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ENTREVISTA | Pierre Aderne: Rua das Pretas, da Sala de Estar Para os Coliseus [Vídeo]

ENTREVISTA | Pierre Aderne: Rua das Pretas, da Sala de Estar Para os Coliseus [Vídeo]

Nuno Sarafa
Miguel Grazina Barros

Entrevista com Pierre Aderne, luso-brasileiro nascido em França, homem de inúmeras histórias e talentos, músico e compositor que nos últimos anos tem agitado as noites de Lisboa com o colectivo e tertúlia musical Rua das Pretas.

Pierre Aderne, que também é Pedro no passaporte, nasceu em França. Filho de mãe brasileira ligada às Belas-Artes, viveu no Brasil e a cada dois anos viajava até Portugal para visitar a família do pai, um português que fez da Literatura a sua vida.

Em 2011, visitou o rectângulo luso para dar um concerto a convite de Luís Montez. E foi nessa viagem que se fez luz. Passou a conhecer ainda mais a fundo a música portuguesa para lá do fado e teve a ideia de fazer um documentário, “MPB: Música Portuguesa Brasileira“.

Alugou uma casa no Poço dos Negros e, domingo após domingo, reuniu artistas para cantar, beber e conversar. Tito Paris, Jorge Palma, Sara Tavares, Paulo Praça ou Luísa Sobral foram apenas alguns dos primeiros tertulianos. Um ano depois, terminava o documentário. Mas a paixão por Portugal aumentara. E o gosto pelos saraus culturais também. Acto contínuo, Pierre mudou-se para cá e hoje em dia já não se imagina viver noutro sítio.

Em 2015, inspirado nas tertúlias que Nara Leão e Tom Jobim faziam nas suas casas no Rio de Janeiro nos finais dos anos 1960, Pierre começou a juntar no seu próprio apartamento em Lisboa alguma da nata da música lusófona.

O convívio que nasceu numa sala de estar, entre guitarras, canções e amigos, várias garrafas de vinho e umas quantas pernas de borrego, rapidamente se transformou num sarau musical com data marcada e reserva obrigatória. A palavra foi-se espalhando. Ao mesmo tempo que ia aumentando o lote de ilustres convidados musicais. Pierre era agora um verdadeiro agitador da cultura lisboeta, o mentor de um laboratório de criação de um novo sotaque musical.

Entre fados, mornas, sambas, bossa, folclore, jazz e «conversas para uma audiência de colegas artistas, turistas e ciganos», o projecto começou na própria da Rua das Pretas, em Lisboa, tendo depois passado para um palacete no Príncipe Real. Ao todo, foram mais de 40 semanas consecutivas a espalhar magia. A tertúlia havia de migrar entretanto da sala de estar para uma residência artística de concertos no Coliseu dos Recreios.

Entre os convidados passados contam-se Tito Paris, Anna Maria Jopek, Pedro Miranda, Pedro Luis, Joana Amendoeira, João Barradas, Walter Areia, Jesse Harris, Brian Cullman, Tanner Walle, Gabrielle Hartmann, Fred Martins, Liz Rosa, Camila Masiso, Nilson Dourado, Diana Vilarinho, Liliana Macedo, Philippe Baden Powell, Didier Sustrac, David Linx, Joana Almeida, entre muitos, muitos outros. Rua das Pretas cresceu tanto que acabou por se tornar uma série televisiva de 12 episódios – transmitidos em pleno confinamento pela RTP1.

Íamos fazer isto no palacete do Príncipe Real durante três semanas e acabámos por ficar lá três anos

Agora que a normalidade se vai restabelecendo, Pierre Aderne volta a levar a Rua das Pretas aos palcos dos Coliseus, com público, preparando ainda uma digressão nacional de norte a sul do país.

Este é um espectáculo que festeja a lusofonia, a música cantada em português, reúne músicos e artistas com as mais variadas origens e celebra-se com direito a um copo de vinho que todos os espectadores recebem no dia do concerto, de forma a que se sintam como se estivessem em casa.

Neste concerto do Coliseu do Porto (no próximo dia 7 de Abril), para além dos artistas residentes da Rua das Pretas, haverá ainda a participação especial de Marcelo Woloski dos Snarky Puppy, entre outras surpresas, com música cantada e contada e em que a intimidade é o guião. No espectáculo do Porto, o Coliseu vai transformar-se numa arena, com a Rua das Pretas a tornar a mítica sala num Circo de música.

O alinhamento contará com músicas do inconsciente colectivo do cancioneiro lusófono, além de canções compostas por Pierre Aderne para artistas como Seu Jorge, António Zambujo, Melody Gardot e outras dos seus duetos com Jorge Palma, Tito Paris, Gisela João, Rita Redshoes, Sara Tavares, Delfina Cheb, Cuca Roseta, entre outros.

Lisboa trouxe um novo sotaque à música cantada em português

A juntar a tudo isto, Pierre Aderne tem ainda um novo álbum acabado de editar, “Vela Bandeira”, e que vai também ser apresentado neste espectáculo do Coliseu do Porto. É o sétimo álbum a solo de Pierre, tem selo da Mestre Sala, e conta com a participação especial da cantora argentina Delfina Cheb no já lançado single “Com Vista Pro Mar – Um beijo” e das cantoras brasileiras radicadas em Portugal e Suíça, Karla da Silva, Nani Medeiros, Camila Masiso e Dandara Modesto.

Gravado em Lisboa no estúdio Namouche e no B Studio em Nova Iorque, “Vela Bandeira” conta ainda com participação dos músicos Nilson Dourado, Walter Areia, João Pita, Thiago Da Serrinha, Marcelo Woloski (Snarky Puppy), Augusto Brito e Jair Oliveira.

As 12 canções foram escritas ou co-escritas por Pierre Aderne e por alguns dos seus parceiros compositores habituais, incluindo o lendário ícone do samba Moacyr Luz, e ainda Francis Hime, Gabriel Moura, Pedro Da Silva Martins (Deolinda), Fred Martins e Melody Gardot.

Assiste à entrevista completa de Pierre Aderne à Arte Sonora.