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EXCLUSIVO | Alexandre Frazão Descodifica John Bonham, “Kashmir”

EXCLUSIVO | Alexandre Frazão Descodifica John Bonham, “Kashmir”

Nuno Sarafa

Estivemos no estúdio Bandido Sessions com Alexandre Frazão, que se sentou atrás da sua Ludwig Vistalite azul de 1976 para tocar e falar sobre algumas das mais emblemáticas canções do seu herói John Bonham. Neste episódio, “Kashmir”, do álbum “Physical Graffiti”.

Quando se fala de bateristas, por cá, há um nome que surge de imediato. Indiscutível: Alexandre Frazão. Nascido em Niterói, Rio de Janeiro – onde estudou no Conservatório -, mas radicado em Portugal desde 1987, Frazão é daqueles bateristas multifacetados e de excelência, requisitado por músicos de vários quadrantes.

Do jazz à música tradicional portuguesa, passando pela improvisada ou pelo pop/rock, Frazão é daqueles músicos que recorrem, de um modo incrivelmente inventivo, a vários recursos do instrumento bateria. A sua expressão é normalmente muito elástica, com apurado recorte técnico e gosto refinado, quer em termos de ritmo, quer em termos de textura, abordagem ou som.

Diz-se fã de Jimmy Page, Stan Getz, Ornette Coleman, Tony Bennett, Chris Cornell e Hermeto Pascoal e, na bateria, de nomes como Keith Moon, Roy Haynes, Dave Grohl, Dave Lombardo e, claro está, John Bonham. Não é por acaso que, juntamente com Paulo Ramos, Zé Nabo, Manuel Paulo e Mário Delgado, fundou os Led On, banda de tributo aos Led Zeppelin. E também não foi por acaso que, na edição impressa #63 da nossa revista em que recordámos os 40 anos que passam da morte de John Bonham, o chamámos a estúdio; não só para interpretar temas dos Zeppelin, mas também para falar sobre a influência que Bonzo exerceu, e ainda exerce, na carreira deste prolífico baterista.

Alexandre Frazão chegou ao estúdio Bandido Sessions, em São João da Talha, com várias hardcases vintage, das quais saiu uma Ludwig Vistalite azul, de 1976, lindíssima e em óptimo estado, com direito a gongo e tudo. Como mandam as regras. Afinal, o propósito do encontro matinal era ver e ouvir Frazão dar uma autêntica master class em torno da arte de John Bonham.

No episódio anterior, Frazão abordou “The Wanton Song”. Se pudéssemos, teríamos ouvido, tocado, falado e dissecado todos os temas dos Led Zeppelin, mas não era possível. Tínhamos de fazer escolhas. Uma delas foi “Kashmir”, que podes disparar no player, depois de leres o contexto deste beat.

«Saquei isto de uma versão ao vivo. Ao vivo, as coisas ganham outra dimensão, crescem, muitas vezes até ficam melhores. Penso muito nisso, quando me acontece. «Ah, agora é que eu devia gravar o disco. Agora é que eu sei». Vi uma entrevista do Jimmy Page, no “It Might Get Loud” [documentário de 2008 que junta Jack White, The Edge e Jimmy Page], a dizer que este tema estava no final de uma cassete. Nem iam aproveitar o riff, mas acharam tanta graça ao tema que aproveitaram. O Bonham veio com um groove 4/4, straight. A figura [rítmica da guitarra] é de 3 notas sempre a rodar. Às vezes calha certo com o 4/4, mas outras vezes está fora. Outro baterista qualquer escolheria outra coisa não tão mágica, não sei. O riff da guitarra com três notas e a bateria sempre em 4/4… É muito giro, é mais uma ideia incrível. A canção ganha logo uma identidade própria».

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