Até Já, Buraka Som Sistema!
Num ensaio aberto à imprensa, antecipando o Globaile, onde os Buraka Som Sistema vão dar o último concerto antes de um hiato sem término anunciado, Riot dá-nos uma sinopse dos 10 anos da banda e do som dos três álbuns.
Em tempo de retrospectiva, a questão óbvia era obrigatória: o que, a esta distância, teriam feito diferente? Riot conclui que em álbuns com o dedo constante de três produtores, cada um com o seu próprio carácter, o consenso nem sempre foi algo simples de atingir. Mais, que como qualquer músico poderá perceber, a primeira reacção é, também natural, o intuito de pensar imediatamente que um ou outro detalhe deveria ter sido feito de forma diferente, que há uma permanente insatisfação no acto criativo e que é esse o agente dinamizador da criação musical. Mas reflectindo sobre a década (com dois EP e três LP) de Buraka, pesando o percurso da banda em relação com o percurso cronológico, confessa que «faria tudo igual. O “Yah!” teria que soar exactamente como soa e o “Vuvuzela” tem que soar muito melhor porque estamos em 2016».
O papel de cada um dos três produtores de Buraka, designadamente Riot, Branko e Conductor, sempre foi complementado pelos outros, afirma Riot: «Sou aquela pessoa que demora seis horas a tratar de um bombo ou uma tarola. Além do gozo que me dá, incomoda-me quando esses elementos não estão exactamente como quero. Enquanto que o João (Branko) se debruça mais na escolha de sons, dos sintetizadores, e enquanto ele já criou duas ou três coisa, ainda estou a tratar do bombo [risos]. O Andro (Conductor) é uma pessoa que consegue trazer sempre aquele sample inesperado e é o nosso primeiro informador em relação aos novos VST que estão a sair, que podem fazer, e fazem, a diferença».
Tendo que escolher um álbum, para representar o zénite da banda, Riot não hesita: «Foi o “Komba”! É mesmo o equilíbrio. Para nós é um álbum feito por uma banda e não por um conjunto de produtores. Tem as músicas de banda que, ao tocá-las, não necessitamos de adaptar nada. Fazem todo o sentido. Estou a tocar bateria, o João está na sintetização… Como uma banda clássica, se quiseres. Além disso o álbum tem esse tema forte de “viver a vida” enquanto estamos vivos e não esperar celebrações depois de tudo acabado». Além da essência do álbum, Riot confessa ainda uma preferência pelo carácter sonoro de “Komba”: «Sabes que, às vezes, os músicos não conseguem desfrutar do seu próprio trabalho, mas o “Komba” tem um som que me dá prazer ouvir, o que faço muitas vezes. O mesmo não sucede com o “Black Diamond”, não o ouço há anos, apesar de o tocar todos os fins-de-semana [risos]».
Buraka não acabou! Há um hiato que pode ser 10 anos ou 3 meses…
Em 2014, em entrevista com a AS, Kalaf referia o último trabalho como a suma dos Buraka, o que justificava o seu título homónimo. Há dois anos, portanto, depois de um álbum que Riot, como citado acima, considera o mais explosivo da discografia, a banda editava esse trabalho homónimo e estaria, segundo Kalaf, na plenitude das suas capacidades. Talvez houvesse espaço para, pelo menos, mais um álbum. Riot escudou-se na dimensão, estatuto e exigências da banda e nas necessidades de descoberta musical dos seus membros: «Dava sempre para mais um ou dois álbuns, mas há que perceber que, enquanto produtores, também queremos fazer coisas diferentes. Buraka não podia fazer um álbum de salsa agora. Quero dizer, podemos fazê-lo, mas as pessoas iriam pensar que queimáramos o fusível para sempre…».
Dessa necessidade de expansão musical adveio coisas como “A Velha e o DJ”, em que Riot se juntou ao último álbum de Deolinda. O que, de acordo com o músico, «mostra às pessoas que as coisas não estão assim tão distantes umas das outras». Desafios aliciantes e projectos novos que sejam inspiradores e possam permitir desenhar um círculo, afinal, «Buraka não acabou. Há um hiato por tempo indeterminado. Pode ser dez anos, pode ser três meses. A questão é a monstruosidade de Buraka – uma besta alimentada 24 horas, sete dias por semana – e a necessidade de fazer outras coisas. Estou a fazer o meu álbum, o João tem a Enchufada, o Kalaf escreve e está muito ligado à moda também, o Andro dá aulas de produção musical e produz e quer continuar a produzir beats de hip hop… Precisamos de começar a meter as coisas no sítio».
O até já a uma das mais explosivas e singulares bandas de sempre na música nacional e internacional, acontece aqui!