Circuito Alternativo de Concertos do Reino Unido Contra Novas Regras do Brexit
Promotores acreditam que as digressões no Reino Unido vão deixar de ser viáveis, porque todos os membros de uma banda vão ter de pagar para tocar no país.
Com a oficialização do Brexit, a cultura musical no Reino Unido vai, inevitavelmente, seguir um rumo. Se ainda não existem certezas em relação aos acordos comerciais e que reflexos terão nos custos dos instrumentos, as novas regras obrigam que todos os músicos paguem para tocar no Reino Unido a partir de Janeiro de 2021.
Actualmente, qualquer artista e/ou banda consegue viajar livremente entre a União Europeia e o Reino Unido, mas a partir do dia 01 de Janeiro, todos os indivíduos que pretendam entrar no país em digressão ou data única têm que pagar para ter um visto temporário, o Tier 5. Cada visto tem um custo de 244£ – isto significa que uma banda com 5 membros (nem estamos a contar com técnicos) será obrigada a pagar 1220£! A conversão para a nossa moeda é de €1458 (com base na taxa de câmbio de 21 de Fevereiro, 2020). Além disso, necessitam de ter, no mínimo, 1000£ em conta bancária, noventa dias antes do pedido para o visto.
Naturalmente que esta medida não terá grandes reflexos nos nomes maiores da indústria. Os concertos de artistas mais conceituados ou celebrados no mainstream poderão ter um reflexo mínimo nos custos de bilhetes ou esses artistas poderão facilmente negociar com o promotor que assuma os custos, mas no underground ou no circuito de música alternativa, os problemas aumentam.
De acordo com o KentOnline, os proprietários de várias salas de concertos no Reino Unido não estão satisfeitos com estas medidas, afirmando que o circuito de música ao vivo internacional será prejudicado. As bandas vão pensar duas vezes ou até excluir o Reino Unido das suas digressões, tendo em conta os custos. Uma das soluções é subir substancialmente o preço dos bilhetes, mas os ordenados do país não vão acompanhar a mudança e, no final de contas, as salas de dimensões mais reduzidas e os próprios concertos de contracultura já têm dificuldades de sobra para almejar o break-even. Preços mais elevados irão afastar o público.
Sammy Clarke, co-fundador da sala de espectáculos Elsewhere, em Margate, diz que estas novas regras vão afectar negativamente a cultura no país: «São notícias terríveis para todos os que estão envolvidos, e um espinho no sector da música ao vivo. O preço dos bilhetes vai ter de aumentar para que todos os envolvidos não percam dinheiro. Actualmente, temos um circuito ao vivo colorido e em bom estado com um espectro completo das perspectivas no mundo e não podemos perder este privilégio».
Andre Dack, manager da Ramsgate Music Hall, partilhou a sua frustração no Twitter: «Gerir uma venue independente já é desafiante o suficiente. Agora, será difícil como nunca. Vamos ter de aumentar o preço dos bilhetes, o que é contra-produtivo porque os ordenados não estão a aumentar». Acrescentando, «basicamente, preparem-se para mais salas independentes fechadas no Reino Unido, como resultado directo do Brexit».
Horrible news.
Running an independent music venue is challenging enough. Now, it's harder than ever. We'd need to raise ticket prices (which is counter-productive as wages are not going up).
Then, of course, there are the musicians themselves, who struggle to break even as is. https://t.co/IlCYvl8yju
— André (@AndreDack) February 20, 2020
Mark Davyd, CEO da Music Venue Trust e proprietário do Tunbridge Wells Forum, disse: «Estas regras vão criar uma situação muito desafiante para artistas novos e emergentes. Esperamos que o governo apresente rapidamente serviços e apoio financeiro para mitigar os óbvios impactos negativos».
As novas regras do Brexit entram directamente em colisão com a União de Músicos do Reino Unido. A organização que representa mais de 30.000 músicos de todos os sectores da indústria musical britânica defendia um passaporte para facilitar as viagens de artistas entre o Reino Unido e a União Europeia. A Sociedade Incorporada de Músicos também está contra estas novas medidas, afirmando que o governo está a ameaçar as artes criativas — um sector que contribui com 111£bn todos os anos para a economia — recusando-se a ouvir opiniões e/ou pedidos: «é como agarrar numa caçadeira e dar um tiro no pé».