É português e já conquistou o mundo do metal com os seus vídeos
Chama-se Guilherme Henriques. É português. Tem 22 anos. Até aqui as informações são comuns a qualquer jovem, mas há uma diferença: este portuense realiza videoclips para bandas de metal de todo o mundo. E conquistou-as de tal forma que os pedidos para novos trabalhos não param de chegar.
Já realizou mais de 20 videoclips para várias bandas como Belphegor, Wormed, Grunt ou Noctem.
Os primeiros passos de um percurso internacional foi, inicialmente sair de Aveiro em direção à invicta para fazer a licenciatura em Comunicação Audiovisual e Multimédia da Universidade Lusófona do Porto. «Como qualquer jovem de 20 anos, por muitas ambições e sonhos que possamos ter, temos que ter os pé assentes na terra e enfrentar o mercado de trabalho e a realidade para lá dos muros da universidade, coisa que fui tentando atravessar ao longo dos três anos em que estive a estudar com vários projectos cinematográficos, artes performativas com a videoarte incorporada», explicou Guilherme Henriques à Arte Sonora.
A vontade estava lá, o trabalho foi feito e a sorte veio. Entre os vários projetos em que estava envolvido era uma proposta visual para os Belphegor. Estávamos no verão de 2014. A banda estava nesse momento a lançar um novo álbum. «Sonhador e talvez apenas com os dedos dos pés em terra, elaborei essa mesma proposta com um estudo de personagens, storyboard, testes de maquilhagem e algumas fotos de cenários possíveis para um novo videoclipe da banda», conta o realizador. Tentar não custa e, apesar de não ter resposta no imediato, mas cerca de um ano depois, em junho de 2015, o cenário muda: no momento em que acaba o curso (só a sorte alinharia assim agendas) chega-lhe uma notificação de um mail. Era o vocalista da banda a querer avançar com a proposta que o português lhe tinha enviado para promover a tour que iriam realizar nos EUA com Kataklysm.
Como qualquer jovem de 20 anos, por muitas ambições e sonhos que possamos ter, temos que ter os pé assentes na terra.
E a vida de Guilherme Henriques mudou. As viagens multiplicaram-se e o seu trabalho já chega a Portugal, Eslovénia, Itália, Espanha, Dinamarca, França, Suécia, Noruega, Alemanha, Taiwan e Austrália. A diversidade de línguas é colmatada por uma só linguagem musical: é que o realizador tem trabalhado apenas com bandas de metal. E engane-se quem pensar que os estereótipos do mundo do metal alastram-se aos seus videoclipes. «Muito pelo contrário! Claro que são comuns alguns estereótipos no mundo do metal como as caveiras, o sangue negro e as cicatrizes, mas o meu trabalho enquanto artista visual é oferecer outro tipo de quadros», garante à Arte Sonora.
Como? Guilherme Henriques argumenta que o seu trabalho é pensar (e depois executar) como funcionaria determinada música de uma banda ou músico no mundo da imagem. É nessa atmosfera que mergulha. «Esse é o meu trabalho: reunir as suas ideias, conceitos por detrás do álbum e delinear o ambiente visual dos mesmos. Nunca me senti limitado de alguma forma com nenhuma banda», esclarece. Criatividade e liberdade são os dois valores essenciais. Guilherme Henriques exemplifica: «Com os Belphegor tive toda a liberdade do mundo para poder ver a música à minha maneira. Decidi criar todas aquelas personagens fantásticas a que a imprensa decidiu chamar de ‘criaturas de pesadelos’. É a minha interpretação daquela música, daquele álbum e daquela banda que sigo há já vários anos, muito antes de ter tido a sorte de trabalhar com eles».
O meu trabalho enquanto artista visual é oferecer outro tipo de quadros.
