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NOS Alive 2023: Puscifer e a Incompreensão do Subconsciente Criativo de Maynard James Keenan

NOS Alive 2023: Puscifer e a Incompreensão do Subconsciente Criativo de Maynard James Keenan

2023-07-06, Nos Alive, Lisboa
Rodrigo Baptista
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Ensanduichados entre os The Driver Era e os The Black Keys, os Puscifer tiveram uma recepção fria e pouco efusiva, possivelmente devido ao desconhecimento da mente criativa do seu estratega Maynard James Keenan. Apesar da sua competência, a sonoridade experimental do grupo não cativou a grande moldura humana que já se amontoava à frente do palco NOS.

Quando não está na estrada com os Tool, Maynard James Keenan ou está nas suas vinhas, no Arizona, ou então está a trabalhar com os seus dois projetos paralelos A Perfect Circle e Puscifer. O primeiro, à semelhança dos Tool, já passou por Portugal, mas o último apenas teve a sua estreia em território nacional no 6 de Julho, após uma longa espera.

Para os menos conhecedores, os Puscifer tiveram a sua génese em 1995, mas, após terem passado por mudanças de nome, só começaram a embalar com a edição, em 2007, do EP “Don’t Shoot the Messenger” e do álbum de estreia “V Is For Vagina”. Pensado como um projeto para explorar o subconsciente criativo de Maynard, os Puscifer apresentam uma sonoridade experimental virada para o rock alternativo e piscam o olho ao art rock, rock eletrónico e ao pós-industrial. Durante anos Maynard foi o único elemento fixo do grupo, mas mais tarde veio a integrar permanentemente a co-vocalista Carina Round e o guitarrista Mat Mitchell.

De há uns anos para cá têm trabalhado com o baterista Gunnar Olsen e o baixista Greg Edwards e trouxeram “Existencial Reckoning” ao NOS Alive, o último álbum da banda, editado em 2020, que explora de forma conceptual a ideia da existência de vida alienígena. Para combinar com esta temática também o espetáculo dos Puscifer está montado de forma a implementar vários elementos teatrais que remetem para este tópico. A juntar às intricadas projeções, os Puscifer apresentaram-se disfarçados de uma agência governamental que procura investigar a vida alienígena, mas com um toque jocoso, que é como quem diz com fatos, gravatas e óculos de sol vestidos, mas com perucas e maquilhagem espampanante, bem ao estilo provocador de Maynard.

Após uma projeção onde fomos guiados por um servidor digital, os Puscifer entraram em palco para partir para “Fake Affront”. Com um mic stand peculiar preso à volta da sua cintura, Maynard e Carina demonstram que as suas vozes casam de forma perfeita. Antes de partirem para “Postulous” Maynard saudou os presentes e referiu de forma cómica que não estavam ali com intuito de procurar atividade alienígena em Portugal, passando depois a apontar para o público como que a contrariar o seu anúncio. Segue-se mais um momento de extrema comédia quando numa projeção vemos Maynard em personagem a estudar o verdadeiro Maynard como uma potencial ameaça.  “UPGrade” mantém-nos em “Existencial Reckoning” e mostra-nos que grande parte do segredo da sonoridade dos Puscifer está presente na utilização de sintetizadores Waldorf Iridium. Em palco contámos três, que foram sendo utilizados ao longo do espetáculo por Carina, Mat e Greg. “Horizons”, de “Conditions of My Parole” assente num beat de hip hop mostrou-nos aquela delicadeza e controlo dinâmico perfeito presente na voz de Maynard e que tantas saudades tínhamos de ouvir ao vivo.

Sem grande entusiasmo o público ia aplaudindo, a nosso ver mais por graça em relação às projeções, aos figurinos e aos aliens que iam aparecendo como figurantes, do que propriamente pela música que estava a ser tocada em palco. Reconhecemos que aos ouvidos menos treinados a música dos Puscifer possa soar demasiado experimental, mas ainda assim não se compara, por exemplo, às explorações sónicas de uns Tool.

A única representação do álbum de estreia, “V Is For Vagina”, coube a “Momma Shed”, esta sim com uma estética mais à la Tool, assim como “Flippant” de “Money Shot” (2015). Já “Man Overboard” e “The Remedy” concluíram uma atuação que pecou, acima de tudo por ter sido curta (cerca de 45 minutos). Face ao pouco entusiasmo do público, os Puscifer não se mostraram muito incomodados, pois já sabem que o contexto festivaleiro é um sempre um contexto muito particular. Nós na AS apenas esperamos vê-los num futuro próximo, de preferência em nome próprio.

SETLIST

  • Fake Affront
    Postulous
    UPGrade
    The Underwhelming
    Horizons
    Momma Sed
    Bullet Train To Iowa
    Flippant
    Man Overboard
    The Remedy