“Is This The Best You Can Do?!” é o primeiro álbum solo do shredder Tó Pica, carregado de sensibilidade melódica, licks vibrantes e muito espaço para os vocalistas convidados.
Com uma carreira enraizada nas origens do metal extremo português, com os Sacred Sin (aos quais regressou com novo disco), com um currículo nos históricos RAMP, nos Anti-Clockwise e numa série de colaborações como convidado ou session player, Tó Pica já tinha feito de tudo, menos um álbum a solo. Foi em 2015 que editou “Is This The Best You Can Do?!”. Repetimos a pergunta: É isto o melhor que Pica pode fazer?
Progressões de escalas orientais, com toques de Marty Friedman, a omnipresença do estilo de fusão pós grunge de Mark Tremonti (“Binding The Distance”, até vocalmente, é quase um tributo aos Alter Bridge), muitos dos fumos sónicos dos RAMP, naturalmente. São estas as bases estéticas mais salientes do álbum. Começando pelos aspectos negativos, o corpo sonoro do disco tem momentos de algum desequilíbrio, separando de forma bastante fria a secção rítmica das guitarras, com um dinamismo muito flat e criando momentos em que há elementos como os pianos que surgem demasiado in your face. É desapontantemente plástico nesse aspecto.
Até porque o álbum acaba por reflectir a riqueza da carreira itinerante de Pica e, muito pelo seu corpo sonoro, acaba por não ser homogéneo como poderia. Isso é causado em certa forma pelos vários vocalistas convidados, mas essa decisão é também uma das mais-valias do álbum. Não há sombra de dúvida de que Pica poderia ter optado por um álbum a esgalhar a guitarra de uma ponta à outra. Ainda bem que decidiu não fazê-lo. Porque os vários convidados trazem um dinamismo vigoroso ao disco, e o sentimento que é emprestado a alguns temas consegue fazer transcender as limitações físicas da gravação.
Sim, “Espelho”, com Tobel a emprestar todas as suas idiossincrasias à canção, soa emocionalmente poderosa em português e é consensualmente o momento mais destacado do álbum. Tal como os momentos de maior propulsividade como “My Time Has Come” (cantada por Marco Resende), a frenética “Suspended Metamorphosis” (também com Tobel) e “Faceback” (excelente prestação vocal de David Pais). Estes temas são malhões!
No entanto, a jóia da coroa, é a forma sóbria que Pica empresta a sua técnica às canções, sem demonstrações desnecessárias de virtuosismo, nem nas duas peças instrumentais “The Urge” e “…And Just Breathe”, a abrir e fechar o álbum respectivamente. Antes, o guitarrista desvenda o seu amplo talento como songwriter, dono de uma grande sensibilidade melódica. Atenção, não pensem que não há shred como manda a lei, porque há!
A terminar, fica-nos a sensação de que o álbum podia ter sido encurtado em dois ou três temas. Se são fãs de baladas, como esse gajo de enorme coração que é o Tó, então podem subir mais um valor à nota geral que atribuímos ao disco. Quando à resposta ao título, não. Não é o melhor que pode fazer, venha o segundo!