AS10: Grandes álbuns conceptuais portugueses
Numa era em que se fechou um ciclo e a indústria se voltou novamente para o single relembramos 10 grandes álbuns conceptuais de artistas nacionais.
Mais que uma colecção de faixas, um álbum torna-se ainda mais memorável quando consegue congregar música, arte e narrativa. Esses serão os três pilares dum álbum conceptual. De forma algo recorrente, a expressão “álbum conceptual” remete-nos imediatamente para coisas como “The Wall” ou “Tommy”, que inclusivamente foram filmes, mas em Portugal também se sonorizam grandes histórias.
MINGOS & OS SAMURAIS [RUI VELOSO] | Um dos melhores, mais aclamados pela crítica e mais bem-sucedidos junto do público, discos de sempre no nosso país. A história de Mingos e da sua banda, os seus enamoramentos e sonhos, as paixões, o Ultramar (onde o Meno Rock morreu a empunhar a G3 como se fosse uma guitarra!)… mais que a história duma banda fictícia era a história de milhares numa geração que também foi adolescente. Não deve existir português algum que não saiba cantar, pelo menos, os refrões de “Não Há Estrelas no Céu”, “A Paixão (Segundo Nicolau da Viola)” ou “Baile da Paróquia”. O espectro largo da história permite a Rui Veloso percorrer uma série de correntes musicais, que dão uma riqueza incomparável a este álbum.
MUTANTES S.21 [MÃO MORTA] | O submundo de nove cidades tornou-se íntimo dos portugueses. Álcool, drogas, rock n’ roll, prostituição… Tudo congregado num som sujo e podre, desenvolvido pela banda e pela lenda portuguesa do som, José Fortes. Os seguidores da banda poderão argumentar que “Müller…” ou “Maldoror” possuem outra profundidade, mas “Mutantes” chegou a toda a gente e “Budapeste” tornou-se a cidade mais cantada na música nacional, a seguir a Lisboa e Coimbra!
SER MAIOR – UMA HISTÓRIA NATURAL [DELFINS] | Com uma carreira erigida sobre os princípios da pop, os Delfins procuraram reinventar-se e chamaram Pedro Ayres Magalhães para os ajudar nessa tarefa. Assim surgiu uma história de emancipação e transcendência. Além do sucesso junto do público, com “Ao Passar Um Navio” a tornar-se O single de 1993, “Ser Maior” é o álbum com maior profundidade na carreira da banda e o álbum em que Fernando Cunha provou que podia suportar um disco com as suas linhas de guitarra e onde cristalizou a sua personalidade enquanto executante.
10,000 ANOS DEPOIS ENTRE VÉNUS E MARTE [JOSÉ CID] | Se pensarmos que os álbuns conceptuais, de alguma forma, ficaram mais associados ao prog rock, então este trabalho de 1978 de José Cid é o rei dos álbuns conceptuais portugueses. Composições virtuosas, especialmente nos sintetizadores, psicadelismo e o estatuto de culto – muito pelo ressurgimento que teve na década passada através da internet. Permanecerá sempre como a prova de que José Cid poderia ter tido outra carreira se vivesse noutro país.
MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES [JOSÉ MÁRIO BRANCO] | Há quem o chame o “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band” da música portuguesa. Este não é um álbum pontuado por psicadelismo, mas o sentido de fusão e experimental que denota – com miscigenação de estéticas provenientes do fado, do folk e do blues – tornam-no num marco de composição e som na nossa música. Vibrante, melodioso, mordaz ou lamentoso – quer lírica quer musicalmente – este álbum não é exactamente conceptual, tendo ganho essa dimensão através do “realismo” e coragem que teve para descrever um país e um tirano.
BOTA-FORA [JÚLIO PEREIRA/CARLOS CAVALHEIRO] | Em vez de optarem pelo nome com que haviam lançado já um par de singles, Xarhanga, Júlio Pereira e Carlos Cavalheiro optaram por gravar em nome próprio um álbum de reacção ao conflito ultramarino. Os interesses de bastidores que levavam jovens a arriscar a vida no continente africano são retratados através de psicadelismo, peso nas guitarras e uma voz com um poder a roçar o heavy metal. Um dos grandes tesouros do rock português.
ULTRABOMB [THE QUARTET OF WOAH] | Inspirado num relativamente obscuro livro infantil, “La Ultrabomba”, do autor I. Sedarazzi (o livro foi mesmo banido em vários países), o álbum de estreia deste projecto foi uma das grandes surpresas do ano de 2012. Com uma solidez impressionante nas estruturas e uma enorme vitalidade na produção sonora e arranjos durante todo o disco. A miríade de paisagens sonoras que percorre “Ultrabomb” é um recompensador exercício quebra-cabeças de descoberta de fontes estéticas, mas a forma como nos surge é surpreendentemente simples e directo.
EM BUSCA DAS MONTANHAS AZUIS [FAUSTO] | A conclusão do trabalho iniciado em 1982, com “Por Este Rio Acima”, e continuado em 1994, com “Crónicas da Terra Ardente”. Até onde podem ser traçados paralelismos entre as Descobertas e Colonialismo e a submissão actual ao capitalismo. Sem “partidarismo”, mas com uma lucidez reflexiva intrigante e a enorme capacidade musical que permanece, como sempre, envolvida pelo amor fiel às raízes da música tradicional portuguesa.
FEMINA [THE LEGENDARY TIGERMAN] | Uma mistura de delta blues, soul e desert rock. Elementos que são demonstrativos da enorme escola de Paulo Furtado e congregados pelo seu bom gosto. Não será propriamente um disco conceptual, de acordo com os cânones do género, mas uma homenagem de puro deleite à figura feminina, através duma emotividade tão simples e directa quanto complexa.
BEATS VOL1, AMOR [SAM THE KID] | A ilustração do romance entre os pais de Sam The Kid é um dos trabalhos maiores da década passada na música portuguesa! É possível um álbum sem letras traduzir-se numa história de amor? Com certeza que sim. Aliás, os beats e sequenciação desenvolvidos pelo músico, através duma Akai MPC2000, universalizaram o groove e erotismo para a história de qualquer ouvinte. Super sexy mojo!