“Sea of Cowards”, o segundo disco dos Dead Weather, é um álbum de alquimistas do blues e do rock ‘n’ roll, daqueles que buscam a pedra filosofal e a essência visceral do género.
Este regresso do quarteto liderado por Jack White é brilhante da primeira à última nota. Uma viagem pelo misticismo do rock ‘n’ roll, através dum caminho negro, sujo e pesado, mas cheio de groove e estilo.
Quando se fala numa equipa com nomes como Alison Mosshart ou Dean Fertita, não esquecendo Jack Lawrence [The Greenhornes], é quase injusto estar a destacar um só músico, mas a verdade é que Jack White tem tornado em ouro tudo aquilo em que toca, desde que surgiu como um trovão com os White Stripes, e este segundo álbum de The Dead Weather é a confirmação de que estamos perante um dos músicos mais importantes deste milénio – pela forma como trouxe o blues de novo para o rock e este para a ribalta.
Já se sabia da capacidade de composição extravagante e extraordinária do músico que, no entanto, foi-se firmando num percurso ascendente como um guitarrista de pleno direito. Ouvir os solos, com tiques de Frank Zappa, ou riffs com a força do rock clássico, estabelecem White como um dos guitar heroes contemporâneos. E a contemporaneidade, de facto, permanece a grande arma do músico. A forma como sabe utilizar estruturas clássicas e modernizar-lhes o som. O que esta banda e este disco firmaram também, foi White como multi-instrumentista e como baterista, emprestado o protagonismo da guitarra a Dean Fertita, habitualmente em segundo plano nos Queens Of The Stone Age e aqui a revelar um carácter avassalador.
E a forma como detalhes de produção actualizam temas simples… Não é possível descrever este álbum, o número de ideias, de nuances em cada tema – nos riffs de guitarra, nas marcações dramáticas de piano, no poder seco das baterias. E tudo isto é conseguido com uma coesão e dinâmicas perfeitas.
Em 2010, “Sea Of Cowards” foi um dos álbuns do ano, acreditem, com um som com uma atmosfera herética, como a de bandidos a tocarem gospel. Uma espiritualidade eléctrica misturada com esquizofrenia acústica. Este é um álbum de alquimistas do blues e do rock ‘n’ roll, daqueles que buscam a pedra filosofal e a essência visceral do género. Em 2020, permanece como um dos melhores discos da década.
Tudo isto foi conseguido menos de um ano após o primeiro lançamento, “Horehound”, que já havia sido uma bomba. Cinco anos depois, surgiu “Dodge and Burn”. Outro tufão eléctrico, carregado de riffs que o tornariam outro clássico imediato, com Alison Mosshart a arrasar!