Mike Matthews, da EHX, fez soar os alarmes no mundo da amplificação, declarando que há enorme pânico entre os construtores de amps com a escassez de produção de válvulas termiónicas, principalmente devido ao alegado encerramento da maior fábrica do mundo, a chinesa Shuguang.
O fundador da Electro-Harmonix, Mike Matthews, há uns dias, intrigou meio mundo ao anunciar os planos (algo críticos, diga-se) da empresa para colher energia da magnetosfera da Terra. Procurando esclarecer o assunto, acabou por fazer soar um alarme sobre o presente e o futuro da produção de válvulas para amplificadores. Falando sobre o que descreveu como a «crise dos Circuitos Integrados digitais», Matthews citou o encerramento de uma fábrica na China, colocando uma enorme pressão sobre as instalações russas da New Sensor, propriedade de Matthews, para suprir a procura global de válvulas de amps.
«Actualmente, paira o pânico pelo mundo relacionado com a disponibilidade das válvulas termiónicas», escreveu Matthews. «A grande fábrica Shuguang, na China, foi forçada a mudar de instalações… E a Jamona (JJ Electronic), na Eslováquia, que costumava ter prazos de entrega de um mês, tem agora prazos de entrega de seis meses. Estamos a ser bombardeados com encomendas de clientes desesperados de todo o mundo. A nossa fábrica de válvulas está agora a funcionar a 100% da capacidade, pelo que não podemos produzir todas as quantidades que são requeridas. No entanto, estamos a atribuir quantidades a muitos clientes, para que possam continuar a sobreviver».
Desde o desenvolvimento dos aparelhos semicondutores (com díodos semicondutores) nos anos 40 e 50, e a sua evolução para os transístores e chips de circuitos integrados (IC), que são a base de quase todos os dispositivos electrónicos que usamos hoje em dia, as válvulas tornaram-se gradualmente num produto especializado, de nicho. Se a válvula termiónica foi em tempos o coração da electrónica de consumo – desde rádios e televisões a computadores e telefones – essa tecnologia tornou-se arcaica há meio século atrás. Os transístores são mais fiáveis, acessíveis, compactos e eficientes em termos energéticos.
Portanto, a indústria de amplificadores de guitarras é uma das poucas que ainda recorre às válvulas e, se pensarmos bem, talvez não seja de admirar que o número de fábricas que realmente os produzem se tenha tornado bastante reduzido ao longo das últimas décadas. A situação torna-se ainda mais complicada porque muitas marcas de válvulas não são fabricantes. Ou seja, encomendam as suas válvulas ao punhado de fábricas que ainda existem, como refere Matthews, e colocam-lhes o seu logo. Por exemplo, a Groove Tubes, que encontramos nos amplificadores Fender, obtém as suas válvulas através de encomendas a várias fábricas, incluindo a fábrica russa da New Sensor, de Mike Matthews.
Mas se o esquema tem resultado ao longo de seis décadas, mesmo considerando o progressivo desaparecimento de fábricas, porquê esta dramatismo súbito? Por causa do encerramento repentino da mega fábrica chinesa supracitada. A sua mudança de instalações estará relacionada, de acordo com Matthews, com o facto de ir ser reequipada para tecnologias mais modernas, estando em causa de continuará a produzir válvulas…
Não temos meios para confirmar categoricamente essa situação mas, pelo menos, pode verificar-se que a produção de Shunguang reduziu drasticamente, de tal forma que desencadeou rumores em fóruns especializados de que a fábrica teria encerrado. Por outro lado, esses rumores favorecem bastante uma fábrica como a New Sensor de Matthews, apontada pelo próprio como uma das grandes e bastante escassas soluções para satisfazer a procura, especialmente dado o boom nas vendas de equipamento de guitarra devido à pandemia. A JJ Electronics ainda não se pronunciou sobre o assunto.
Para concluir, naturalmente que a oferta continua a decrescer, por tudo o que foi explicado em cima e até pelo crescimento exponencial dos amplificadores digitais e a sua progressiva qualidade. Todavia, parece pouco provável que a procura deixe de existir. Enquanto os guitarristas quiserem amps a válvulas, alguém irá fazer válvulas… Basta pensar no que foi a queda de vendas no mercado discográfico e no nicho do formato vinil e como ressurgiu nos último anos. Contudo, como frisa o Guitar.com, esta situação não deixa de reflectir a posição precária em que se encontra a indústria da guitarra: contar com algumas fábricas para sustentar uma indústria global multi-bilionária é menos do que ideal, e uma escassez de válvulas a longo prazo poderia fazer com que os preços subissem drasticamente, talvez fazendo com que alguns fabricantes se afastem completamente dessa opção.
Mas, a curto prazo, não há necessidade de entrar em pânico. Afinal, Matthews pode estar a soar o alarme sobre a escassez de tubos de válvulas, mas a sua empresa apresentou recentemente o renovado Sovtek MIG-50 de 50 watts.