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Vodafone Mexefest

2011-12-03, Av. da Liberdade, Lisboa
Redacção

Segunda e última noite do festival Vodafone Mexefest e as atenções recaem sobre James Blake – o londrino era o nome mais aguardado da noite e do festival. A tenra idade não o traiu e a sua actuação no teatro Tivoli foi fenomenal.

20.30 – A noite começou na Igreja de S. Luís dos Franceses onde encontrámos o Coro Africano da Igreja de São Luís dos Franceses dirigido pelo maestro Benjamin Mendy, mestre de uma simplicidade cativante. Os bancos da igreja estavam cheios e quem por lá se sentou pôde ver um coro amador que encantou de uma forma profissional. Os diferentes dialectos, sons e ritmos africanos deram a esta actuação algo de surpreendentemente bom.

21.15 – Andámos alguns metros até à Sociedade de Geografia de Lisboa onde já actuava Rui Carvalho, também conhecido como Filho da Mãe. Depois de subirmos a imponente escadaria, encontrámos uma sala quase cheia, que chegou a ter fila à porta durante grande parte do concerto, embora a hora fosse de jantar. Cadeira ocupada e a música do Filho da Mãe é banda sonora ideal para a contemplação da belíssima sala, pena não existir um palco que permitisse ver (além de ouvir) a apurada técnica de tocar guitarra de Rui Carvalho.

22.00 – Subimos até ao terraço do hotel Tivoli para ver Foxes In Fiction, deixando para trás a actuação dos Dead Combo, não por subestimarmos a arte de Tó Trips e Pedro Gonçalves, mas porque tivemos o privilégio de os ver recentemente no Sintra Misty. Warren Hildebrand é um miúdo que inventa novas sonoridades electrónicas que resultam em ambientes melancólicos e foi isso que nos mostrou no terraço, onde a vista sobre a cidade é imponente. Descalço, foi tocando guitarra e “brincou” com loops e electrónicas. Não disfarçou o contentamento por ter a sala composta – o concerto foi um convite a entrarmos no seu apartamento e termos direito a um espectáculo privado.

22.40 –  Chegámos ao Teatro Tivoli e ainda se ouviam os Dead Combo, mas à porta já se formava uma fila de alguns metros, o senhor que se seguia era James Blake. Findo o concerto, era hora de escolher o melhor lugar possível, porque a sala estava cheia. Aos seus lugares, senhoras e senhores, James Blake em palco, acompanhado por uma baterista e um guitarrista. A rendição do público foi imediata e a do britânico chegou pouco tempo depois, agradecendo a sala cheia. Numa actuação de quase hora e meia, James Blake conseguiu a primeira ovação com “I Never Learnt To Share”, a partir daí foi sempre a subir e músicas como “Wilhelms Scream” e “Limit To Your Love” deixaram a sala em êxtase. Embora seja um músico jovem e quase toda a sua música seja feita de pequenos detalhes de electrónica, mostrou que tinha a lição bem estudada e mais do que conseguir transpor o disco para o registo ao vivo conseguiu dar-lhe uma roupagem mais enérgica e dançável, a que muito se deve também a presença de uma bateria em palco. “CMYK” foi disso exemplo e nessa altura a vontade era a de não termos cadeiras na sala mas antes espaço para dançar. James Blake ainda presenteou o público com aquilo que pareceu ser um encore genuíno, onde interpretou sozinho e ao piano “Case of You”, original de Joni Mitchell. Antes de tocar a música explicou que actualmente toca piano muito menos tempo do que aquilo que as pessoas pensam e aqueceu um bocadinho. Sem “rede” na voz acabou por mostrar algumas falhas na interpretação, mas mesmo assim “Case of You” foi a cereja em cima do bolo daquele que foi o melhor concerto do festival, pelo menos daquilo que vimos.

01.00- Ainda passámos pelo cinema São Jorge onde já actuavam os Toro Y Moi numa sala esgotada, pelo que decidimos em seguida partir para o rock underground dos Blood Red Shoes no metro dos restauradores. Aí a sala também estava cheia e mais uma vez palco nem vê-lo. Terminou assim o festival que anima a Avenida da Liberdade e permite ao público ver o maior número possível de espectáculos, em duas noites consecutivas, com os defeitos e virtudes que isso acarreta –  não esquecendo a oportunidade de descobrir salas e a cidade de Lisboa.

Por Nélio Matos | Fotos Ron van Middendorp