Quantcast
Stoned Jesus, Os Mestres da Realidade no LAV

Stoned Jesus, Os Mestres da Realidade no LAV

2024-04-22, Lisboa Ao Vivo
Rodrigo Baptista
8
  • 7
  • 8
  • 8
  • 10

Na sua primeira visita a Portugal após o início do conflito bélico na Ucrânia, os Stoned Jesus aliaram a sua sonoridade pesada e arrastada a uma mensagem de esperança. Riffs alucinantes, headbang em câmara lenta e um leilão de um vinil em cima do palco, assim foi o regresso dos Stoned Jesus a Lisboa.

A noite começou com a performance dos franceses Mars Red Sky. Numa actuação que durou cerca de 50 minutos o trio abriu as hostilidades com o seu stoner rock psicadélico através de temas como “Collector”, “The Light Beyond” e “Strong Reflection” que certamente cativaram novos fãs.

 

«Podes baixar um pouco o baixo?», disse o vocalista e guitarrista Igor Sydorenko para a frente de casa num breve line check que decorreu mal os Stoned Jesus entraram em palco, para além das queixas com a iluminação. Para alguns, isto pode ser considerada uma demonstração de falta de profissionalismo, mas, quando estamos a falar de um género de nicho como é o stoner rock, tudo isso passa ao lado. Aqui não há show off, nem sequer produções exuberantes e a sensação é de estarmos a assistir a um concerto de garagem, tal é a intimidade, crueza e “imperfeição” apresentada na performance.

Formados em 2009, o trio ucraniano, composto também pelo baixista Andrew Rodin e o baterista Yurii Ciel, tem nos Black Sabbath, Led Zeppelin, Electric Wizard e Sleep as suas grandes influências. Numa fusão de doom, stoner e sludge, a banda consegue produzir paisagens sonoras densas, mas sem pincelar demasiado a sua tela. Apesar da extensa duração, as músicas dos Stoned Jesus primam por alguma simplicidade composicional, onde a repetição exaustiva dos riffs é a palavra de ordem. Porém, estes ganham uma dimensão estratosférica quando lhes são aplicados efeitos hipnotizantes como o fuzz e o phaser. “First Communion” de 2010 foi o primeiro álbum a mostrar essa valência. Seguiu-se “Seven Thunders Roar” em 2012 com a épica de 13 minutos “I’m the Mountain” e a exploração das guitarras mais acústico. “The Harvest” de 2015 trouxe uma abordagem mais progressiva à sonoridade dos Stoned Jesus. Mas, foi com “Pilgrim”, editado em 2018, que a banda alcançou um público mais vasto fora das paredes sonoras do stoner. “Father Light” é o último trabalho do power trio e o primeiro a ser editado na Seasons of Mist. Inicialmente previsto para 2020, teve que ser adiado devido à pandemia. Porém, a espera valeu a pena, com o álbum a ser lançado em 2023 e a apresentar nove músicas distribuídas ao longo de 75 minutos.

Para nós, público, o som esteve sempre impecável e extremamente definido, algo que nem sempre é fácil nestas sonoridades mais rugosas.

“Bright Like the Morning” foi a escolhida para abrir o concerto. Com uma estética a fazer lembrar algum material dos suecos Opeth, os Stoned Jesus mostraram-se numa espécie de aquecimento e ainda à procura de um certo equilíbrio sonoro na sua monição. Para nós, público, o som esteve sempre impecável e extremamente definido, algo que nem sempre é fácil nestas sonoridades mais rugosas. Seguiu-se “Porcelain”, a primeira passagem pelo mais recente álbum de estúdio e que mostrou que os Stoned Jesus também vão beber algumas influências aos Tool. “Thessalia” revelou-se o primeiro grande quebra pescoços da noite com um riff extremamente cativante que não deu descanso a qualquer headbanger que se preze. Por esta altura, Sydorenko já tinha tirado um momento para agradecer ao público e para demonstrar toda a sua nobreza para com o seu país ao anunciar que na mesa de merchandise estava à disposição dos fãs uma recolha monetária para ajudar a Ucrânia. O aplauso que veio do público revelou-se sentido.

Sem grandes exuberâncias no que diz respeito ao gear em cima do palco, os Stoned Jesus apresentaram-se com os mínimos e sem que fosse necessário recorrer a troca de instrumentos. Sydorenko nunca largou a sua Gibson RD que por sua vez esteve conectada a um stack Orange Rockerverb 50 + coluna Orange CR PRO412, Andrew Rodin recorreu ao seu baixo BC Rich, a um Hartke 2500 e a uma coluna Ampeg SVT 810 E, e Yurii Ciel percorreu as peles do seu kit Ludwig.

A bluesy “Thoughts and Prayers” antecedeu a suja e abrasiva “Black Woods”. Por breves momentos, Sydorenko saiu do palco e quando regressou trouxe consigo um vinil de “Seven Thunders Roar”. Sydorenko referiu que tinha encontrado uma caixa com doze discos daquele álbum e como a tour tem doze datas decidiu que iria leiloar um vinil por concerto e que o valor arrecadado iria diretamente para a ajuda à Ucrânia. O leilão deu-se logo ali, em cima do palco, com uma licitação base de 50€, com os mais audazes a dispararem licitações até o vinil ser arrematado por 110€ com o autógrafo de Sydorenko incluído. O momento revelou-se caricato e de boa disposição e ficou concluído com a performance de “I’m the Mountain”, malha presente nesse mesmo álbum.

A brincadeira continuaria mais à frente com Sydorenko a dedilhar o riff de “Alma Mater” dos Moonspell. “Get What You Deserve” foi o que nos serviram antes do encore. Regressados ao palco, foi com uma intro de  “I’ll Be There For You” dos The Rembrants que antecederam o petardo “Here Come the Robots”. Com o primeiro mosh da noite a formar-se prosseguiram para as despedidas com “Electric Mistress”.

Numa altura em que os maiores nomes do stoner vêm, por norma a Portugal, para tocar em festivais como o Sonicblast, situado no norte do país, este concerto dos Stoned Jesus, em Lisboa revelou-se uma agradável surpresa no calendário de concertos da Prime Artists.

SETLIST

  • Bright Like the Morning
  • Porcelain
  • Thessalia
  • Thoughts and Prayers
  • Black Woods
  • I’m the Mountain
  • Get What You Deserve
  • Here Come the Robots
  • Electric Mistress