Colin Greenwood, dos Radiohead, apela ao governo britânico para uma renegociação das disposições do Brexit em matéria de digressões internacionais. Caso contrário, poderá ser o fim das tours europeias para muitas das bandas inglesas.
A 1 de Fevereiro, a longa saga do Brexit chegou finalmente ao fim, mas as ramificações da saída do Reino Unido da União Europeia ainda estão a ser analisadas. Num artigo de opinião que o baixista dos Radiohead Colin Greenwood escreveu para o The Guardian, o músico analisou os novos requisitos para as bandas britânicas entrarem no espaço europeu e apelou ao governo para «renegociar a provisão para as digressões na Europa».
Colin Greenwood começa o texto recordando as primeiras tours europeias dos Radiohead, as «pequenas discotecas e as primeiras ‘slots’ em festivais na Suécia, Holanda e França, num autocarro velho que cheirava a gasóleo e tinha tristes cortinas cinzentas». Para além das memórias, Greenwood cita essas experiências como uma das razões pelas quais os Radiohead alcançaram o seu sucesso. «Tal como Hamburgo para os Beatles, a Europa foi crucial para o nosso crescimento como banda. Permitiu vermo-nos desamarrados das nossas raízes britânicas e imaginar uma vida na música que pudesse chegar a audiências em todo o lado».
Agora, sem os benefícios da UE, as bandas britânicas terão de escalar uma nova montanha de papelada, com Greenwood a salientar que «antes do Brexit, uma caderneta (uma lista de bens que entram e saem do país) era apenas necessária para a Noruega e a Suíça. Agora, seria mais como tocar na América do Sul, onde cada país tem os seus sistemas para lidar com “países terceiros” como nós».
«Isto não é apenas uma questão de preencher formulários, as viagens europeias serão caras. Uma guitarra de £10.000 precisaria de uma caderneta que custaria cerca de £650 mais IVA. Os custos de viagem e alojamento já são elevados, e a papelada extra e as despesas aumentariam rapidamente para uma banda em digressão», sustenta o baixista dos Radiohead.
Tal como Greenwood salienta, «tenho a sorte de poder pagar», mas as bandas jovens podem nunca ter a oportunidade de seguir as pegadas dos Radiohead. Greenwood chama-lhe «uma tragédia de sonhos adiados». Além disso, o baixista está «preocupado com toda a brilhante equipa que tem trabalhado com a banda durante quase 30 anos», receando que a ‘crew’ dos Radiohead «possa achar muito mais difícil competir com as alternativas da UE», enquanto «os técnicos holandeses, alemães e franceses que utilizamos há décadas podem achar que não vale a pena trabalhar aqui».
Greenwood termina o texto com um apelo ao governo britânico para voltar à mesa de negociações. «É tempo de o governo britânico admitir que não fez o suficiente para as indústrias criativas durante as negociações do Brexit e procurar renegociar a disposição relativa às digressões na Europa. A música do meu país é excelente porque despreza fronteiras e limites; é uma grande fonte patriótica, uma força de confiança, alegria e paixões partilhadas. Estou orgulhoso do meu país e de toda a música que trocou com o mundo, e estou certo de que o orgulho é sentido em todas as idades e culturas do Reino Unido. É a antítese do nacionalismo culturalmente beliscado que é o Brexit, e a sua diminuição iria privar-nos a todos».