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Máquina do Tempo: “Funky Monks” ou o Making Of de “Blood Sugar Sex Magik” dos Red Hot Chili Peppers

Máquina do Tempo: “Funky Monks” ou o Making Of de “Blood Sugar Sex Magik” dos Red Hot Chili Peppers

Rodrigo Baptista

Em 1991, os Red Hot Chili Peppers gravaram o seu aclamado álbum “Blood Sugar Sex Magik” em Los Angeles. Sem nada que fizesse prever o sucesso que o álbum iria gerar, a banda decidiu documentar todo o processo e mostrá-lo ao mundo na forma de “Funky Monks”.

“Blood Sugar Sex Magik” é um álbum crucial na carreira dos Red Hot Chilli Peppers (RHCP). “Mother’s Milk”, tinha saído em 1989, e marcara um novo período da banda com a entrada do baterista Chad Smith e do guitarrista John Frusciante, que vieram substituir Jack Irons e o malogrado Hillel Slovak. Fruto das novas entradas também foi-se desenhando uma nova moldura sonora mais melódica e groovy, que ficaria patente em faixas como “Higher Ground” ou “Knock Me Down”. Contudo, a escolha do produtor Michael Beinhorn, que já tinha trabalhado com a banda em “The Uplift Mofo Party Plan”, para produzir e gravar o álbum acabaria por não agradar a todos os elementos da banda, resultando assim num certo mal estar interno. Beinhorn era adepto de riffs de guitarra mais heavy metal e de overdubbing , Frusciante não gostou das abordagens do produtor e considerou-as excessivas, algo que levou a várias discussões ao longo de todo o processo de gravação do álbum.

Para a gravação do seu segundo álbum com esta formação os RHCP já não caíram na mesma cantiga. Contrataram o já reputado produtor Rick Rubin (Slayer, Beastie Boys, The Cult, Public Enemy), e em Abril de 1991 entraram na The Mansion para gravar aquele que seria o álbum definitivo da sua carreira e um dos mais influentes do rock alternativo.

Rick Rubin e os Red Hot Chili Peppers

A The Mansion, como é conhecida, é uma mansão de 1918, situada em Laurel Canyon, em Los Angeles, e que pertence a Rick Rubin. Inicialmente não estava equipada para receber sessões de gravação de bandas, mas foi precisamente com “Blood Sugar Sex Magik”, o primeiro álbum a ser lá gravado, que tudo mudou. Desde então foram lá gravados álbuns tão influentes como “Vol. 3: (The Subliminal Verses” dos Slipknot, “Mezmerize” e “Hypnotize” dos System of a Down ou “Minutes To Midnight” dos Linkin Park. Envolta em muitos mistérios, diz-se que a casa está assombrada, e são poucos os artistas que se sentem confortáveis em passar lá as noites.

Quanto aos RHCP, estes adoraram o ambiente da The Mansion (embora Smith se recusasse a dormir lá, preferindo o trajeto de 20 minutos na sua Harley todas as manhãs). Ao todo passaram cerca de sete semanas em exílio quase total, apenas acompanhados por Rubin, pelos técnicos e os tais espíritos que supostamente assombram a habitação.

O facto de estarem a gravar num ambiente tão espaçoso e peculiar fez também com que os músicos procurassem diferentes espaços para captar os seus instrumentos. Foram várias as partes de músicas gravadas sob o teto abobadado do salão de baile e, ocasionalmente nos quartos ou nos corredores. Mais difícil foi a procura de um espaço para gravar a bateria de Chad Smith, mas após experimentarem várias salas e corredores lá chegaram a um consenso. Com um processo de gravação assente em jams ao vivo, o trabalho de Rubin passou por captar os melhores momentos reunindo-os depois de forma coesa.

Íomhá

John Frusciante e Flea a gravarem nas escadas da The Mansion

Rapidamente percebemos que as sessões de gravação na The Mansion foram proliferas quando vemos que a banda captou ao todo 25 músicas, das quais 22 eram originais. Para o álbum foram escolhidas “apenas” 17. Uma delas foi “They’re Red Hot”, a faixa que fecha o álbum é um original de Robert Johnson, e foi gravada ao ar livre à noite, com o som de carros a acelerar pelo vale abaixo enquanto a banda tocava a música num tapete persa colocado sobre a relva.

As gravações de “Blood Sugar Sex Magik” terminariam em Junho de 1991. A satisfação era imensa para com o registo musical que tinham acabado de gravar, afinal de contas tinham finalmente captado toda aquela energia e identidade sonora que reconhecemos nos RHCP. Contudo, nada fazia prever o desfecho que se avizinhava. John Frusciante, apesar de orgulhoso do seu trabalho, quis sair da banda imediatamente. «Depois de terminarmos as gravações… eu sabia que queria ir embora.», diz Frusciante. «Eu diverti-me muito a gravar e não queria ir em tour; parecia a antítese de tudo o que eu achava bonito naquele álbum. A direção que a banda estava a tomar era totalmente contra o que eu pretendia.»

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John Frusciante a gravar uma linha de guitarra no chão de uma divisão da The Mansion

John acabaria por ficar na banda até ao verão seguinte, mas acabou por sair por não se sentir confortável com a crescente popularidade da banda. A sua decisão foi tomada meia hora antes de subir ao palco num concerto no Japão, e menos de um mês antes da banda ser o cabeça de cartaz do festival Lollapalooza.

“Funky Monks” é mesmo um registo único. Filmado a preto e branco, é introspetivo, realista e mostra-nos uma banda que, apesar das fragilidades pessoais, apresenta-se numa espiral criativa ímpar e inspiradora. Poder ter acesso a este registo é sem dúvida especial, não só para os fãs dos RHCP, mas também para todos aqueles que se interessam pelos meandros do processo criativo artístico.

Recordamos que os Red Hot Chili Peppers sobem ao palco NOS do NOS Alive dia 6 de Julho. Os bilhetes para este dia estão esgotados.