Esse primeiro trabalho foi, como seria de esperar, «bastante especial». Lá fora, o realizador português destaca «o clip dos Wormed, onde explorámos todo o ambiente sci-fi que constitui a banda. O resultado a meu ver é bastante positivo visto que o Telmo Filipe fex um trabalho incrível na concepção 3D de todo o mundo que imaginámos previamente».
Em Portugal, até há uma queixa: «Destaco também um videoclip que a meu ver não teve a atenção que devia, que é o trabalho que desenvolvi com os The Last Day of Winter, uma banda de Post Rock portuguesa. Para mim, o que representámos naquela criação é um reflexo sobre os preceitos de beleza e o que a nossa sociedade aceita no papel e o que nossa sociedade aceita entre si. É também toda a dificuldade que muitas vezes temos em deixar cair aquela ‘máscara’. Aconselho a que todos vejam aquele trabalho pois para mim, tornou-se bastante pessoal e mostra uma linguagem diferente daquilo a que habituei muitas das pessoas que seguem o que faço», explicou à Arte Sonora.
Portugal aos olhos da lente internacional
O trabalho de Guilherme Henriques é visto e feito a quilómetros de Portugal. É no estrangeiro que está atualmente a visão deste jovem realizador, o foque e desfoque da câmara através da qual vê a vida, a indústria musical e o mundo dos videoclips. Mas a Arte Sonora desafiou-o a recentrar novamente essa visão para o país de onde partiu. «Já falei sobre isto com alguns colegas de trabalho e imprensa e mantenho o que digo à medida que os meses acontecem. Temos de nos adaptar às mudanças que ocorrem no panorama musical. Sermos puristas não nos leva a lado nenhum, principalmente se formos um artista musical ou um realizador de videoclipes», argumenta.
A imagem é aquilo que muitas vezes chega primeiro.
Nota-se pragmatismo no tom das resposta, talvez reflexo de uma conjugação de influências exteriores com mentalidades diversas. É, por isso, evidente na cabeça do jovem Guilherme Henriques que a mudança hoje opera a uma velocidade incrível, seja em que área for. Na música isso reflete-se ainda mais, não fosse este o “mundo da imagem“, apelida-o. “Uma boa sessão fotográfica, um bom artwork, um bom vídeo e uma postura e espectáculo pensados podem realmente fazer a diferença. Focarmo-nos apenas no membro musical quando todo o corpo de um artista de hoje em dia é composto por todas estas coisas, é preocupante de certo modo. Há todo um trabalho de pesquisa, comunicação e marketing que hoje em dia deve ser feito», aconselha.
Mas o jovem realizador também faz uma ressalva: «Concordo plenamente que muitos artistas achem que a música fala por si e que não precisam destas “aparências” para chegarem aos seus fãs. Concordo plenamente, até porque no final o que ainda interessa é se a música se entranha nas pessoas ou não». Contudo, não deixa de notar que, atualmente, «a imagem é aquilo que muitas vezes chega primeiro» aos ouvintes, uma espécie de paralelismo entre a velocidade do som e a velocidade da luz (imagem).
O que há no futuro de um jovem de 22 anos?
A carreira profissional é, em termos temporais, curta. O leque de videoclips já é consideravelmente longo e então o número de países onde são vistos arrasta a carreira a níveis internacionais. Mas a viagem continua e, por isso, Guilherme Henriques confessa que vão existir no futuro mais variações do seu trabalho, nomeadamente no videomapping – «uma área que me interessa bastante e em que me foquei durante algum tempo antes de tudo isto», conta.
No entanto, que a pressa não o atropele. Cautela e foco, avisa. «Para já, quero focar-me naquilo que tenho vindo a vincar: o meu nome enquanto realizador de videoclipes. É claro que tenho outras ambições mas provavelmente encontrarei uma forma de as incluir no meu trabalho de agora. Vou continuar a fomentar o lado cinematográfico nas minhas criações, cada vez mais», remata.
Para conheceres mais trabalhos consulta aqui o site do Guilherme.