Scorpions, Velhos Predadores

13 Julho, 2018

Mikkey Dee e Matthias Jabs foram as pinças que seguraram a audiência, até a cauda dos Scorpions estar pronta para a ferroada fatal.

Em 2010, com o álbum “Sting In The Tail”, Rudolf Schenker anunciava em entrevista à AS que a banda planeava reformar-se. Até porque, após algum tempo à procura de reinventar-se, os Scorpions haviam chegado à conclusão de que a força da banda se encontrava no seu passado, à dualidade entre vibrantes malhas de hard rock e baladões épicos. A reacção do público foi tão forte que a banda se agarrou a esses últimos momentos de glória e, além de ter ainda gravado outro álbum, em 2015, continua em digressão.

Com uma bagagem de canções memoráveis, Rudolf Schenker e Klaus Meine têm sabido gerir, do alto dos seus veneráveis 69 e 70 anos de idade actuais, o contraste entre os momentos mais eléctricos e as baladas. Deixando os trabalhos pesados para outros protagonistas. E, dessa forma, o concerto no Parque dos Poetas foi uma excelente analogia. Com Matthias Jabs a assegurar a excitante electricidade das guitarras dos Scorpions (com um guitarrista “sombra” a trabalhar, escondido em palco, nas harmonizações clássicas da banda), pois Rudolf já só pretende divertir-se sob a égide dos versos de “Rock You Like A Hurricane”, que dizem «The bitch is hungry / She needs to tell / So give her inches / And feed her well», a perfeita frase rock n’ roll!

Já o poder propulsivo esteve a cargo de Mikkey Dee. O baterista dos últimos anos de Motörhead foi um titã em palco, mostrando que renovou a banda, as suas forças e agressividade. No fundo, mantém os Scorpions capazes de oferecer um concerto de rock com todos os seus pressupostos, em detrimento do excessivo recurso a baladas. Também tiveram o seu espaço, através do set acústico que compreendeu “Follow Your Heart”, “Eye of the Storm” e “Send Me an Angel”, logo seguido por “Wind Of Change”. E sabes que és um enorme patrão quando fazem uma Flying V acústica só para ti. Podem ver em pormenor esse modelo que Boris Dommenget criou para Schenker no site do luthier.

Depois desse momento de descompressão seríamos agraciados com o tributo a Lemmy Kilmister, com uma versão de “Overkill”, original dos Motörhead. Não é a mesma coisa na voz de Klaus, mas foi bonito e serviu de trampolim para um vibrante solo de Dee, que mantém o andamento imposto pela antiga banda e se destacou com os rápidos e poderosos stroke rolls na tarola, suspenso num palanque elevado à altura do palco. A partir daí, o concerto foi catapultado para um final à altura dos melhores anos dos Scorpions nos anos 70/80, com a explosiva sequência de “Blackout”, “Big City Nights”, antes do encore.

A despedida trouxe a inevitável “Still Loving You”, em que pudemos ver, finalmente, Rudolf Schenker “trabalhar” a sério, evocando o seu icónico solo nesse tema. Depois de “Rock You Like A Hurricane”, ninguém tinha vontade de ir embora. Afinal, a picada do escorpião ainda tem algum veneno.

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