Mogwai, synths vintage e canções
Os Mogwai e o recente “Rave Tapes” a encimar uma discografia de 20 anos.
O guitarrista Stuart Braithwaite confessou-nos alguma dificuldade em cantar o tema “Blues Hour”, uma das poucas canções convencionais de uma banda que acabou por se tornar num estandarte do shoegaze, post rock ou rock alternativo. Uma soma de categorizações que a banda não recusa, mas na qual procura não estagnar.
Barry Burns pode não ter estado na fundação da banda, mas o multi-instrumentista passou a ter um papel determinante na sua sonoridade quando se juntou ao colectivo na antecâmara de “CODY”, o segundo LP dos escoceses. E neste disco terá sido mais determinante que nunca.
Na altura, na antecâmara da edição do álbum, falámos com Braithwaite…
Concordas com a ideia de que os três álbuns anteriores estabeleceram uma sonoridade que o “Rave Tapes” procura agora, à falta de melhor termo, revolucionar?
É uma observação tão válida como qualquer outra. Não concordo totalmente, mas percebo o que referes. É sempre bom tentar fazer coisas diferentes com a tua música, sempre com a intenção de fazer boa música, com elementos interessantes. Se o consegues, é um tremendo bónus.
Falando de novos elementos e recordando como se apaixonaram pelo piano em “Mr. Beast”. Este álbum mostra uma paixão por sintetizadores vintage?
Diria que sim. O Barry [Burns] comprou alguns sintetizadores modulares, alguns bastante velhos, e ouviu bastante desse tipo de música.
Acabaram por ser uma influência decisiva na composição?
Sim. Até porque adicionam elementos de imprevisibilidade. Têm a sua forma muito própria de acção, não permitem um controlo exacto. Na gravação em si não é algo tão decisivo, pois a música já está lá, mas implica alguns desafios diferentes na mistura.
É sempre bom tentar fazer coisas diferentes com a tua música, sempre com a intenção de fazer boa música, com elementos interessantes. Se o consegues, é um tremendo bónus.
Contam com, praticamente, 20 anos de estúdio. Já cristalizaram um tipo de metodologia ou tentam sempre coisas diferentes?
Estes anos acabaram por nos dar uma grande discografia e, mesmo que não a oiçamos exactamente, ela está sempre presente, pois tocamo-la ao vivo. Está sempre no subconsciente. É natural que vás experimentando coisas diferentes, mesmo ao vivo. Aprendes com os teus erros. Em estúdio, não vais inventar a roda, mas experimentas outros tipos de captação ou assim. Também gostamos de gravar com alguma pressão e improvisamos muitas partes em estúdio.
Com o vosso próprio estúdio [Castle Of Doom Studios] poderia pensar-se que, na verdade, estruturavam tudo na pré-produção…
O nosso estúdio é também um estúdio “comercial”, acabamos por trabalhar lá pouco, só quando não está agendado. Trabalham muitas bandas lá, na verdade há bandas que estão lá mais tempo que nós [risos].
Já tivemos outras canções “clássicas” em outros discos, não se trata simplesmente de ter a voz e ser cantada, mas esta acaba por se destacar mais por ter isso, admito.
É inevitável falar de “Blues Hour”. Foi muito difícil fazê-la? É uma canção que deixa uma sensação de Nick Drake…
Foi um pouco. Não estava muito confiante, mas o resto da banda gostou bastante. Esse é um grande elogio, pois sou um enorme fã de Nick Drake. Já tivemos outras canções “clássicas” em outros discos, não se trata simplesmente de ter a voz e ser cantada, mas esta acaba por se destacar mais por ter isso, admito.
Ao longo destes anos, quão grande se tornou a tua pedalboard?
Acabou por tornar-se bastante grande [risos]. Foi mudando ao longo dos anos, mas há coisas que nunca deixei de usar, como o Boss DD-20 ou o Big Muff. Sempre usei esses. Não creio que vá tornar-se maior. Aliás, acabei por descobrir que, na verdade, não usava alguns dos pedais que tinha e reduzi-a um pouco.
E amps?
Uso sempre um Fender Twin e acrescento ou um stack Orange ou Marshall, acho que me dão mais volume.