JSBX, Guitarras e Amps Beras
Hoje parecerá estranho dizê-lo mas, em 1991, um trio como o que Jon Spencer, Judah Bauer e Russell Simins, criaram era muito pouco convencional. No sentido formal e experimental.
Recordando o sitz im leben musical da época. Em 1991, as mega produções de rock, em estúdio e nas tours em estádios, ainda comandavam o mainstream. Como exemplo maior, em Maio de ’91 os Guns N’ Roses iniciaram a gigantesca digressão Use Your Illusion Tour, e os álbuns duplos viriam a ser editados em Setembro. Muito pouca gente queria ouvir o som cru de uma guitarra ou a mesma infestada de fuzz. Nessa altura os Black Keys, se já existissem, não viriam encimar um festival de massas ao Passeio Marítimo de Algés, mas a uma sala pequena como o Sabotage ou o Stairway Club. E mesmo assim…
Em Nova Iorque, três tipos estavam-se borrifando para isto. Embrenhados no submundo do noise rock, Spencer, Bauer e Simins criaram o seu som e deram-lhe o nome do primeiro. Sujeira e pureza, rock n’ roll e blues. As primeiras gravações foram fruto de sessões experimentais com dois gurus da música alternativa, Kramer e Steve Albini. The Jon Spencer Blues Explosion foram pioneiros no impensável: tornar o blues… punk!
LÊ A REVIEW AO RECENTE ÁLBUM “FREEDOM TOWER”
Se amanhã se irão tornar numa banda de culto, ontem estiveram em Portugal, em 2005 no Vilar de Mouros e 2012 na sala TMN e no Hard Club. Continuam a borrifar-se para o mainstream e regressam ao nosso país da forma que merecem, a um palco de culto no Reverence Valada. A fúria eléctrica da banda será um dos grandes atractivos do cartaz desta segunda edição. Olhamos as ferramentas da descarga…
Jon Spencer usa duas guitarras tão exóticas quanto escavacadas. Dois modelos japoneses, as Zim-Gar. Na verdade, o nome mais comum destas guitarras é Teisco, guitarras construídas nos primórdios da fábrica de Fujigen (que atingiria o seu zénite quando, nos anos 80 recebeu as honras de produção dos modelos Squier e dos modelos Fender de gama mais baixa). Muitos destes modelos de 2 pickups, os EJ-2, construídos nos anos 60, foram vendidos com o nome “Demian” e foi na sua importação para os Estados Unidos que foram baptizados por “Zim-Gar”, “Lindell” ou “Tulio”.
A sua configuração de amplificação mais comum conta com um Peavey Bandit 65, e uma monstruosa cabeça Kustom 200 B-4 de 200 watts, ligada a uma coluna Vox 2×12.
No meio, Russel Simins é um portento de baterista e possui um gosto por material bem vintage também. Será provável que o músico use um modelo alugado e cá nunca vimos um modelo da marca de bateria que usa. Falamos das Slingerland. Hoje a marca está integrada na Gibson mas, nos seus anos dourados, ressoava sob o prodigioso beat do uber lendário Gene Krupa. As baterias Slingerland começaram a sofrer o ocaso quando as Ludwig surgiram a ser tocadas por Ringo Starr ou John Bonham e a estabelecer o som de uma outra era. No final da década de 70, Neil Peart era o último ilustre a usar um modelo Slingerland, mas o baterista ainda estava longe do reconhecimento que veio a granjear até aos dias de hoje.
Judah Bauer usa Telecasters. Simples? Nem por isso, as Teles do músico não correspondem a qualquer modelo de catálogo. Qualquer uma das duas, pelas quais se faz, normalmente, acompanhar (uma com afinação standard e outra em Open G), é composta por vários componentes de vários modelos Tele. A construção das várias peças ganha vida nas mãos do luthier Norio Imai. Isto porque o guitarrista possui uma Tele de ’65 que não ousa trazer à rua, mas cujo som deseja ter nos concertos.
1965 foi um dos anos mais marcantes da Fender. Nesse ano, Leo Fender vendeu a marca ao colosso de comunicação CBS. Diz-se que por qualquer coisa a rondar os 13 milhões de dólares. Mais 2 milhões do que custara à empresa adquirir os míticos New York Yankees no ano anterior. A Columbia Broadcasting System acabaria por quase arruinar para sempre a Fender, mas aquelas primeiras guitarras, construídas com uma recuperação de componentes “perdidos” em inventários, foram qualquer coisa. Com sorte, poderia ter-se um corpo da era Esquire primordial…
Para lhes dar volume, Bauer recorre preferencialmente a um Fender Twin de ’61 e a um Deluxe de ’59. O altifalante no último é um JBL E120, para conseguir maior headroom e maior corpo de graves.