Quantcast
Fotoreportagem Sonic Blast Fest 2022: Em destaque Stöner, Toxic Shock, W.I.T.C.H., SLIFT e Travo

Fotoreportagem Sonic Blast Fest 2022: Em destaque Stöner, Toxic Shock, W.I.T.C.H., SLIFT e Travo

Emanuel Ferreira
Emanuel Ferreira

Se as primeiras nove edições do Sonic Blast ofereceram condições idílicas e diferentes no panorama dos festivais nacionais de rock, à décima a organização conseguiu melhorar, por impossível que pareça.

No primeiro dia, as filas para pulseiras mantinham-se e o festival batia recordes de assistência, praticamente dobrando os números do passado. Com Viana do Castelo bem perto, coube a uma banda que já foi local, abrir o palco 3. Pledge trouxeram a sua mistura explosiva e potente de noise-rock, post-hardcore e metal, com Sofia a ser o habitual animal de palco. Bastante gente para um concerto iniciado logo às 14:30.

Da Noruega veio Devil And The Almighty Blues, que antes de chegarem a Portugal, foram até um cruzamento perto do Mississipi vender a alma a Robert Johnson. Vieram para «Pisar palco pela primeira vez em quase três anos» e contentes por «o fazerem no SonicBlast». Arnt O. Andersen possui um vozeirão e é devidamente acompanhado pelos instrumentistas da banda. Aqui e ali, um cheiro a Southern rock, mas muito blues, cruzado com rock, abençoado por um vocalista vestido de pregador.

Num festival com um cartaz tão extenso, é natural que bandas medianas resultem menos bem. Foi o caso de Slomosa, que ainda por cima perderam a guitarra de Anders Rørlien, no primeiro tema. E como fez a diferença, já que este, e a baixista Kristian Tvedt são o motor musical do grupo. Trouxeram um rock pesadão, mais desert que stoner, com laivos de psych rock, aqui e ali.

Melhores, assumindo um registo psych rock, num tapete de riffs que pairou ao longo de todo o concerto, os norte-americanos King Buffalo deviam ter actuado num palco montado na praia, fornecendo a banda sonora para os surfistas. Quase todo o último álbum de estúdio, “The Burden Of Restlessness”, serviu de mote à sua actuação. Estiveram longe de serem os melhores, mas também era difícil face a um cartaz de qualidade muito elevada.

Apesar de possuírem as fundações nos anos 70, W.I.T.C.H. ou We Intend to Cause Havoc, como o título do documentário, foram uma das propostas mais frescas do festival. Um sair de caixa saudável e que proporcionou a passagem pelos palcos nacionais de Emanyeo “Jagari” Chanda, uma das vozes de um movimento importante que moveu a Zâmbia na década de 70 e que ainda ecoa. Os autores de “Evil Woman” deram um concerto que ficará na memória de muitos, não pela inovação, mas pela historicidade do mesmo.

Dentro da história, vieram dois nomes, um assumidamente histórico, e revisitando o festival, Nebula, e outro contendo dois históricos da cena, Brant Bjork e Nick Oliveri, ex-Kyuss, agora reunidos em Stöner. De Nebula podia pedir-se mais, mas possuem dois novos álbuns desde que fizeram o seu regresso, por isso o concerto apostou em temas de “Transmission From Mothership Earth” e “Holy Shit”. Eddie Glass na guitarra, continua a ser todo um personagem, mesmo que menos expansivo e comunicativo que na anterior passagem. No resto um excelente concerto, só diminuído pela comparação com o passado trio. Quanto a Stöner possuem já dois discos, mas todos esperam escutar uma “Green Machine” ou “Demon Cleaner”. Claro que num festival de riffs, a guitarra de Brant Bjork impera, mas o baixo de Nick Oliveri tem um som monstruoso.

Nos já habituais volte face do Sonic, o hardcore crossover dos belgas Toxic Shock veio esmagar todo o ambiente desert criado por Nebula e Stöner. Se na noite anterior já tinha arrasado, a sua presença num palco maior foi capaz de mover o mais inabalável dos assistentes. Houve excesso de energia, mais em palco, diga-se que no público, já esgotado de tanta boa música.

Quem saiu mais cedo, perdeu o tornado francês que dá pelo nome de SLIFT. De Toulouse, chegou uma mistura de stoner, space rock, mas também alguma veia punk rock, vertente At The Drive In, com explosões de energia quer por parte de Jean Fossat, guitarrista e vocalista, quer do baixista Rémi Fossat. “Hyperion” ou “Ummon” estiveram presentes, a marcar o novo “Levitation Sessions”. Visualmente, efeitos intensos que levaram a memória para Gojira, mas acabam aí as comparações, pois estes Slift estão anos-luz à frente dos irmãos Duplantier.

Claro que a intensidade rara de um nome como SLIFT tem sempre um preço, neste caso foi pago pelos nacionais Travo que sofreram, por parte de quem os viu, do efeito desaceleração. Estiveram bem, mas o chip já não estava para a sua música, o seu rock stoner mais convencional. Merecem claramente uma nova oportunidade. Zero culpas para eles, apenas SLIFT. Só isso. A noite terminou no placo 3 com Cobrafuma, projecto que promete dar que falar e que mistura vários músicos do underground portuense. Rock, thrash e punk, bom som e excelentes ideias. Aqui e ali, os representantes do grupo, que conta com elementos de Krypto, Plus Ultra e Killimanjaro, têm colocado os seus concertos e criado o fuzz, é questão de os seguir e descobrir em palco, enquanto não existem gravações.