Quantcast
ENTREVISTA | Nalle Colt, Uma Les Paul VOS e Pickups Alemães no Som dos Vintage Trouble

ENTREVISTA | Nalle Colt, Uma Les Paul VOS e Pickups Alemães no Som dos Vintage Trouble

Nero
Pedro Mendonça

É uma espécie de NOS (New Old Stock) esta entrevista. Saltou de plano editorial em plano editorial desde que falámos com Nalle Colt numa Winter NAMM (2017 ou 2018). Nessa conversa, o extraordinário guitarrista falou-nos do seu peculiar rig, da sua Les Paul Custom VOS modificada e do som dos Vintage Trouble, na ressaca do terceiro álbum “1 Hopeful Rd”. Um belo exclusivo!

A história dos Vintage Trouble começa da forma que sempre sucede com grandes bandas. O baterista Richard Danielson e o baixista Rick Barrio Dill formam uma tremenda parede de groove, à qual se pode atirar tudo, que tudo vai colar. Dessa forma, o núcleo essencial do grupo mantém-se fiel às raízes das lendas do soul, mesmo quando Nalle Colt acrescenta muito mais músculo de guitarra do que aquele que se ouve no cânone do género. E que som tem Colt, apetece dizer: «Põe-te a pau, Joe Bonamassa» ou «Já foste, John Mayer».

Portanto, secção rítmica demolidora, guitarrista cheio de mística e feeling, e Ty Taylor. O frontman é um furacão, a reencarnação de James Brown. Um neo-pregador capaz de tornar a mais indiferente e escassa assembleia numa massa de genten fervorosa e fanática do rock n’ roll. Ficamos com a ideia de que é bonito um mundo em que os músicos convertem pessoas. Em que a religião são os tons simples da escala pentatónica. E por falar em pentatónica, recordando as palavras altamente elogiosas (imediatamente acima) para com o guitarrista da banda…

Os Vintage Trouble estrearam-se no nosso país em 2014, no SBSR. Dois anos depois, meio mundo andava louco com o talento da banda. Os AC/DC e os The Who gostaram tanto do quarteto que o convidou a fazer parte das suas últimas digressões. Já depois de os The Rolling Stones os terem feito partilhar o palco num estrondoso concerto realizado no Hyde Park, em Londres, em 2013. Então, em 2016 foram confirmados no NOS Alive, para apresentar, na altura, o álbum “1 Hopeful Rd.”

Era o terceiro disco de estúdio da banda de Los Angeles, editado pela reputadíssima editora Blue Note e com Don Was, dono de três Grammy Awards, aos comandos da produção. Em 2017 ou 2018, em dias de Winter NAMM, demos de caras com Nalle Colt no main floor. A proposta foi espontânea. «Vamos conversar um pouco? – Claro». Era uma entrevista que estava planeada para sair numa das edições da revista impressa, mas que, por um ou outro motivo, foi saltando dos planos editoriais. Para a conversa não acabar perdida nos nossos arquivos, até por se tratar de um EXCLUSIVO, recuperamo-la aqui dentro do conceito NOS (New Old Stock) que a Fender pratica…

 

Como é que um sueco vem parar a Los Angeles?
Em puto fui skater profissional, durante muitos anos. Para mim a “Meca” do mundo sempre foi Los Angeles e Venice Beach. Sempre quis vir para cá. Vim numas férias e a música começou a tornar-se numa coisa muito importante para mim. Sempre quis fazer parte de uma banda e tocar. Então decidi, simplesmente, ficar e fui ilegal nos EUA durante muitos anos. Depois tive sorte, porque ganhei um visto numa lotaria. Assim, tornei-me um cidadão. Adoro estar cá, tem sido muito bom, e sempre me foi fácil encontrar outras pessoas que querem tocar música.

Não é comum ver skaters tornarem-se artistas de blues e soul. Costuma ser mais punk…
Foi a música que cresci a ouvir. Provavelmente, é o único tipo de música que consigo tocar. Está dentro de mim.

