Vodafone Paredes de Coura 2022: Dança, Moshes e Jazz numa Triangulação Peculiar Ao 3º Dia

23 Agosto, 2022

No terceiro dia do Vodafone Paredes de Coura abriu-se o leque de sonoridades, foi a abrangência de géneros, cada vez mais comum nos festivais de música, a ênfase do dia. Do Dj Nuno Lopes, ao hardcore de Baltimore dos Turnstile passando pela melancolia dos Molchat Doma da Bielorrússia.

Ainda sol estava no seu ápice, os festivaleiros dispersados entre o descanso da tenda, a fila para lavar a louça, as margens do rio Coura e as toalhas esticadas na encosta que recebe o Jazz na Relva quando o Dj e ator, Nuno Lopes transformou o rio Coura numa pista de dança. Todos os dias do festival, a horários distintos mas sempre relativamente cedo, aconteceram as Vodafone Music Sessions.

No dia 18, nem foram as margens, foi literalmente no areal situado no meio do rio que o Dj deu asas ao seu set. A performance de duas horas desaguou entre corpos animados, numa hora de almoço distinta. Os ritmos mais virados para o house acompanharam as leituras e banhos de sol dos festivaleiros, ao mesmo tempo que os aventureiros dançavam de pé na areia. Um cenário que por si só compensava a saída da tenda. Ampla sombra, uma temperatura amena e Nuno Lopes por trás do deck: a paisagem natural parece ter sido criada com aquele objetivo.

Seguiu-se o habitual Jazz na Relva com os portugueses Chão Maior e Fumo Ninja a iluminar as leituras, sestas e banhos à tarde na praia fluvial do Taboão.

A transição para os concertos foi suave, na realidade o Jazz só mudou de sítio, não tivesse o palco Vodafone FM aberto com os australianos Surprise Chef a distribuir vibrações igualmente tranquilizantes.

O leque mencionado na entrada, foi abrindo e, à ligeireza da abertura The Comet Is Coming acrescentou alguma viscosidade, os britânicos, pisaram o palco principal com uma proposta mais contemporânea de Jazz proveniente das Ilhas de sua majestade onde a cena deste género tem regurgitado uma nova vida nestes recentes anos.

A abertura do leque continuou com o grupo pós-punk, dark wave da Bielorússia que faz, há alguns anos, parte da paisagem do fenómeno digital Youtube-core, onde foi ganhando popularidade.

Os Molchat Doma de Minsk atingiram ainda mais popularidade através da viralização do tema “Судно” em redes sociais como o Tik Tok. O trabalho dos bielorussos é, apesar disso, mais estratificado do que a popularização do grupo pode dar a entender. Os três consolidados projetos editados mostram mesmo isso, contribuindo para a criação de uma legião de fãs paralela aos obtidos através das redes sociais. Em Paredes de Coura apresentaram-se sólidos, cumprindo ao colocar o público a dançar melancolicamente.

A versão musical do brutalismo arquitectónico, transportou os festivaleiros para uma União Soviética fechada, faixa após faixa. Os ouvintes são convidados a relacionar com os habitantes de um regime onde muita cultura estrangeira era simplesmente proibida, incluindo a música. Até folhas de raios x foram usadas para contrabandear discos para a URSS.

Momento curiosidade histórica superado, foram “Клетка” e “Судно” a recolher mais aplausos de um concerto que poderia ter sido mais, apesar da prostração da música.

Fotos: Miguel Grazina Barros 

Posteriormente, foi ao som do mais recente álbum “Sympathy for Life”, com uma ligeiramente alongada introdução em “Application/Apparatus” que os Parquet Courts saudaram o público português.

Finda a primeira faixa, Austin Brown apresentou o conjunto: «Somos os Parquet Courts de Nova Iorque». Seguiu-se “DUST” e Andrew Savage utiliza a voz pela primeira vez, algo que voltaria a fazer mais tarde depois de “Wide Awake”, para pôr a multidão a cantar o refrão do clássico dos Pilot, “It’s Magic”, estranhou-se mas entranhou-se.

Os nova iorquinos com 11 anos de carreira fizeram nome pela mistura de estilos, fundido influências numa sopa da pedra musical grossa e farta. Também com alguma idade, a faixa “Light Up Gold” celebrou 10 anos, facto mencionado por Austin. Cambaleando para a frente e para trás, de modo a alcançar o microfone ligeiramente acima da linha da sua boca, Austin entregava faixa atrás de faixa para um público entusiasmado com uma das raras aparições da banda em território luso, depois de se estrearem por cá em 2014.

Um concerto forte, recebido calorosamente por uma multidão agradada, dividida entre moshes e saltos constantes, cantar de início ao fim e gentilmente abanar o corpo para trás e para a frente.

Fotos: Miguel Grazina Barros

O abrangente leque abriu mais ainda com uma daquelas performances unidimensionais no bom sentido. Os norte-americanos de Baltimore, Turnstile, apresentaram-se na Praia Fluvial do Taboão fulgurosamente. Ninguém diria que ainda este ano se tinham separado do guitarrista e co-fundador da banda, Brady Ebert.

Amigo da banda e também, logicamente, guitarrista, Greg Cerwonka foi o chamado para substituir o co-fundador e presença nos três álbuns do grupo, Brady. A questão é que essa substituição pouco ou nada afetou a performance da banda que se movia pelo palco com fluidez e destreza. Brendan Yates pulava, corria e fazia uma espécie de swing rápido com as pernas incitando no público revolta mas não estava sozinho, o baixista Franz Lyons também percorria o palco de ponta a ponta. Sem a mesma mobilidade porém, a mesma intensidade, o baterista Daniel Fang, mantinha as rotações na “red line” sequenciando as curtas músicas do curto reportório da banda com a pressa de quem não quer deixar os ânimos acalmar.

O concerto com os maiores e mais intensos moshes viu um público vibrante e entusiasmado redistribuindo a energia que ia recebendo dos Turnstile. No final, Brendan foi ao fosso cumprimentar os fãs da linha da frente, agradecendo com sorrisos e apertos de mão.

Fotos: Miguel Grazina Barros

Menção também para o abertura final do leque, providenciada por John Talabot, o espanhol oriundo de Barcelona, assim como alguns Djs presentes no NEOPOP deste ano, já contribuíram para o projeto Dj-Kicks. No Vodafone Paredes de Coura, fechou o dia 18 com o seu espetáculo altamente dançável.

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