Bizarra Locomotiva Big Band, todos a bordo!
2014-06-14, Cine Incrível, AlmadaA Arte Sonora esteve presente numa iniciativa que me arriscaria chamar de um testemunho de uma geração! Estou a falar da comemoração e visionamento do início de carreira de um dos nomes mais irreverentes, independentes e coesos que considero no nosso meio!
A noite arranca na tela do Cine, com um testemunho de uma geração, a qual me incluo, em que um País conhecido pelo Verde do Douro, o Dourado Alentejano e o azul do mar Algarvio, é movido pelo cinzento, fustigante e repetitivo industrial das grandes metrópoles, aqui neste caso pelo distrito de Lisboaseparado pelas duas margens do Rio Tejo, mas ambas com intrínsecas semelhanças!
Aconselho vivamente este doc. “Bizarra Locomotiva” realizado por Paulo Prazeres e DROID I.D. Dos mais simples que vi sobre como nasceu determinado estilo musical, mas entre os mais eficazes no passar da mensagem, e sendo da mesma geração revi-me completamente nos testemunhos, principalmente no do Sidónio e no do Fonseca, com a interligação da banda, animação (que é primordial para prender a nossa atenção logo no início) e narração dos intervenientes muito bem equilibrada e conseguida – só pediria (talvez numa perspetiva de fã) testemunhos de músicos antigos e outros que foram influenciados pela Locomotiva.
Entre o Documentário e o concerto, como ligação, a sonoplastia contundente dos Bizarra a anunciar que o trem está de partida para uma noite intensa de música. E desde o primeiro decibel a soar até ao último, o som do concerto esteve sempre em alto nível, o que com tantos convidados diferentes poderia ser um problema à festa.
A primeira vez que vi Bizarra foi quando fizeram a primeira parte dos Xutos no Campo Pequeno, em 94, ainda na altura do álbum homónimo. Lembro-me de os chamarem de “Young Gods Portugueses” talvez por terem uma formação parecida – e que formação!, sem desprimor para os mais recentes, o Sídónio, Armando e o Ernesto na bateria. Na altura fiquei rendido à intensidade de Sidónio e ao corpo pujante e hipnótico do trio completo, que mesmo com as várias formações ao longo dos anos nunca deixou decair a intensidade da sonoridade, ganhando ainda mais coesão e dinâmica com o contributo e experiência de Fonseca, com o projeto Mofo – que fica o aparte em como também vale a pena ser ouvido!
O concerto arrancou muito bem com o tema “Procissão dos édipos” e nos dois primeiros temas o Berton foi acompanhado na bateria pelo Pedro Almeida (Tree of Signs), que se fez notar no acrescento do poder da banda aquando da Coda final do primeiro tema!!! Convidados passando pelo Bruno Bertron “Velho”, como referenciado no documentário é grande influência do baterista da banda (e irmão), Simão (Martelo Negro), que agarrou os temas com uma garra gutural pungente, mostrando a habilidade dos temas para o metal e não só para o industrial, Arlindo Cardoso (baterista de Low Torque) que levou os temas como uma turquesa, sempre conciso, Daniel Cardoso (Anathema) que levou para a bateria aquela leveza de quem se diverte e disfruta o que está a tocar, com um olhar de “bora lá Berton”. Ainda não tinha visto Bizarra com baixista, que torna o som mais forte e orgânico em cima de palco, aumentando ainda mais um pulsar do Homem Máquina!
Tobel (Slamo, Orgasmo) que participou em temas e se no primeiro entrou ainda a frio, logo nos prendeu com um sincopado vocal a desafiar a bateria; e no segundo tema em que participa, o primeiro do encore “Peixe Vermelho”, faz uma viagem harmónica e melódica entre a mensagem do Sidónio e a corda bamba melódica do teclista.
Foi a participação da Dupla dos Micro Audio Waves que me fez arrepiar, dado a imagem que tenho da cantora (Claudia Efe)num projecto bem soft, foi surpreendente vê-la acrescentar um pormenor ao redor do trabalho de Sidónio – na realidade foi uma sonoplastia vocal entre a Beth Gibbons e a Bjork, a fazer levitar a “coisa morta” com um controlo sublime e subtil a filtrar os
fx em tempo real do número dois dos Micro Audio Waves, C. Morgado!
E eis que aparece o convidado mistério, com a vestimenta acrílica e plástica da banda, revelando nada mais nada menos que o “Maquinista” BJ a deambular uma felicidade da força dos temas em conjunto com Sidónio! Phantom Vision também presente a dar o seu toque gótico e singular e a levar o tema Engodo mais além!
Mas a maior das surpresas estava para vir, quando sobem ao palco dois antigos companheiros de Fonseca, JP e Quaresma, um dos projetos mais inovadores nos anos de ouro do Death Metal, tanto nacional como europeu, e a jogar em casa: Thormenthor! Juntos na negritude da Locomotiva a fazer explodir o “Escaravelho” e com direito a um tema de Thormenthor, “Karma´s Retribution”, e aí foi altura de ir para a frente e abanar a cabeça… Bom demais para resistir!
No fim e em grande, diga-se!, Fernando Ribeiro (Moonspell) encaixou que nem uma luva nos temas e rasgou com garra de lobo o estilo gutural, ao lado do Sidónio. É altura de todos subirem ao palco, a jeito de celebração da grande prestação e entrega de Bizarra Locomotiva!
SETLIST
- 1.Procissão dos Édipos (com Pedro Almeida)
2.Egos Descentralizado (com Pedro Almeida)
3.Apêndices (com Simão)
4.Gatos do Asfalto
5.Desgraçado de Bordo (com Bruno Breton)
6.Buraco Negro (com Bruno Breton)
7.Cavalo Alado
8.O Frio (com BJ e Arlindo Cardoso)
9.Outono (com Tobel)
10.Ergástulo (com Simão e Daniel Cardoso)
11.Candelabro do Amor (com Daniel Cardoso)
12.Druídas (com BJ e Daniel Cardoso)
13.Coisa Morta (com Micro Audio Waves)
14.Engodo (Phantom Vision)
15.Cada Homem (com Thormenthor)
16.Escaravelho (com Thormenthor)
17.Karma’s Retribution (com Thormenthor) - 18.O Peixe Vermelho (com Tobel)
19.Se me Amas
20.Fantasma (com Fernando Ribeiro)
21.O Anjo Exilado (com Fernando Ribeiro)