Estar em Los Angeles, como aspirante a músico profissional, é um pouco como os actores que estão cá por causa de Hollywood. Foi difícil conquistares o teu espaço?
Existem músicos espectaculares aqui, obviamente. Se quiseres entrar nessa área e ser um músico de sessão tens de ser muito bom, mas também há uma parte social onde tens de te integrar e a fazer a tua cena. Trabalhei com músico de sessão durante um período, mas é algo “frio”. Chegas para trabalhar, mas não é a tua música… Nos Vintage Trouble tem sido extraordinário, até por ser o único guitarrista, tenho muito espaço para explorar. Para mim tem sido sempre sobre adicionar personalidade na música ou na forma como se toca o instrumento. É mesmo muito importante. Toda a gente consegue tocar bem, mas e se conseguir algo que se destaca? Algo que as pessoas identifiquem rapidamente? É isso que tento sempre alcançar. Encontrar o som da guitarra. Certas coisas que as pessoas ouvem e mostram que és tu.

Foi por isso que os Vintage Trouble demoraram bastante a gravar um primeiro álbum, mesmo tocando tanto ao vivo?
Fizemos o nosso primeiro espetáculo três semanas depois de começarmos a tocar juntos. A melhor forma de uma banda se tornar boa é tocar em frente do público. Quando se está em frente do público, tens de tocar e facilmente identificas o que resulta e o que não resulta. Durante um ano estivemos a tocar quatro ou cinco vezes por semana ao vivo. Depois tivemos sorte e conhecemos o nosso manager, que perguntou o que gostaríamos de fazer. Dissemos que queríamos ir para a Inglaterra e chegar à Europa, onde a boa energia está. Acabámos por fazer um documentário chamado “80 Shows In 100 Days que é sobre esse período de tempo. Era tudo novo para nós e enfrentamos o desafio.

O público português lembra-se bem da vossa energia em palco, nos festivais de Verão. Pessoalmente, fiquei imediatamente “agarrado” ao teu som de guitarra…
Desde aí [vimos os Vintage Trouble pela primeira vez no SBSR 2014, no Meco], algumas das coisas relativas aos amps mudaram um pouco mas, basicamente, é a mesma orientação: costuma ser dois amps a operar em stereo, quero dizer dizer, não é bem stereo, não uso os efeitos dessa forma, mas passei a usar um clone Marshall, da SoloDallas. Depois, claro não abdico dos amps tweed da Fender nem dos Lazy J’s. E, claro, uso a Fender Vibratone Leslie. A Fender fez essas colunas para guitarra no final dos anos 60, se não me engano e apaixonei-me por elas quando era um puto a ouvir Stevie Ray Vaughan. Tenho um velho Fender Bassman que alimenta a Vibratone.

É muita potência. Falaste no Stevie Ray, andas a planear tomar de assalto o som da banda?
[Risos] Não! Somos uma banda pouco ruídosa no palco. Posso ser bem barulhento, mas normalmente temos painéis plexi à nossa frente, no desenho de som. Não estamos nem perto da potência que o Stevie Ray Vaughan usava. Gosto de ter um tom orgânico na guitarra. Sabes sou um enorme fã do Jimmy Page. Nunca tinha tocado com um cabeço Marshall antes, mas a malta da SoloDallas construiu-me este espantoso Plexi de 50 watts e é um amp incrível.

Nas guitarras, recordo da Gretsch Electromatic e de uma Les Paul com um acabamento deslumbrante…
A Les Paul é um modelo Custom VOS (Vintage Original Specs)  que comprei aí por 2009, se me recordo… Os pickups são de uma cena alemã, a Crazy Parts. Têm feito pickups extraordinários, que realmente aprecio. É uma pequena marca, com apenas duas pessoas. Conheci um dos tipos em digressão e ele disse-me que deveria experimentar os pickups. Aí estão, até hoje. Têm um carácter muito vintage, não possuem muito gain. Como trabalho muito com o controlo de volume, posso puxar pelos amps e depois faço as dinâmicas com a guitarra. É isso!

Enfrentamos tempos de incerteza e a imprensa não é excepção. Ainda mais a imprensa musical que, como tantos outros, vê o seu sector sofrer com a paralisação imposta pelas medidas de combate à pandemia. Uns são filhos e outros enteados. A AS não vai ter direito a um tostão dos infames 15 milhões de publicidade institucional. Também não nos sentimos confortáveis em pedir doações a quem nos lê. A forma de nos ajudarem é considerarem desbloquear os inibidores de publicidade no nosso website e, se gostam dos nossos conteúdos, comprarem um dos nossos exemplares impressos, através da nossa LOJA.