Vodafone Mexefest: Os destaques dia 2
2016-11-26, Vodafone MexefestAo segundo dia de Vodafone Mexefest o S. Pedro não pareceu querer dar tréguas e espalhou chuva um pouco por toda a Avenida da Liberdade. Esse aspecto, ainda assim, não pareceu abrandar os demais festivaleiros que se espalhavam pelas várias salas prontos para mais uma noite de concertos.
Logo cedo pelo Coliseu dos Recreios tivemos a possibilidade de assistir a um dos nomes mais badalados da Soul e R&B actual. Com “Weight in Gold” na lista dos álbuns sensação de 2016, Gallant encheu a sala com os seus poderosos falsetes acompanhados de uns frenéticos dance moves. Com uma banda a fazer justiça à figura do cantor este concerto foi a prova viva de que Gallant, apesar de ainda desconhecido pela maioria do público, é um nome medido a peso de ouro quando se fala das revelações pop de um futuro próximo. No final o resultado foi uma audiência completamente rendida a um músico emocionado com a receptividade da mesma.
Na primeira actuação da noite do Tivoli, Mallu Magalhães não poderia ter transparecido mais da personalidade que tanto intriga o público português. Mostrando porque é uma das mais cotadas cantautoras brasileiras no país, interpretou as suas canções à viola com uma sinceridade contagiante (“Sambinha Bom” foi especialmente aplaudido), intercalando-as com alguns dos temas que contribuiu para o projecto da Banda do Mar (“Me Sinto Ótima”, “Seja Como For”). À voz imaculada de Mallu é dado reforçado destaque quando acompanhada apenas do seu “violão”, uma combinação que acabou por dar belos frutos: antes da saída, fomos ainda presenteados com uma magnífica versão a capella de “Chega de Saudade”, de Antonio Carlos Jobim. Mais um momento digno de recordação do festival.
Enquanto a doce voz de Mallu hipnotizava o público do Tivoli, pelos lados da Estação Ferroviária o americano Kevin Morby afugentava a chuva ao som da sua querida guitarra “Dorothy”. Foi com essa mesma música que o músico abriu o concerto para deleite do público bem familiarizado com “Singing Saw”, o terceiro trabalho do cantor. Tivemos seguidamente direito a “Harlem River”, o titulo de estreia do ex-membro dos Woods. Na xamânica “I Have been to the Mountain” já todos nos esquecíamos das doses de chuva que inundavam Lisboa e apenas cantávamos em uníssono o refrão deste single. A dinâmica com a guitarrista Meg Duffy foi um dos pontos chaves do concerto e, provavelmente, do brilhante produto final que é o seu novo álbum. Foi com “Miles,Miles,Miles” que lentamente saíamos do hipnotismo deste folk rock e nos lembrávamos do que ainda faltava palmilhar noite fora para podermos ver tudo o que acontecia pelo Mexefest. Desejando o poder da omnipresença, para ficarmos a assistir mais um pouco, despedimo-nos de Morby enquanto “Singing Saw” ressoava por toda a estação do Rossio. Do concerto fica o desejo de ver o músico em nome próprio numa sala mais digna e sob outras condições meteorológicas.
Naquela que seria, porventura, a mais grandiosa actuação no Coliseu dos Recreios (escusado será acrescentar de todo o evento), a venerável Elza Soares foi também a mais comovente delas todas. Não apenas pela avançada idade (completa 80 anos em 2017), ou por estar ainda na estrada não obstante crescentes e multiplicados problemas de saúde, mas principalmente por ter entregue uma performance atipicamente vanguardista para algum de nome tão estabelecido no imaginário popular brasileiro: acompanhada de um colectivo de qualidade óbvia, mesclava o que de mais tradicional reteve dos sessentas em que se impôs com batidas electrónicas, métricas irregulares e samples, lidando com temas de abuso, violência, solidão e dor com frontalidade e irreverência admiráveis. Do alto do seu trono, brilhou mais que todas as jovens estrelas do Mexefest poderiam.
Ao mesmo tempo que uns se encantavam com a “tropicália dark” de Elza, na Sala Montepio do Cinema São Jorge decorria a verdadeira festa do pijama. Carregando as “Mensagens da Nave-Mãe”, o músico Pz trouxe os seus beats saltitantes a uma sala completamente lotada para o ver distribuir o “Dinheiro” enquanto a “Neura” não passava. “Croquetes”, um dos singles mais conhecidos do irreverente cantor, foi um dos momentos altos deste animado concerto.
Em uma das mais cotadas instâncias do festival, os Whitney foram incapazes de fazer jus ao seu irresistível primeiro registo de estúdio, “Light Upon the Lake”. Os que esperavam poder assistir à banda em plena forma foram surpreendidos por uma famigerada formação reduzida a dois elementos, praticamente condenada ao fracasso não obstante o quão competentes estivessem (não estiveram). Com um falsetto fraquejante e guitarras que se ficaram pelo medíocre, foram uma aposta perdida. Mais sorte teve quem se ficou pela Casa do Alentejo para presenciar os frenéticos Taxi Wars, projecto paralelo de jazz de Tom Barman (dEUS), que na sua tendência inortodoxa fizeram infinitamente melhor papel.