagiada pela energia do dj. Flying Lotus foi o Power! O dj parecia um menino de volta dos seus brinquedos, estava com uma alegria e satisfação genuínas.

BATTLES: Mais uma presença, a terceira, em Portugal e mais um concerto magnífico. Um oceano de estruturas em síncope, sempre com capacidade e pertinência melódica, como é exemplo perfeito o tema mais reputado da banda, “Atlas” – os Battles são actualmente uma banda única no interesse que despertam numa audiência e no sentido devocional que podem provocar a um músico que os esteja a ver em palco – se for esse o caso do assistente, então é como estar a assistir a uma palestra de um brilhante matemático, mas de uma forma perfeitamente acessível, sem condescendência. Não há como não destacar o baterista brilhante que é John Stanier, a sua capacidade de manutenção de tempo… é, literalmente, como estar a ouvir uma máquina. Um concertão a mostrar temas dos dois álbuns da banda, “Mirrored” e “Gloss Drop”. A única banda que poderia ter estado em qualquer um dos 3 palcos

HOT CHIP: O headliner que se mostrou em melhor forma. O factor principal para isso foi a actuação perfeita da baterista Sarah Jones (New Young Pony Club), com simplicidade e eficácia a colar o mundo analógico e o digital da banda. Munida de uma Tama e dum pad da Roland, foi o elo entre a imensa excentricidade de sintetização do enorme número de músicos em palco. Uma actuação em que a banda se esforçou por não acusar o aspecto desertificado da plateia.

Fotos Miguel Mestre