Cinco Faixas Isoladas Provam Génio Baterista de Ringo Starr
Depois de Nick Mason, vamos falar de Ringo Starr, um dos génios (super subestimados) da música rock.
[Spoiler alert: antecipando eventuais controvérsias, o escriba deste artigo alerta desde já que considera Ringo Starr um génio da bateria. Sim, este senhor assinou incontáveis momentos geniais].
É sobejamente conhecido que o baterista dos Beatles foi, ao longo de muitos anos e com demasiada (e escusada) frequência, alvo de piadas pouco simpáticas. Rezam as crónicas que tudo começou quando o colega de banda John Lennon, quando questionado num programa de rádio sobre se Ringo Starr era o melhor baterista do mundo, respondeu: «Ele nem sequer é o melhor baterista dos Beatles…».
Ringo pode não ter sido um académico do instrumento. Não era particularmente dotado em termos de técnica. Mas tinha muitos dos argumentos necessários para ser um dos maiores: musicalidade, estilo, swing e respeito pelas canções. Aliás, como defendeu o próprio Paul McCartney na sua biografia autorizada “Many Years From Now”: «Keith Moon é o meu segundo favorito de todos os tempos. Ringo, Moon e John Bonham são os meus três bateristas preferidos. Não os melhores de um ponto de vista técnico, mas pelo sentimento, pelas emoções, que estiveram sempre presentes. Especialmente no caso do Ringo».
Não esqueçamos que Ringo Starr fez parte – só – da maior banda que o mundo alguma vez conheceu, contribuiu com alguns dos beats mais elegantes e cativantes de todos os tempos, e foi, durante muitos anos, um estranho à comunidade musical em geral, em boa parte graças à sua resistência a fazer solos. Na verdade, a sua recusa em adornar o seu estilo de tocar foi precisamente o que cativou o resto dos Beatles – snobismos à parte. McCartney lembra um episódio em que a banda encurralou Ringo e perguntou: «Então, e solos de bateria? Pensámos que ele diria: ‘Sim, farei um de cinco horas no meio do set’. Mas Ringo disse: ‘Odeio solos!’ E nós respondemos: Óptimo! Nós amamos-te!».
Outros reis da bateria, como Dave Grohl ou Questlove – que no vídeo final deste artigo podes ver a falar sobre o Beatle e a tocar no seu mítico kit da Ludwig -, também partilham o apreço pelo estilo de Ringo. No caso do ex-Nirvana, quando lhe foi pedido para escolher o melhor baterista de todos os tempos, respondeu, sem reservas: «Define ‘o melhor baterista do mundo’. Será alguém que é tecnicamente proficiente? Ou será alguém que se senta na canção com o seu próprio toque? Para mim, Ringo era o rei do tacto».
Ainda assim, historicamente, o nome de Ringo não tem o mesmo peso que os de John Bonham (Led Zeppelin), Ginger Baker (Cream), Neil Peart (Rush) ou Keith Moon (The Who). Em vez disso, continua sujeito a piadas. Para dissiparmos o mito, apresentamos cinco temas – até poderiam ser outros 30! – em que a bateria está isolada, e que ajudam a provar – se é que é mesmo necessário – que Richard Starkey é um dos génios subestimados da música rock.
“SHE SAID, SHE SAID” | Esta canção foi escrita por Lennon para o álbum “Revolver”, de 1966, numa altura em que os Beatles começavam a expandir o seu som. Descrita pelo autor como «uma canção ácida», a letra foi inspirada pelos comentários do actor Peter Fonda durante uma ‘trip’ de LSD em Agosto de 1965. É também uma canção controversa pelo facto de não incluir Paul McCartney, que alegadamente saiu das sessões de gravação depois de uma discussão sobre o arranjo do tema. Mas Ringo Starr mais do que compensa essa perda com uma sequência de padrões e preenchimentos interessantes e breaks psicadélicos bem ao seu estilo (único).
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“TICKET TO RIDE” | É uma canção pioneira, não só para os Beatles, mas para a música como um todo. Foi lançada em 1965, mas soa à frente do seu tempo. A proeza também se deve, em parte, ao trabalho gizado atrás do kit. John Lennon chegou ao ponto de proclamar que este clássico dos Beatles foi «a primeira gravação de heavy metal», apesar de muitas pessoas atribuírem essa etiqueta a “Helter Skelter”, lançada três anos antes. Em 1970, Lennon revelava: «A contribuição de Paul foi a forma como Ringo tocou a bateria». Este comentário indicava, no entanto, que Ringo estava sempre sob direcção. Embora isso até possa ser verdade, também é certo e sabido que à maioria dos bateristas é dada uma direcção semelhante. A diferença é que Ringo não só era capaz de alcançar o que era necessário, como ia mais além.
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“RAIN” | Em “Many Years From Now”, a biografia de Paul McCartney, Ringo revelou ao autor Barry Miles que a sua gravação favorita durante toda a sua carreira foi o b-side de “Paperback Writer”, a clássica canção “Rain”: «Sinto como se fosse outra pessoa a tocar. Estava possuído!». Era Ringo talvez no seu auge, apresentando um padrão e um estilo absolutamente único, absolutamente Ringo. «Estava metido na tarola e no hi-hat. Penso que foi a primeira vez que usei este truque de começar uma pausa, batendo primeiro no hi-hat em vez de ir directamente para uma peça fora do hi-hat. Acho que é a melhor de todas as gravações que alguma vez fiz».
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“COME TOGETHER” | O estilo pouco ortodoxo da bateria de Ringo proporcionou à banda alguns dos momentos mais memoráveis das suas canções. Veja-se, por exemplo, este clássico de John Lennon, escrito numa fórmula blues. A bateria de Starr neste tema é uma prova do seu estilo lacónico, oscilante e culto, uma vez que ‘toca com o ombro’, com alguns improvisos e preenchimentos únicos. É um estilo quase impossível de replicar, numa das melhores canções dos Fab Four. Aparentemente casual e no entanto sempre em controlo, o estilo de Ringo ofereceu sempre à banda um swing inigualável. Neste tema em particular, vem ao de cima o facto de Ringo ser um baterista canhoto a tocar num kit para destro, pois no pattern principal, começa com a mão esquerda no timbalão de chão para terminar no tom de rack. Lindo!
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“SOMETHING” | Terminamos com um hino intemporal. Para sempre recordada pelos comentários de Frank Sinatra como «a maior canção de amor escrita nos últimos 50 anos», “Something”, da autoria de George Harrison, é justamente considerada como uma das melhores que os Beatles alguma vez produziram. Também inclui um dos mais simples mas proeminentes beats que Ringo alguma vez tinha gravado. Na faixa isolada da bateria do clássico “Abbey Road”, é fácil ver o estilo único de Starr e como o seu toque de ombro levou a uma abordagem totalmente nova para os bateristas de rock ‘n’ roll, estabelecendo o padrão durante décadas futuras. E será esse, talvez, o maior feito de Ringo: inspirou literalmente milhões de pessoas a pegarem nas baquetas e a tocarem as canções dos quatro de Liverpool. As canções fáceis que, quando se começam a tocar na bateria, se percebe que Ringo Starr tinha o condão de as fazer soar fáceis.
Para terminar, vale sempre a pena ver este vídeo: